Sunday, December 31, 2017

Triplo aborrecimento



Pedro J. Bondaczuk


O ano começou mal para o mundo em geral, e também para o campineiro. Uma guerra do outro lado do oceano foi iniciada e suas consequências, como diz a mínima das lógicas, são absolutamente imprevisíveis, principalmente quando se leva em conta que ela está sendo travada numa região que detém 65% das reservas de petróleo: o Golfo Pérsico.

Em decorrência do confronto, o Plano Collor, que já vinha fazendo água por todos os lados, está prestes a naufragar, com a inflação ameaçando de novo ir às nuvens, só que desta vez o trabalhador está totalmente desguarnecido, sem regras de reposição salarial, e correndo o risco de perder o seu emprego.

Para o empresário, a situação não é, em absoluto, mais cômoda. Juros extorsivos, recessão e altos tributos – tanto os existentes quanto os que o governo ameaça criar – tiram-lhe, certamente, o sono.

Para complicar, as famosas chuvas de janeiro voltam a fazer estragos numa cidade em franco crescimento vegetativo, o que não significa desenvolvimento. Aumentam os habitantes, mas o padrão de vida cai. O campineiro, assustado com o novo Imposto Predial e Territorial Urbano, IPTU, e sofrendo as aflições provocadas pelas enchentes, pelos buracos nas ruas e desmoronamentos, indaga, em desespero, parodiando recente campanha da administração municipal: Isto é justo? É problema em dose tripla para um cidadão que contava com vida nova em 1991.

Quanto à Guerra do Golfo, evidentemente, o campineiro nada pode fazer para evitar ou fazer parar, a não ser promover manifestações pela paz de pouca ressonância. Sobre a evolução da inflação e das medidas ainda mais duras que estão em elaboração no Palácio do Planalto, o campineiro também só pode assistir.

Todavia, quanto à administração de Campinas, o cidadão deve e tem que cobrar providências, já que estas são financiadas pelos seus cada vez mais minguados ganhos. Está na hora de problemas que se arrastam há tempos, como o dos transportes públicos, das enchentes e outros tantos que atormentam a vida da população, começarem a ser encarados com seriedade.

Bush e Saddam, certamente, não irão atender aos reclamos dos campineiros, para que não exponham o mundo à catástrofe. O presidente Collor pode até ouvir os protestos contra alguma das medidas, mas dificilmente irá mudar sua rígida estratégia. Mas a administração municipal terá de responder, ao cabo do corrente ano, ao voto ainda não justificado nos dois primeiros anos.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de janeiro de 1991).



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