Ano novo, problemas velhos
Pedro
J. Bondaczuk
O
novo ano começou com esperanças renovadas, como no início de todos
os outros, mas os velhos problemas, que atormentaram a população ao
longo de 2001, ainda estão aí, à espera de solução, que depende
de ações coletivas, bem planejadas e melhor executadas, que
envolvam todos os segmentos da sociedade.
O
principal e mais grave deles, sem dúvida, é o clima de insegurança
que prevalece na cidade, dados os elevados índices de violência e
de criminalidade registrados em Campinas, que não sofreram nenhuma
solução de continuidade de dezembro para janeiro. Pelo contrário.
E manteve-se, nos dois primeiros meses de 2002, a elevada média de
assassinatos, que já chegam a 80.
Em
2001, a cidade viu batido o recorde anterior de homicídios, com a
ocorrência de 613 casos (contra 640 verificados no mesmo período em
Nova York, que tem população quase dez vezes maior). Mal 2002
começou, e em apenas dez dias já haviam sido contabilizados 15
assassinatos em Campinas, indicando que esse tipo de crime,
desgraçadamente, continua em alta.
Outro
delito, com crescimento vertiginoso na região, é o sequestro de
cidadãos. As ocorrências mais do que triplicaram, em relação a
2000, com quadrilhas poderosas, muito bem armadas e ao que tudo
indica bastante experientes e bem informadas, agindo livremente no
município. Só neste ano, já foram nove.
A
cidade, por exemplo, ainda está chocada, traumatizada, comovida e
sobretudo revoltada (e o País também), depois da divulgação, em
rede nacional, do assassinato ocorrido na madrugada de 10 de janeiro,
de uma comerciante campineira, que havia sido feita refém, seis dias
antes, em sua residência, no bairro do Taquaral, e que acabou
"executada", com três tiros de fuzil nas costas, em frente
da sua casa, depois que a família não conseguiu o dinheiro para o
pagamento do resgate exigido pelos bandidos. Quanta covardia e
prepotência!
Quando
o sujeito que faz uma barbaridade dessas é preso, se faz de
coitadinho, alegando ser vítima da sociedade, do sistema, das
condições sociais do País, etc., etc, etc. E não faltam calhordas
desocupados que acreditem em sua encenação, lhe deem irrestrito
apoio e tomem, de imediato, as suas dores. Será que agiriam dessa
forma se eventualmente passassem pela experiência de serem tomados
como reféns, ou se tivessem esposa, ou filhos, ou pais, ou irmãos
sequestrados? Claro que não!
O
tema "segurança pública", com certeza, será o mais
explorado por todos os candidatos, aos vários cargos eletivos em
disputa, nas eleições de outubro próximo, já que é, ao lado do
desemprego, da fome e da corrupção, o assunto do momento, inclusive
no mundo. Muitas promessas serão feitas, muita demagogia vai ser
praticada e, provavelmente, quando os eleitos forem empossados, tudo
vai continuar como está. Isto, se não piorar ainda mais, o que é
mais provável.
No
plano administrativo, é grande a expectativa do campineiro pela
realização de obras e ações urgentes, nas áreas de transportes,
de saúde, de habitação e de assistência social, entre outras, que
devem ser encaradas como prioridades pela prefeita Izalene Tiene.
Elas passam
a ser direcionadas, pela primeira vez na história da cidade, pela
própria população, que opinou sobre onde os parcos recursos
gerados pelo município devem ser investidos, durante a elaboração
do Orçamento Participativo. Este será, portanto, o teste decisivo
para verificar se o esquema funciona ou não na prática. Em teoria,
tem tudo para dar certo.
Além
da expectativa pela performance da Seleção Brasileira na Copa do
Mundo de futebol, a ser disputada na Coreia do Sul e no Japão, e das
eleições para a Presidência da República, para os governos
estaduais e para a renovação das Assembleias Legislativas, Câmara
de Deputados e Senado, as atenções do brasileiro estarão, mais uma
vez, voltadas para o clima.
Principalmente
depois que os especialistas detectaram o início de mais um fenômeno
climático mundial conhecido como "El Niño". Os
meteorologistas preveem, por exemplo, secas devastadoras no Sul do
País e chuvas catastróficas no Sudeste, o que já vem se
manifestando, embora ainda não com a máxima intensidade.
Mesmo sendo
ocorrência relativamente comum, no entanto, as autoridades
(municipais, estaduais e federais) não contam com nenhum tipo de
prevenção para proteger os cidadãos, principalmente os de menos
recursos. Em consequência, milhares de pessoas que vivem em áreas
de risco têm as suas vidas e seu ridiculamente pequeno patrimônio
em risco, como já se comprovou neste verão, no Estado do Rio de
Janeiro e em áreas de Minas Gerais, de Goiás, do Tocantins e da
capital paulista, entre outras.
Como
se vê, a chegada de 2002, com todas as comemorações que foram
feitas para marcar a ocasião, não passou, na prática, de mera
mudança de número no calendário. Nem mesmo as atitudes mudaram. O
ano é novo, mas os problemas são os de sempre...E muito antigos...
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do jornal Campinas Hoje, em 11 de
janeiro de 2002).
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