Friday, December 15, 2017

Ano novo, problemas velhos


Pedro J. Bondaczuk

O novo ano começou com esperanças renovadas, como no início de todos os outros, mas os velhos problemas, que atormentaram a população ao longo de 2001, ainda estão aí, à espera de solução, que depende de ações coletivas, bem planejadas e melhor executadas, que envolvam todos os segmentos da sociedade.

O principal e mais grave deles, sem dúvida, é o clima de insegurança que prevalece na cidade, dados os elevados índices de violência e de criminalidade registrados em Campinas, que não sofreram nenhuma solução de continuidade de dezembro para janeiro. Pelo contrário. E manteve-se, nos dois primeiros meses de 2002, a elevada média de assassinatos, que já chegam a 80.

Em 2001, a cidade viu batido o recorde anterior de homicídios, com a ocorrência de 613 casos (contra 640 verificados no mesmo período em Nova York, que tem população quase dez vezes maior). Mal 2002 começou, e em apenas dez dias já haviam sido contabilizados 15 assassinatos em Campinas, indicando que esse tipo de crime, desgraçadamente, continua em alta.

Outro delito, com crescimento vertiginoso na região, é o sequestro de cidadãos. As ocorrências mais do que triplicaram, em relação a 2000, com quadrilhas poderosas, muito bem armadas e ao que tudo indica bastante experientes e bem informadas, agindo livremente no município. Só neste ano, já foram nove.

A cidade, por exemplo, ainda está chocada, traumatizada, comovida e sobretudo revoltada (e o País também), depois da divulgação, em rede nacional, do assassinato ocorrido na madrugada de 10 de janeiro, de uma comerciante campineira, que havia sido feita refém, seis dias antes, em sua residência, no bairro do Taquaral, e que acabou "executada", com três tiros de fuzil nas costas, em frente da sua casa, depois que a família não conseguiu o dinheiro para o pagamento do resgate exigido pelos bandidos. Quanta covardia e prepotência!

Quando o sujeito que faz uma barbaridade dessas é preso, se faz de coitadinho, alegando ser vítima da sociedade, do sistema, das condições sociais do País, etc., etc, etc. E não faltam calhordas desocupados que acreditem em sua encenação, lhe deem irrestrito apoio e tomem, de imediato, as suas dores. Será que agiriam dessa forma se eventualmente passassem pela experiência de serem tomados como reféns, ou se tivessem esposa, ou filhos, ou pais, ou irmãos sequestrados? Claro que não!

O tema "segurança pública", com certeza, será o mais explorado por todos os candidatos, aos vários cargos eletivos em disputa, nas eleições de outubro próximo, já que é, ao lado do desemprego, da fome e da corrupção, o assunto do momento, inclusive no mundo. Muitas promessas serão feitas, muita demagogia vai ser praticada e, provavelmente, quando os eleitos forem empossados, tudo vai continuar como está. Isto, se não piorar ainda mais, o que é mais provável.

No plano administrativo, é grande a expectativa do campineiro pela realização de obras e ações urgentes, nas áreas de transportes, de saúde, de habitação e de assistência social, entre outras, que devem ser encaradas como prioridades pela prefeita Izalene Tiene.

Elas passam a ser direcionadas, pela primeira vez na história da cidade, pela própria população, que opinou sobre onde os parcos recursos gerados pelo município devem ser investidos, durante a elaboração do Orçamento Participativo. Este será, portanto, o teste decisivo para verificar se o esquema funciona ou não na prática. Em teoria, tem tudo para dar certo.

Além da expectativa pela performance da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de futebol, a ser disputada na Coreia do Sul e no Japão, e das eleições para a Presidência da República, para os governos estaduais e para a renovação das Assembleias Legislativas, Câmara de Deputados e Senado, as atenções do brasileiro estarão, mais uma vez, voltadas para o clima.

Principalmente depois que os especialistas detectaram o início de mais um fenômeno climático mundial conhecido como "El Niño". Os meteorologistas preveem, por exemplo, secas devastadoras no Sul do País e chuvas catastróficas no Sudeste, o que já vem se manifestando, embora ainda não com a máxima intensidade.

Mesmo sendo ocorrência relativamente comum, no entanto, as autoridades (municipais, estaduais e federais) não contam com nenhum tipo de prevenção para proteger os cidadãos, principalmente os de menos recursos. Em consequência, milhares de pessoas que vivem em áreas de risco têm as suas vidas e seu ridiculamente pequeno patrimônio em risco, como já se comprovou neste verão, no Estado do Rio de Janeiro e em áreas de Minas Gerais, de Goiás, do Tocantins e da capital paulista, entre outras.

Como se vê, a chegada de 2002, com todas as comemorações que foram feitas para marcar a ocasião, não passou, na prática, de mera mudança de número no calendário. Nem mesmo as atitudes mudaram. O ano é novo, mas os problemas são os de sempre...E muito antigos...

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Campinas Hoje, em 11 de janeiro de 2002).


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