Qual
é o símbolo contemporâneo do Natal?
Pedro
J. Bondaczuk
Querido
leitor, responda depressa, sem vacilar: “Qual é o símbolo do
Natal em nosso tempo, o do século XXI. Mas o que é de fato, aquele
que pessoas do mundo globalizado (e ferozmente materialista)
identificam, mesmo que não admitam, por motivo que só eles sabem?”.
Se você for cristão praticante (e, convenhamos, os que praticam, de
fato, sua religião, são minoria) responderá (nem sei se com
convicção): “Ora, é o menino Jesus, claro!”. Os hipócritas,
certamente, darão essa resposta, mesmo não acreditando nela. Dois
terços da humanidade (estimadas 2,5 bilhões de pessoas que afirmam
professar o cristianismo), por um motivo ou por outro (ou acreditando
mesmo nisso, ou querendo posar de santinhos), dirão que o símbolo
do Natal é o menino Jesus e ponto final. Claro que deveria ser. Mas
é? Infelizmente... não é!!!
No
mundo globalizado do século XXI, desde meados do século XIX, a data
máxima da cristandade, há já bom tempo, tem dupla conotação.
Para uma minoria, que cada vez aumenta mais, o Natal é eminentemente
religioso. Já para a imensa maioria, ou seja, para estimados 5,1
bilhões de não-cristãos (dos quais cerca de um bilhão e cem
milhões ou são ateus, ou agnósticos, ou não professam nenhuma
religião específica), o símbolo do Natal não é o menino Jesus. É
um tal de “Papai Noel” (que também o é para milhões e milhões
de cristãos quando estes encaram o evento pelo seu aspecto, digamos,
“profano”). E não se trata, diga-se de passagem, do bispo
católico de Mira, na Turquia, do século III da nossa era, conhecido
como São Nicolau (ou como Santa Klaus, ou Sinterklaas, não
importa), como muitos pensam (erroneamente), que se notabilizou pelo
hábito de dar presentes.
Esse
Papai Noel de que os pais do mundo inteiro se fantasiam nos dias 25
de dezembro de cada ano para presentear seus filhos pequenos, esse
que se vê nas lojas e shoppings do mundo globalizado atraindo
meninos e meninas para que convençam papais e mamães a comprarem,
comprarem e comprarem sobretudo o supérfluo, é relativamente
recente. Ocupa o imaginário popular ha três ou quatro gerações,
se tanto. “Nasceu” nos Estados Unidos. É fruto da imaginação
de um desenhista alemão, Thomas Nast, que vivia nos EUA, e que
publicou seu desenho, em 1881, na revista “Harper’s Weekly”.
Duvido que lhe passasse, mesmo que remotamente, pela cabeça que o
personagem que inventou faria tanto sucesso, ao ponto de se tornar
mais popular, por exemplo, do que os Beatles, e no mundo todo.
De
início, aquele Papai Noel original não se parecia nem um pouco com
o atual. Assemelhava-se, na verdade, a um gnomo minúsculo, baixinho,
em uma floresta. Não era gordo e nem se trajava de vermelho. Nast,
todavia, foi, aos poucos, de um Natal para outro, melhorando seu
desenho. Não tardou, por exemplo, para que o velhinho original
ganhasse uma barriga protuberante, a altura atual e a imensa barba
branca. Mas seu traje, por cinquenta anos, tinha as cores mais
variadas. Só passou a ser vermelho a partir de 1931, quando a
agência publicitária Haddon Sundblom, contratada pela Coca-Cola,
“padronizou” a figura do “bom velhinho”. E criou todo um
cenário imaginário em torno desse “garoto-propaganda” (mais
correto seria dizer “ancião-propaganda”) do ultraconhecido
refrigerante.
Originalmente,
na concepção de Thomas Nast, seu criador, Papai Noel vivia no Polo
Norte, de onde se deslocava no Natal para presentear as crianças que
tivessem bom comportamento. Todavia, um locutor de rádio finlandês,
Markus Rautio, acrescentou novo ingrediente à versão moderna, que
prevalece até hoje. Revelou, em 1927, que Papai Noel, na verdade,
não vivia no Polo Norte, como se dizia, mas na Lapônia, uma das
regiões mais remotas e mais gélidas da Finlândia. Ali, manteria
sua fábrica de brinquedos, tendo como mão de obra um punhado de
duendes artesãos. As entregas, ao redor do mundo, eram feitas em um
trenó mágico, puxado por nove renas voadoras. E estas tinham nomes
que, em português, eram (ou são, pois a tradição subsiste) os
seguintes: Rodolfo, Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa,
Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago.
E
como Papai Noel faz para encontrar as casas específicas para deixar
seus presentes, neste mundão imenso, sem se perder no caminho? Como
se guia e nunca se perde, vá para que país for? Ocorre que uma das
renas, a que se chama Rodolfo, tem o nariz vermelho, que é uma
espécie de luz mágica, que guia o obeso ancião nas noites de Natal
e, assim, ele nunca se perde. Uma constatação, todavia, faz-se
necessária. Como ressaltei, no final de uma das tantas crônicas
natalinas que redigi (não lembro qual), pouco a pouco, a
globalização vai surtindo efeito nas novas gerações. O Natal,
mais e mais, perde suas características religiosas e se consolida
como festa profana, a exemplo do Carnaval e de tantas outras
manifestações populares. Cada vez menos crianças acreditam, ainda,
em Papai Noel. E as que acreditam nele, são cada vez mais novinhas.
Não
é fácil tapear meninos e meninas deste século XXI que, aos seis
anos de idade, já sabem operar computadores, têm celulares e
frequentam redes sociais (Facebook, Twitter, Instagram etc.). Algumas
já têm até páginas no Face ou canais no Youtube. Ainda assim, a
tradição se mantém. Não descarto, no entanto, que esse Papai Noel
seja, em alguns anos, “modernizado”. Em vez do trenó, talvez se
desloque em um jatinho, por exemplo. Nesse caso, as renas voadoras
acabarão aposentadas. Não faço juízo de valor, a propósito,
somente constato um fato. É certo? É errado substituir o menino
Jesus por Papai Noel? Cabe a você, paciente leitor, julgar. A você
e às gerações que o sucederão. A realidade é que, não somente o
menino Jesus, como o generoso bispo de Mira, cedem espaço,
paulatinamente, ao ex-ícone da Coca-Cola, ao rechonchudo e
estilizado “bom velhinho” made in USA, até que um dia todas
essas figuras, sagradas ou profanas. venham a se apagar de vez dos
corações e mentes das futuras gerações, talvez de 2050, ou de
2100 ou de 2200. Será que se apagarão?! Tudo indica que sim.
Enfim... FELIZ NATAL a todos que me honram com sua leitura!!!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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