Wednesday, December 13, 2017

Ano começa de fato



Pedro J. Bondaczuk


O ano, no Brasil, começa, de fato, apenas depois do Carnaval. Claro que não no calendário, mas no que diz respeito à administração pública, em seus vários níveis. Janeiro é mês de férias escolares e muitos profissionais, e também políticos, escolhem esse período, até por questões familiares, para viajar, para espairecer, para descansar e se ausentam, em geral, do centro do poder e, não raro, até do País. E, em 2005, não foi diferente de outras ocasiões.

Claro que no resto do mundo não é o que ocorre. A vida, na arena internacional, segue o curso normal desde o primeiro dia de cada ano, com grandes negócios realizados (lícitos ou ilícitos), com guerras travadas, com eleições promovidas e com tudo o mais que caracteriza as atividades cotidianas normais dos vários países.

Tivemos, por exemplo, em janeiro, as eleições palestinas, para a sucessão do falecido Yasser Arafat. Não houve qualquer surpresa. Venceu o grupo que detinha o favoritismo, o Al Fatah, a organização do já saudoso e carismático líder, que morreu em circunstâncias não bem esclarecidas. Mas a paz, nesse conturbado recanto do Planeta, continua tão distante quanto sempre esteve, desde a criação do Estado de Israel, em 1948.

Outra eleição, aguardada com enorme expectativa, foi realizada no Iraque, a despeito dos atentados quase que diários, dos sequestros e das tantas manifestações de violência e de repúdio à presença estrangeira no país. Apesar das ameaças, quase 70% dos iraquianos habilitados ao voto compareceram às urnas, o que mostra a ânsia da população pelo retorno à normalidade institucional.

As previsões, todavia, não são das mais animadoras. A probabilidade é que a luta continue ainda por muito tempo, quiçá por décadas, e que as tropas invasoras, notadamente norte-americanas, tenham que permanecer no Iraque por muitos anos.

Outro evento internacional destacável foi a posse do presidente George W. Bush, para o segundo mandato. Seus pronunciamentos são de molde a preocupar qualquer pessoa de bom senso. Foram todos cheios de insinuações sobre possíveis novas intervenções militares, para combater o que denomina de “eixo do mal”, elegendo, como bola da vez, o Irã, regime dos aiatolás xiitas. Bush também deixou implícito, no ar, seu repúdio ao governo de Hugo Chavez, na Venezuela e prometeu se empenhar para “levar a liberdade” ao mundo todo. Ou a chamada “pax romana”, a dos cemitérios?

No Brasil, o Congresso retomou seus trabalhos normais, com uma pauta das mais recheadas, e importantes, para 2005. Entre as matérias fundamentais a serem apreciadas, destacam-se as reformas sindical e trabalhista. Contudo a reforma política deve, mais uma vez, ser protelada, e ficar para as calendas, embora devesse ser prioritária, pela relevância. A grande (e desagradável, para o governo) surpresa, foi a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para presidir a Câmara dos Deputados.

O ano deve ser caracterizado, sobretudo, por tomadas de posições de partidos e de líderes, com vistas às eleições presidenciais e para os governos de Estado e renovação das duas casas de leis, de outubro do ano que vem. Aliados do governo vão romper as alianças (o que já se viu na eleição para a presidência da Câmara), pretendentes à sucessão de Luís Inácio Lula da Silva vão ver defeitos onde sequer existem, tudo visando conquistar espaço nos meios de comunicação. O País? “Que se dane”, parecem pensar esses políticos oportunistas.

Na área econômica, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, Copom, acena com novas elevações da taxa básica da economia, a Selic, sob o pretexto de evitar que a inflação dispare, o que tende a ser um poderoso freio no crescimento da economia.

Corre-se o risco do remédio na verdade se constituir em veneno, pelo exagero na dose. E das taxas de desemprego voltarem a crescer, com demissões em massa. Oxalá isso não ocorra.

No plano municipal, o prefeito Hélio de Oliveira Santos, do PDT, que ainda está tomando pé da situação, deve enfrentar inúmeras pressões e, certamente, vai estar às voltas com a crônica falta de dinheiro do Município para suprir suas inúmeras necessidades.

Enfim, a moleza terminou. As férias acabaram, as escolas iniciaram as aulas, os políticos retornaram do recesso e o Carnaval, finalmente, passou. Quanto tempo perdido, em um país como o nosso, que tem tanta coisa a ser feita, mas cuja mentalidade continua ainda merecendo sérias restrições! Enfim...esse é o Brasil.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do jornal Interbairros, em 6 de fevereiro de 2005).


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