Triplo aborrecimento
Pedro
J. Bondaczuk
O ano
começou mal para o mundo em geral, e também para o campineiro. Uma
guerra do outro lado do oceano foi iniciada e suas consequências,
como diz a mínima das lógicas, são absolutamente imprevisíveis,
principalmente quando se leva em conta que ela está sendo travada
numa região que detém 65% das reservas de petróleo: o Golfo
Pérsico.
Em
decorrência do confronto, o Plano Collor, que já vinha fazendo água
por todos os lados, está prestes a naufragar, com a inflação
ameaçando de novo ir às nuvens, só que desta vez o trabalhador
está totalmente desguarnecido, sem regras de reposição salarial, e
correndo o risco de perder o seu emprego.
Para
o empresário, a situação não é, em absoluto, mais cômoda. Juros
extorsivos, recessão e altos tributos – tanto os existentes quanto
os que o governo ameaça criar – tiram-lhe, certamente, o sono.
Para
complicar, as famosas chuvas de janeiro voltam a fazer estragos numa
cidade em franco crescimento vegetativo, o que não significa
desenvolvimento. Aumentam os habitantes, mas o padrão de vida cai. O
campineiro, assustado com o novo Imposto Predial e Territorial
Urbano, IPTU, e sofrendo as aflições provocadas pelas enchentes,
pelos buracos nas ruas e desmoronamentos, indaga, em desespero,
parodiando recente campanha da administração municipal: Isto é
justo? É problema em dose tripla para um cidadão que contava com
vida nova em 1991.
Quanto
à Guerra do Golfo, evidentemente, o campineiro nada pode fazer para
evitar ou fazer parar, a não ser promover manifestações pela paz
de pouca ressonância. Sobre a evolução da inflação e das medidas
ainda mais duras que estão em elaboração no Palácio do Planalto,
o campineiro também só pode assistir.
Todavia,
quanto à administração de Campinas, o cidadão deve e tem que
cobrar providências, já que estas são financiadas pelos seus cada
vez mais minguados ganhos. Está na hora de problemas que se arrastam
há tempos, como o dos transportes públicos, das enchentes e outros
tantos que atormentam a vida da população, começarem a ser
encarados com seriedade.
Bush
e Saddam, certamente, não irão atender aos reclamos dos
campineiros, para que não exponham o mundo à catástrofe. O
presidente Collor pode até ouvir os protestos contra alguma das
medidas, mas dificilmente irá mudar sua rígida estratégia. Mas a
administração municipal terá de responder, ao cabo do corrente
ano, ao voto ainda não justificado nos dois primeiros anos.
(Editorial
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de
janeiro de 1991).
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