Tuesday, December 05, 2017

Responsabilidade desnecessária

Pedro J. Bondaczuk

Os conselhos, quando dão certo e as pessoas que os pediram fazem tudo direitinho, conforme lhes foi aconselhado, beneficiam, apenas, os que os recebem. O aconselhador, por sua vez, corre todos riscos imagináveis, sem que leve qualquer vantagem nisso. Há quem tenha a mania de aconselhar a torto e a direito, a todo o mundo, conhecidos ou desconhecidos, sem serem sequer solicitados. Tornam-se chatos, pedantes, dogmáticos e quem pode os evita.

Claro que podem estar bem intencionados (geralmente estão), não há porque se duvidar. Mas de indivíduos com boas intenções “o inferno está lotadinho”, como bem diz o povão, em sua espontânea, posto que rude, sabedoria.

Há quem diga que se conselho fosse bom, as pessoas os venderiam, não dariam de graça. Não é bem assim. Há momentos na vida em que carecemos de uma pessoa sensata, experiente, ponderada e que nos queira bem, que nos oriente em relação a determinados problemas. Como em qualquer jogo, via de regra, quem está de fora enxerga melhor. Detecta onde estão as dificuldades e se dispõe a apontar os caminhos mais adequados para sairmos de algumas enrascadas. Isto, claro, se elas tiverem saída. Às vezes não têm.

Mesmo nessas circunstâncias, porém – e supondo que quem aconselha esteja plenamente habilitado a aconselhar – o aconselhador (ou conselheiro, como queiram) sempre corre riscos. Por exemplo, quem lhe pediu orientação pode não seguir rigorosamente o que foi aconselhado a fazer e se dar mal. Ou seja, pode complicar ainda mais determinada situação já complicada. O que você acha que ele fará? Assumirá o erro e arcará com as consequências? Raramente.

A probabilidade maior é que lance toda a culpa do fracasso naquele que, prestamente, se dispôs a acudi-lo em suas dificuldades. Pode, inclusive, não apenas hostilizar o nobre conselheiro, como fazer algo muito pior, dependendo da sua índole.

E se o conselho der certo? Manifestará gratidão e se tornará mais íntimo de quem o aconselhou? Dificilmente. A experiência indica que assumirá todos os méritos por haver saído da enrascada que o afligia e, provavelmente, esfriará suas relações com quem o aconselhou, se não rompê-la de vez, o que é mais comum.

Que vantagem, pois, nós temos em aconselhar alguém, mesmo que se trate da esposa, do filho, do neto, do amigo ou de outra pessoa qualquer que prive da nossa irrestrita confiança e, sobretudo, intimidade? Nenhuma! Rigorosamente nenhuma!

Talvez (e nem sempre) lhe reste a satisfação íntima de haver feito uma boa ação para alguém. Na maioria dos casos, nem isso lhe sobra. Vale a pena, pois, correr tantos riscos por recompensa tão pífia (e quando ela existe)? Sinceramente, entendo que não!

Claro que não sou a pessoa mais habilitada a tratar dessa questão. Já recebi muitos conselhos (alguns excelentes, outros nem tanto), solicitados ou dados de graça e, em contrapartida, aconselhei muita gente.

Não hostilizei, porém, e nem rompi relações com nenhum dos meus conselheiros, embora muitos o merecessem. Algumas dessas pseudo orientações (nunca pedidas, por sinal) foram tão ostensivamente ruins, que as levei na pura brincadeira. Mas também não me lancei aos pés dos que me aconselharam bem e nem lhes jurei devotar eterna gratidão.

Quanto aos conselhos que dei? Bem, arrependo-me profundamente de haver agido assim, principalmente quando as coisas deram certo. Perdi amigos, que considerava como irmãos, apenas por lhes haver apontado caminhos óbvios, que os levaram ao sucesso em muitas das suas empreitadas. Bem feito! O que eu tinha que me meter na vida alheia.

Hoje, busco sozinho as saídas para as minhas dificuldades, valendo-me da experiência que os meus já muitos anos de vida me deram. Às vezes, complico, é verdade, situações muito simples, mas arco com as consequências. Na maioria das vezes, porém, tenho acertado (ou quase, sei lá).

Concordo plenamente com o que Albert Einstein escreveu em um de seus textos a esse propósito: “Não me agrada aconselhar porque, em todos os casos, se trata de uma responsabilidade desnecessária”. E não é?! Pra quê procurar chifre em cabeça de cavalo ou arrumar sarna pra me coçar?! Sim, pra quê?!!!


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