Reformas são inadiáveis
Pedro J. Bondaczuk
A democracia, muita gente tem
dito, é uma obra que requer permanente aperfeiçoamento, que jamais
pode ser dada por acabada, mas exige constantes acréscimos, cortes,
mudanças de rumo e reciclagens. É como uma preciosa e frágil flor,
que precisa ser cuidada com carinho todos os dias. É um rico
diamante cuja lapidação nunca tem fim.
O Brasil, nesse aspecto,
perdeu um tempo enorme. Dos quase 105 anos de República, o País
passou 37 sob ditaduras, de diversos matizes, justificadas por vários
pretextos, que hoje se refletem na nossa realidade. Precisamos
recuperar um longo, imenso tempo perdido. Daí haver urgência numa
profunda reforma política, que deve ser feita o mais breve possível,
já no próximo ano.
Os partidos precisam de uma
nova legislação, para que representem, de fato, correntes de
pensamento e deixem de ser as meras siglas de hoje, que os candidatos
lançam mão (sem qualquer escrúpulo), apenas para cumprir as
exigências legais para suas candidaturas.
A lei eleitoral tem que ser
mudada e se tornar permanente, estabelecendo regras fixas não
somente para uma eleição, mas para todas que forem realizadas no
País. A fidelidade partidária deve ser reintroduzida imediatamente,
pondo fim ao fisiologismo.
José Américo de Almeida, um
dos nomes mais ilustres da política e da cultura brasileiras, disse,
no discurso de abertura de uma de suas campanhas: "O que
carecemos é de uma democracia sem os vícios que o próprio povo
desaprova. Nem retrógrada, nem empírica, nem inútil, nem fictícia,
nem mistificadora".
Só que esse pronunciamento
foi feito em 1937. Passaram-se 57 anos, e o panorama é o mesmo,
mesmíssimo de então, embora a população tenha se multiplicado por
cinco e os problemas, por consequência, também. Quanto tempo
precioso foi perdido! Gerações foram malbaratadas por causa da
preguiça de uns, da omissão de outros e do cinismo de tantos.
O intelectual e ex-ministro da
Educação, Eduardo Portella, no livro "Literatura e Realidade
Nacional", escreveu: "A arregimentação das nossas
próprias energias --- muito mais do que os auxílios externos ---
deve ser a verdadeira força motriz de nossa arrancada
desenvolvimentista. Mas é indispensável uma palavra de ordem
inspiradora de confiança. Decidida. Autêntica. Elaborada de uma
perspectiva rigorosamente brasileira".
Atual, não é verdade? Só
que o citado livro foi escrito em 1962! Voltamos, pois aos problemas
de 32 anos atrás. Pior, aos de há 57 anos, mencionados no discurso
de José Américo de Almeida. A reforma política, portanto, é algo
que não pode mais tardar. Os deputados que forem eleitos para a
próxima legislatura têm que se conscientizar que esta deve ser sua
tarefa número um. As outras podem esperar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de outubro de 1994).
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