Por reformas políticas
Pedro J. Bondaczuk
O atual sistema político
brasileiro está cheio de distorções, que ficaram ainda mais
evidentes ao longo da atual campanha eleitoral, encerrada na
sexta-feira. Muita coisa errada deveria e poderia ser consertada na
revisão constitucional, caso o Congresso cumprisse o seu dever e
empreendesse essa tarefa. Não empreendeu.
Prevaleceu o corporativismo e
tudo ficou para uma próxima oportunidade, talvez para as "calendas".
Espera-se, porém, que não. A expectativa é a de que essas reformas
ocorram logo, já no início da Legislatura que vai começar em
fevereiro de 1995.
Por exemplo, falta uma
legislação permanente, que estabeleça regras válidas e coerentes
para todas as eleições. A cada pleito, surge um novo elenco de
normas, infelizmente cada vez mais imperfeitas. A legislação
estabelecida para a votação deste ano não é exceção. Apenas
veio confirmar a regra. Apresenta muitas deficiências e as campanhas
que se encerram apenas não foram conturbadas graças ao trabalho
competente e louvável da Justiça Eleitoral.
Outro fator complicador na
vida política brasileira é a grande facilidade que há para a
formação de partidos. Daí a razão dessa inflação de siglas, que
pouco ou nenhum significado possuem, salvo quatro ou cinco
agremiações tradicionais, assim mesmo passíveis de reformas.
A própria estrutura
partidária no Brasil está viciada. Sente-se que estes grupos não
representam correntes de pensamento da sociedade. Não passam de mera
formalidade para que aqueles que pretendem entrar na vida pública
possam lançar candidaturas.
Nossos partidos não têm
ideologia, doutrina e nem objetivos definidos, que não sejam a busca
do poder pelo poder. Seus programas são verdadeiras peças de
ficção, utópicos e irrealistas, que acabam não sendo levados a
sério pelos próprios membros. Existem apenas para constar. Talvez
nem seus próprios líderes os conheçam. Os partidos brasileiros não
se enquadram sequer na definição do próprio termo. Seu
funcionamento e estrutura dão à palavra a conotação de "divisão",
de "fracionamento" e não de "corrente de pensamento".
Para complicar, não há
nenhuma obrigatoriedade, nem mesmo ética, de seus membros guardarem
a fidelidade partidária. Nossa vida política, portanto, não gira
ao redor de princípios, de ideias ou de programas. É tratada como
se fosse mero jogo e nada mais. É balizada, sobretudo, pelo
fisiologismo, pelo oportunismo, pela busca única e exclusiva do
poder, a qualquer custo, mesmo que seja preciso passar por cima da
ética.
O parlamentar eleito por um
partido pode trocar de legenda na hora em que quiser. Nada lhe
acontece. Esse "troca troca" ostensivo propicia a prática
da compra e venda de filiações, estimulando a corrupção no
Congresso e a descaracterização do próprio exercício da
representatividade.
Claro que as falhas não são
apenas estas, que se mostram, no entanto, as mais evidentes. Daí os
políticos não poderem reclamar da péssima imagem de que gozam
junto à população. Não se trata, é evidente, de mal sem remédio.
Fala-se tanto em mudanças no País, mas pouco, ou nada se faz para
mudar algo de tão elementar.
As soluções são simples e
até óbvias. Passam, por exemplo, pela edição de uma legislação
eleitoral permanente, por critérios rígidos para a formação de
partidos, pelo restabelecimento da fidelidade partidária e pela
instituição do voto distrital, que permita aos cidadãos uma
fiscalização mais rigorosa e permanente sobre aqueles que detêm a
responsabilidade de os representar, conferida nas urnas, mediante
esse "instrumento de procuração" que é o voto.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de setembro de 1994).
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