Sintoma de maturidade
Pedro J. Bondaczuk
O amadurecimento do ser humano é um processo bastante demorado, de
muitos anos, o que tarda mais tempo entre todos os seres vivos.
Vegetais, por exemplo, amadurecem, na maioria, de uma estação para
outra, ou seja, em questão de meses. Alguns, como determinadas
árvores, frutíferas ou não, levam alguns anos para amadurecer, mas
nada que sequer de longe se compare ao homem.
A maturidade física humana plena demora, em média, 21 anos. A
mental, a psicológica e/ou a afetiva custam mais, muito mais para
ocorrer. Algumas pessoas sequer chegam a amadurecer nesse aspecto.
Ficam velhas, mas se mantêm infantilizadas, com atitudes e
comportamentos que não condizem com quem tenha alguma experiência a
ostentar. Tornam-se ridículas, patéticas e dignas de piedade,
embora despertem, via de regra, apenas zombarias dos imbecis.
E quando é que sabemos que atingimos a maturidade intelectual,
psicológica e afetiva? Talvez nunca saibamos. Talvez tenhamos pálida
desconfiança disso, mas nunca certeza. É mais fácil quem conviva
conosco e nos conheça razoavelmente bem perceber nosso
amadurecimento.
É possível, pois, determinar uma época em que possamos dizer que
estamos, de fato, maduros? Estatisticamente, sim. Na prática,
porém... Esse período varia de pessoa para pessoa. Depende do tipo
de vida que teve, do que fez, onde esteve, com quem e como se
relacionou etc.etc.etc. Como se vê, as coisas, nesse aspecto, não
são tão simples, como podem parecer aos desavisados. Por isso, é
inútil generalizar.
Para amadurecer, porém, é indispensável, antes de tudo, viver. É
necessário passar por inúmeras experiências, quer positivas, quer
negativas. Isso implica, claro, em corrermos riscos. Mas desde que
estes sejam calculados, sem exageros; desde que conheçamos
razoavelmente nossos limites e nunca ousemos ultrapassá-los (pois se
o fizermos, poderemos determinar, até, nossa extinção), temos que
corrê-los.
Temos que viver plenamente, não somente cada etapa do nosso
desenvolvimento, como a infância e a adolescência, mas cada dia,
cada hora, cada minuto e segundo que, ademais, podem ser os nossos
últimos. Ninguém pode determinar quanto tempo irá viver.
Muitas pessoas, com doenças incuráveis, ditas terminais, a quem os
médicos preveem que possam viver só alguns meses, se tanto,
sobrevivem por anos, às vezes décadas, posto que com terríveis
sofrimentos. Outras tantas, que gozam de saúde perfeita, surpreendem
a todos e morrem de repente, sem nenhuma causa previsível, ou de
algum mal súbito, ou em decorrência de acidentes, ou assassinadas
por conhecidos ou por estranhos (o que se torna, infelizmente, cada
vez mais comum).
A propósito de amadurecimento, Cesare Pavese apresentou uma lúcida
tese, que se resume nesta declaração: “Chega uma época em que
nos damos conta de que tudo o que fazemos é transformar em lembrança
um dia. É a maturidade. Para alcançá-la, é preciso justamente já
ter lembranças”.
A rigor, a constatação do escritor italiano não conflita em nada
com minhas observações, antes as confirmam. Para lembrarmos de
alguma coisa é indispensável que a vivamos ou, no mínimo, que a
testemunhemos. E isso implica em ação ou, quando testemunhada, em
acurada observação.
Muitas vezes, limitamo-nos a passar pela vida sem de fato vivê-la.
Damos valor excessivo ao que, não raro, nada vale e deixamos passar
batido o que realmente tem valor. Corremos, como diria o padre
Antonio Vieira, atrás de sombras e não atentamos para as
substâncias.
Temos que viver cada dia de forma a ter o que lembrar dele. Mas não
amanhã, ou depois, nem no fim da semana, ou no prazo de um mês.
Essas lembranças acumuladas terão que nos acompanhar por muitos e
muitos anos, até a nossa extinção. Chegará o momento em que elas
irão se constituir num inestimável patrimônio, provavelmente o
único de que disporemos, num acervo pessoal sem preço, de tão
valioso que será.
Quando chegar esse momento, então, poderemos afirmar, sem vacilações
e sem medo de erro, que estamos, de fato, maduros. Mas a partir de
então, a atitude mais sábia é a de não nos limitarmos a lembrar
os bons e os maus momentos (que são, sobretudo, didáticos) de um
passado remoto (da infância ou da juventude, por exemplo).
Convém que continuemos vivendo, cada dia, sem exceção, com a
máxima intensidade possível, de tal sorte que nele sempre exista o
que seja digno de ser lembrado mais à frente e assim,
sucessivamente, até o momento da nossa morte. Afinal... passaremos
por este caminho uma única vez!
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