Em busca da vocação
Pedro
J. Bondaczuk
Campinas,
ao ensejo do seu 229º aniversário de fundação, segue magnífica
espiral de progresso em sua memorável trajetória histórica, apenas
interrompida, por um breve momento, em fins do século XIX, quando da
epidemia de febre amarela, que quase a varreu do mapa.
Debelada a
doença, todavia, retomou a trilha do desenvolvimento, nunca mais
interrompida, conseguindo, ao longo dos anos, índices
extraordinários de evolução, nos mais variados campos de
atividade. Foi, no século XVIII, respeitável centro açucareiro. Na
virada do século seguinte, enriqueceu com o café. Tornou-se
pioneira da indústria no Estado. Transformou-se em estratégico
entroncamento rodoferroviário. E hoje, a cidade é extremamente
eclética, sobretudo no que diz respeito à economia.
É uma das
principais praças bancárias do País. É importante centro
comercial do Estado. Constitui-se em relevante polo exportador e de
alta tecnologia, carreando preciosas divisas para o Brasil. É uma
das cidades preferidas para investimentos, pela excelência de sua
preparada e farta mão de obra. E, para culminar, constitui-se em um
dos mais requisitados e reputados centros universitários, com já
tradicionais instituições de pesquisa avançada, que vêm
granjeando respeito e admiração, nacional e internacionalmente.
Com
pouco mais de um milhão de habitantes, Campinas é uma metrópole
moderna, e com múltiplas vocações. Apesar de tudo isso, todavia,
convive com problemas crônicos, que entra ano, sai ano, não
conseguem ser solucionados e que, por falta de solução, tendem a se
agravar. Requer, por exemplo, elevados investimentos em
infraestrutura urbana, sobretudo viária, com ruas e avenidas à
beira de um colapso, por não comportarem seu pesado volume de
tráfego, já que conta com uma das maiores médias de veículos
motorizados por habitante de todo o País.
Os
transportes públicos de passageiros, por seu turno, são cada vez
mais insuficientes para atender a uma crescente, senão explosiva,
demanda. Campinas requer largas avenidas, túneis, viadutos e outras
tantas obras de grande vulto, que tornem mais fácil o acesso à sua
área central, que, no entanto, está envelhecida e congestionada.
Onde, contudo, os recursos para investimentos públicos de tamanho
porte, quando se sabe que o Município tem uma alta dívida a saldar,
de empréstimos tomados, muitos no Exterior, por sucessivas
administrações, que não investiram esses recursos com prudência e
com sabedoria?
A
situação social, por outro lado, em sua pobre periferia, é um
retrato do que ocorre em todo o País, com hordas de miseráveis e de
excluídos requerendo urgente amparo. Há um elevado déficit
habitacional, levando dezenas de milhares de campineiros a viverem em
favelas, que de três décadas para cá, se expandiram e se
multiplicaram. E esse problema foi agravado pela grande migração
que se verificou nos anos 60, 70 e meados de 80.
A
violência urbana – posto que do ano passado para cá tenha
diminuído discretamente – continua assustando. A cidade ostenta,
por exemplo, em números absolutos de homicídios, cifras
intoleráveis, superiores aos de várias metrópoles mundiais, tidas
e havidas, tradicionalmente, como muito violentas, como Nova York,
que tem população 12 vezes maior, e Bogotá, na Colômbia. Não foi
por acaso que Campinas ficou conhecida, de uns anos para cá, como a
“capital brasileira do crime organizado”, em especial de roubo de
cargas.
Não
é essa, todavia, a sua vocação. Esta triste e incômoda fama,
aliás, ofuscou muitos e muitos e muitos dos notáveis feitos da sua
população, excepcionais, quando comparados com os de outras
localidades do mesmo porte. Esta metrópole interiorana supera, por
exemplo, em praticamente todos os índices de desenvolvimento humano,
a grande maioria das capitais de Estado do País. Sozinha, é
responsável pela geração do 8% do Produto Interno Bruto
brasileiro.
Conta
com hospitais que são referências de qualidade na América Latina.
Suas escolas e universidades são da maior excelência, reconhecidas
e, por isso, procuradas, por estudantes de todo o País e do
Exterior. Esta é a sua verdadeira vocação: a de liderança. A de
desenvolvimento humano. A de geradora e exportadora de arte, de
cultura, de esportes e de riquezas. O mais, certamente, será
superado, mais dia menos dia, com muito trabalho, criatividade e
determinação, coisas que, a rigor, jamais faltaram ao seu povo
excepcional.
(Editorial
publicado na Folha do Taquaral em 14 de julho de 2003).
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