Reforma partidária é urgente
Pedro J. Bondaczuk
A solução para os problemas
econômicos do Brasil --- entre os quais o combate à inflação e a
modernização do parque fabril, além da abertura da economia para o
mundo --- passa necessariamente pela política. Temos afirmado e
reiterado em várias oportunidades que, com a atual estrutura
partidária brasileira, não há como um presidente (ou um
primeiro-ministro) governar o País.
Congresso e Executivo atuam
como antagonistas, ao invés de agirem como parceiros de um mesmo
Estado, cujo poder central fica cada vez mais enfraquecido, impedindo
o exercício de suas funções mínimas, que são as de árbitro nas
relações entre os diversos grupos sociais.
Faz-se indispensável,
urgente, urgentíssimo uma reforma partidária que transforme os
partidos em correntes de pensamento e não nas meras siglas ---
algumas de aluguel --- a que estão relegados hoje. Que cada
parlamentar eleito obtenha sua investidura por defender um
determinado programa do agrado da população e não apenas em
virtude de clentelismos, simpatias pessoais, influências do poder
econômico, barganha de votos por alguma espécie de vantagem e
outros tipos de distorção, característicos do nosso sistema
eleitoral.
Não se trata, agora, de saber
qual regime seria mais apropriado à nossa realidade, se
parlamentarismo ou presidencialismo. Ambos são inviáveis neste
momento. Pelo menos enquanto existirem 32 partidos, cujos membros
tenham a liberdade de entrar e sair deles toda vez que algum
interesse particular for contrariado.
Por exemplo, nas eleições
presidenciais de 1989, os dois principais concorrentes ao segundo
turno, Fernando Collor e Luís Inácio Lula da Silva, viram ser
eleita uma bancada incipiente de sua organização no Congresso, de
cerca de 3% cada um. Por que o eleitorado criou esta situação de
ingovernabilidade?
A principal razão é que as
organizações partidárias, naquele pleito, concentraram suas
campanhas exclusivamente na Presidência. Faltou visão de conjunto.
Ressalte-se que, mesmo que a maioria do Congresso fosse do mesmo
partido do presidente eleito, diante da inexistência de um
dispositivo obrigando a fidelidade irrestrita à agremiação pela
qual o parlamentar obteve sua investidura ao cargo, em pouco tempo se
transformaria em minoria, ao primeiro interesse paroquial que viesse
a ser contrariado. Muda-se de partido mais do que de camisa.
Caso o parlamentarismo seja
vitorioso no plebiscito de 21 de abril, ele apenas irá vingar se,
antes da sua implantação, forem feitas as indispensáveis reformas
políticas que o viabilizem. O mesmo vale para o presidencialismo.
Será preciso, por exemplo,
instituir o voto distrital, para que cada parlamentar eleito preste
contas permanentemente aos seus eleitores. Outra mudança
indispensável refere-se à proporcionalidade de representação em
relação à população de cada Estado.
Não faz sentido, por exemplo,
São Paulo e Amapá terem exatamente o mesmo número de senadores. E
a principal alteração, sem a qual continuaremos acéfalos, sem que
o presidente ou o primeiro-ministro tenham condições mínimas de
governabilidade, é a instituição da fidelidade partidária e de um
percentual mínimo de votos --- a sugestão seria de 5% --- para que
a agremiação continue existindo. Na Alemanha, essa taxa é de 4%.
Na Polônia, é de apenas 3%. Entre nós, por enquanto, não vale
qualquer limite, o que é absurdo.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 20 de janeiro de 1993).
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