Reforma que se impõe
Pedro J. Bondaczuk
O sistema eleitoral e a lei
partidária do País precisam mudar o mais rápido possível, para
que a nossa política ganhe um ordenamento lógico e racional, ao
contrário do caos que impera atualmente. Os partidos têm que ganhar
consistência, ter programas coerentes e não se limitar a um mero
ajuntamento de letras, onde postulantes à vida pública se amontoem
e se abriguem ao sabor das conveniências.
Esta, doravante, deverá ser
uma das cobranças prioritárias da sociedade, através de suas
várias instituições, principalmente da imprensa. Na forma atual, o
sistema de representatividade brasileiro é mera ficção, para não
dizer uma piada de mau gosto.
A professora associada do
Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo,
Maria Hermínia Tavares de Almeida, em artigo publicado no jornal
interno da USP, apontou as falhas da lei que rege a Constituição e
o funcionamento dos partidos que está em vigor.
Observou: “O sistema
eleitoral e a legislação partidária produziram um sistema de
partidos fragmentado e sem nitidez política, que não é capaz de
estruturar o jogo eleitoral e de gerar capacidade governativa. O PMDB
e o PFL, que somados tinham dois terços dos deputados na Câmara
Federal, não chegaram a receber juntos 5% dos votos nas eleições
presidenciais de 1989.
Tanto Sarney quanto Collor
jamais contaram com apoio partidário sólido no Congresso. Tiveram
que negociar seus projetos caso a caso, fabricando apoio parlamentar
com recurso às burras do Estado”.
E o que dizer do atual
presidente, Itamar Franco? Onde o pacto de governabilidade, tão
apregoado e que acabou atropelado pela antecipação (prematura) da
corrida sucessória pela Presidência? Há um substitutivo, de
autoria do deputado baiano João Almeida (PMDB), já aprovado na
Câmara e em tramitação no Senado, que procura pôr um pouquinho de
ordem nesse caos em que se tornou a política brasileira.
O referido projeto, por
exemplo, prevê que somente terão direito a funcionamento
parlamentar partidos que tiverem índice mínimo de 5% de votos, sem
os nulos e brancos, em pelo menos um terço dos 27 Estados (portanto,
em nove deles) em eleições para o Congresso.
Caso a proposta venha a ser
transformada em lei, já no próximo pleito teremos uma peneirada
gigantesca, reduzindo as atuais 40 agremiações – a maioria,
ostensivamente, de meras siglas de aluguel – a apenas quatro ou
cinco. Aí sim o País começará a fazer política, no sentido lato
do termo, já que o que se pratica hoje é mera pantomima ou algo
pior.
Outro aspecto importante do
projeto é a volta da fidelidade partidária. Ele prevê que os
parlamentares que não seguirem as decisões de suas lideranças ou
trocarem de partido perderão seus mandatos. Hoje, os apoios ou
repulsas ao presidente da República não têm qualquer consistência.
Não são dados, mas vendidos ou trocados por cargos no segundo e no
terceiro escalões do governo, às custas do atormentado
contribuinte, que financia esse jogo cínico de fisiologismo.
As maiorias, duramente
costuradas, são extremamente fluidas. Parlamentares trocam de lado,
de uma hora para outra, conforme conveniências pessoais. Se seus
partidos estão na situação, basta uma mudança de sigla e, pronto,
o compromisso está rompido. E num passe de mágica, maioria vira
minoria e vice-versa. Quem consegue governar um país com um sistema
tão caótico? Afinal, no atual Congresso, quem é quem? Haverá
algum gênio capaz de responder a isso com segurança?
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 22 de abril de 1993)
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