Por
que escrever?
Pedro
J. Bondaczuk
Vezes
sem conta inúmeras pessoas me fizeram uma mesma e recorrente
pergunta (que, ademais, fiz a mim mesmo “n” vezes) e concluo que
essa questão específica comporta uma infinidade de respostas,
algumas convincentes e outras nem tanto que, lembro, já dei em
várias ocasiões e que ouvi e li de terceiros. E qual é este
questionamento tão insistente, a respeito do qual já redigi
considerável quantidade de textos, que pressupõe a definição de
um objetivo? É “por que” escrever? Observe-se que se trata de
pergunta que suscita, automaticamente, algumas outras,
complementares, tais como: o que escrever? Quando? Como? E para quem?
Anne
Frank – a frágil e esperta garotinha judia que redigiu um diário
relatando o drama de seu confinamento, durante a Segunda Guerra
Mundial, afirmou, antes dela e de sua família serem capturadas por
soldados nazistas e encaminhadas a um campo de concentração onde a
menininha sensível e observadora acabou executada – disse que
escrevia para “não se asfixiar completamente”. Fazia-o,
portanto, como um desabafo. Nunca lhe passou pela cabeça que seu
diário de adolescente viria a se constituir em preciosa peça
literária.
Já
para a contista neozelandesa Katherine Mansfield (pseudônimo de
Kathleen Mansfield Beauchamp), que inscreveu seu nome na literatura
de ficção nas primeiras décadas do século XX, uma das várias
razões que a levavam a escrever era para “declarar seu amor”,
pressupondo, pois, que tinha alguns outros motivos que, todavia, não
declinou quais eram. Outros escritores, se não explicaram o “por
quê”, revelaram o que colocar em texto, além de como e quando,
entre outros.
Mariano
José Pereira da Fonseca, mais conhecido por seu título
nobiliárquico de Marquês de Maricá, por exemplo, garantiu que
escrevia porque era “mais seguro” escrever do que falar. E
justificou: “Falando, improvisamos, mas para escrever refletimos”.
Convenhamos, a improvisação é o caminho mais curto para o erro e
para cometermos contundentes disparates verbais, que nos expõem ao
ridículo, por falta de reflexão. É certo que nem todo redator
reflete (mas deveria) antes de produzir seus textos. Mas… O artista
plástico Wesley D’Amico, criador da menor bandeira brasileira que
há, concordou, por sua vez, com o Marquês de Maricá, mas apenas em
parte. Tanto que recomendou: “Não escreva tudo que pensa, mas
pense antes de escrever tudo que acredita ser bom para ler”. Não
deixa de ser um conselho sensato, não é mesmo?
Já
a motivação de Clarice Lispector é um tanto parecida com a minha,
posto que eu sou um tantinho mais vaidoso do que ela. A escritora
ucraniana, mais brasileira contudo do que muita gente que nasceu
neste País, confidenciou em um de seus livros (não me recordo
qual): “Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e
cantando, às vezes chorando”. Pois é. No meu caso, também sou o
“meu leitor preferencial”, embora pretenda que não seja o único,
mas um de milhões, de bilhões, o tanto quanto for possível.
Poderia
citar centenas de outros escritores que abordaram, de uma maneira ou
de outra, o tema, mas não o farei, até por causa da limitação de
espaço. Mas de todos os que pesquisei, para fundamentar estas
reflexões, destaco o que Fernando Pessoa declarou a propósito. O
genial escritor dos heterônimos assim se manifestou a respeito:
“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de
ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes
vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira,
porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas,
contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas
visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana
Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso”. Genial, não é mesmo?!
E
você, amigo leitor, que volta e meia ensaia seus textos, em prosa e
verso, de ficção e não ficção, por que escreve? Como o faz?
Quando os redige? O que coloca no papel ou na telinha do computador?
A quem destinha sua produção? Como você vê, devolvo-lhe a
pergunta que me fez (ou que, se não fez, pretendeu fazer). É certo
que este meu bla-bla-blá não vai fazer a cotação do dólar
baixar. Mas, convenhamos, não deixa de ser um tema oportuno para
reflexão. Ou não?!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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