Ano começa de fato
Pedro
J. Bondaczuk
O
ano, no Brasil, começa, de fato, apenas depois do Carnaval. Claro
que não no calendário, mas no que diz respeito à administração
pública, em seus vários níveis. Janeiro é mês de férias
escolares e muitos profissionais, e também políticos, escolhem esse
período, até por questões familiares, para viajar, para
espairecer, para descansar e se ausentam, em geral, do centro do
poder e, não raro, até do País. E, em 2005, não foi diferente de
outras ocasiões.
Claro
que no resto do mundo não é o que ocorre. A vida, na arena
internacional, segue o curso normal desde o primeiro dia de cada ano,
com grandes negócios realizados (lícitos ou ilícitos), com guerras
travadas, com eleições promovidas e com tudo o mais que caracteriza
as atividades cotidianas normais dos vários países.
Tivemos,
por exemplo, em janeiro, as eleições palestinas, para a sucessão
do falecido Yasser Arafat. Não houve qualquer surpresa. Venceu o
grupo que detinha o favoritismo, o Al Fatah, a organização do já
saudoso e carismático líder, que morreu em circunstâncias não bem
esclarecidas. Mas a paz, nesse conturbado recanto do Planeta,
continua tão distante quanto sempre esteve, desde a criação do
Estado de Israel, em 1948.
Outra
eleição, aguardada com enorme expectativa, foi realizada no Iraque,
a despeito dos atentados quase que diários, dos sequestros e das
tantas manifestações de violência e de repúdio à presença
estrangeira no país. Apesar das ameaças, quase 70% dos iraquianos
habilitados ao voto compareceram às urnas, o que mostra a ânsia da
população pelo retorno à normalidade institucional.
As
previsões, todavia, não são das mais animadoras. A probabilidade é
que a luta continue ainda por muito tempo, quiçá por décadas, e
que as tropas invasoras, notadamente norte-americanas, tenham que
permanecer no Iraque por muitos anos.
Outro
evento internacional destacável foi a posse do presidente George W.
Bush, para o segundo mandato. Seus pronunciamentos são de molde a
preocupar qualquer pessoa de bom senso. Foram todos cheios de
insinuações sobre possíveis novas intervenções militares, para
combater o que denomina de “eixo do mal”, elegendo, como bola da
vez, o Irã, regime dos aiatolás xiitas. Bush também deixou
implícito, no ar, seu repúdio ao governo de Hugo Chavez, na
Venezuela e prometeu se empenhar para “levar a liberdade” ao
mundo todo. Ou a chamada “pax romana”, a dos cemitérios?
No
Brasil, o Congresso retomou seus trabalhos normais, com uma pauta das
mais recheadas, e importantes, para 2005. Entre as matérias
fundamentais a serem apreciadas, destacam-se as reformas sindical e
trabalhista. Contudo a reforma política deve, mais uma vez, ser
protelada, e ficar para as calendas, embora devesse ser prioritária,
pela relevância. A grande (e desagradável, para o governo)
surpresa, foi a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para
presidir a Câmara dos Deputados.
O
ano deve ser caracterizado, sobretudo, por tomadas de posições de
partidos e de líderes, com vistas às eleições presidenciais e
para os governos de Estado e renovação das duas casas de leis, de
outubro do ano que vem. Aliados do governo vão romper as alianças
(o que já se viu na eleição para a presidência da Câmara),
pretendentes à sucessão de Luís Inácio Lula da Silva vão ver
defeitos onde sequer existem, tudo visando conquistar espaço nos
meios de comunicação. O País? “Que se dane”, parecem pensar
esses políticos oportunistas.
Na
área econômica, o Comitê de Política Monetária do Banco Central,
Copom, acena com novas elevações da taxa básica da economia, a
Selic, sob o pretexto de evitar que a inflação dispare, o que tende
a ser um poderoso freio no crescimento da economia.
Corre-se
o risco do remédio na verdade se constituir em veneno, pelo exagero
na dose. E das taxas de desemprego voltarem a crescer, com demissões
em massa. Oxalá isso não ocorra.
No
plano municipal, o prefeito Hélio de Oliveira Santos, do PDT, que
ainda está tomando pé da situação, deve enfrentar inúmeras
pressões e, certamente, vai estar às voltas com a crônica falta de
dinheiro do Município para suprir suas inúmeras necessidades.
Enfim,
a moleza terminou. As férias acabaram, as escolas iniciaram as
aulas, os políticos retornaram do recesso e o Carnaval, finalmente,
passou. Quanto tempo perdido, em um país como o nosso, que tem tanta
coisa a ser feita, mas cuja mentalidade continua ainda merecendo
sérias restrições! Enfim...esse é o Brasil.
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