Só há presente
Pedro J. Bondaczuk
O que é o tempo? É mera
abstração. É uma convenção humana para medir o quanto a Terra
(que tem o formato arredondado, mas não exatamente de uma bola, mas
o que lembra a forma de uma pêra) leva para dar uma volta completa
em torno do seu eixo imaginário. E, no entanto... ele é tão
concreto! A criação desse conceito foi o maior avanço da mente
humana em termos de racionalidade. Trata-se de um prodígio de
abstração e que, no entanto, tem efeito tão real nas ciências,
notadamente na Física!
De acordo com a Teoria da
Relatividade, de Albert Einstein, espaço e tempo estão
interligados. São indissociáveis. Têm que ser considerados,
sempre, um em função do outro. O eminente físico concluiu que, em
velocidades próximas à da luz, por exemplo, a massa de determinado
corpo aumenta de forma perceptível. Em contrapartida, o espaço se
contrai e o tempo passa mais lento.
Há cientistas que entendem
que a única forma do homem explorar outros mundos é construindo um
artefato que tenha velocidade próxima à da luz. E arranjar uma
forma, claro, do ser humano suportar isso, o que, convenhamos,
concretamente, raia o impossível. Enfim... Quem, sabe?!
Devemos a sir Isaac Newton o
conceito de “tempo absoluto”, ou seja, o que flui, constante e
uniformemente. Para ele, portanto, trata-se de algo “real”, posto
que abstrato. Como entender esse paradoxo? Para a ciência, só
existe o que se pode demonstrar em laboratório e repetir a
demonstração quantas vezes se quiser. E Newton argumenta que o
tempo é “demonstrável”. E mais, que é matematicamente
mensurável. Portanto, no seu entender, é real.
Para Einstein, todavia,
conforme destaquei, ele é apenas “relativo”: pode ser “sentido”,
mas o é de maneiras diferentes por diferentes pessoas. Já o
sociólogo e filósofo Norbert Elias considera que esse conceito é,
mesmo, mera abstração, mero símbolo social que não pode ser
encarado como dado objetivo. Com quem está a razão? Com todos? Com
nenhum? Com algum desses pesquisadores? Se a resposta for a última,
com qual deles?
Tão complexo quanto o tempo,
é sua subdivisão, em passado, presente e futuro. Nenhum tema
suscita mais profunda reflexão do que este, sem que cheguemos à
mínima conclusão. Como exercício mental, de raciocínio e
abstração, é insuperável. Entendo que seja saudável refletir
sobre o assunto, para ampliar o alcance da nossa mente.
Alguns pensadores, por
exemplo, asseguram que o “presente” não existe, tão rápida é
a sua passagem. Como mensurá-lo? A fração infinitésima de segundo
que estou vivendo agora, mal me dou consciência dela, já é
passado. No instante em que a registrei neste texto, na telinha do
meu computador, já havia se escoado há uma “eternidade”, ou
seja, há uns dois ou três segundos. A que está imediatamente à
frente, mais veloz do que a luz, é o futuro. Como, pois, captá-la?
Norbert Elias afirma, a
propósito: “As expressões ‘passado’, ‘presente’ e
‘futuro’, apesar de também designarem o caráter anterior ou
posterior dos acontecimentos, são simbolizações conceituais
relativas a relações não-causais... O que constitui o passado
funde-se sem ruptura com o presente, assim como se funde com o
futuro. Podemos ver isso com clareza quando o futuro transforma-se,
por sua vez, em passado. É somente na experiência humana que se
encontram essas grandes linhas demarcatórias entre ‘hoje’,
‘ontem’ e ‘amanhã’”.
A maioria, contudo, nega que
exista um presente. Para quem pensa assim, só há passado, este,
sim, possível de ser constatado, por sua infinita extensão. Em
compensação, o filósofo alemão, Arthur Schopenhauer, afirma
exatamente o contrário do que asseguram esses doutos pensadores. Ou
seja, que só o presente existe.
E no que fundamenta essa
ousada afirmação, remando contra a maré? Noutra abstração,
claro. Afinal, estamos tratando de conceitos, ou seja, de matéria
abstrata. O filósofo alemão diz o seguinte, no livro “O Mundo
como Vontade e Representação” (citado, por sua vez, por Jorge
Luiz Borges em outro livro, “História da Eternidade”): “A
forma de aparecimento da vontade é só o presente, não o passado
nem o futuro: estes só existem para o conceito e pelo encadeamento
da consciência, submetida ao princípio da razão. Ninguém viveu no
passado, ninguém viverá no futuro: o presente é a forma de toda a
vida”.
E você, paciente e fiel
leitor, já pensou a respeito? Chegou a alguma conclusão? Qual? Eu,
da minha parte, não tenho a menor ideia
(nem mesmo por intuição) com quem possa estar a verdade. Mas já
que tratamos de tantos paradoxos, paradoxalmente me arrisco a afirmar
que todas as partes têm razão. Até que se prove o contrário,
claro.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment