Culto da velocidade
Pedro J. Bondaczuk
A velocidade é um dos
paradigmas do nosso tempo. Tudo tem que ser mais veloz: os veículos,
os computadores, o raciocínio e as reações humanas etc.etc.etc. Há
pouco tempo, por exemplo, julgava-se impossível que algum atleta
rompesse a barreira dos dez segundos para a distância dos 100 metros
rasos. Hoje, essa marca já é coisa do passado e, no andar da
carruagem, até a metade deste século, a dos nove segundos também
ficará para trás.
O mesmo ocorre para outras
distâncias, em que recordes são batidos, sucessivamente, de uma
competição para outra. Situação igual se verifica não somente em
terra, mas também na água, nas piscinas. E no automobilismo, os
carros atuais só faltam voar. Chegam, em algumas ocasiões, a passar
dos 300 quilômetros por hora, sem que isso cause mais espanto a
ninguém. Tornou-se normal e corriqueiro. E
o que dizer do trem-bala? Os do Japão chegam a correr (quase a voar)
com seus quatrocentos quilômetros por hora!!!
Velocidade, portanto, é a grande meta humana em todos os campos de
atividade. Velocidade e superação.
Vivemos, como se vê, numa
época caracterizada pela pressa. Tudo tem que ser feito correndo,
como se o mundo fosse se acabar no minuto seguinte. Assumimos mais
compromissos do que nossa capacidade de cumpri-los e nos privamos até
dos prazeres simples da vida, como o de beijar nosso filho, todas as
noites, antes dele dormir.
Parece exagero meu, mas quem
refletir só um pouquinho sobre seu cotidiano, verá que não é.
Queremos viver duas vidas numa só e acabamos não vivendo, com
prazer e dignidade, nenhuma. O pior é que o tempo que achamos que
ganhamos, com a correria, é desperdiçado, de forma banal e boba, em
conversas vazias que nada nos acrescentam, ou em barzinhos da moda,
que mais nos dão tédio do que nos divertem.
Quando realizamos alguma obra
reconhecidamente meritória, nossa tendência natural, até
instintiva, é a do relaxamento. Queremos o sucesso imediato a
qualquer custo. E quando o conseguimos, nos acomodamos. No íntimo,
mesmo que não confessemos a ninguém, julgamos que cumprimos nosso
papel no mundo e nos esquecemos da imensidão de coisas que precisam
ser feitas por alguém.
Acreditamos ter esgotado nossa
capacidade em apenas uma, duas, dez, cem ou mil obras, não importa.
Todavia, nosso potencial de realização é infinito e o mundo nos
desafia, amiúde, a desenvolvê-lo ao seu limite, para satisfação
pessoal e bem-estar da coletividade. O que já foi feito é o que
menos importa. Importa o que ainda há por fazer. Por que não
tentar? Por que já nos sentimos desobrigados? Isso significa
omissão.
Além da pressa, nem sempre
(ou quase nunca) justificável ou, principalmente, por causa dela,
vivemos cercados de perigos, do despertar até a hora de deitar para
dormir outra vez. É como se caminhássemos constantemente por um
campo minado, sem sequer nos darmos conta. Por isso, a cada dia que
terminamos incólumes, temos que agradecer a Deus por esse
privilégio.
Contudo, se estamos expostos a
perigos, trata-se de um bom sinal. Indica que não estamos fugindo da
vida, nos escondendo (covarde, mas inutilmente) para preservar nossa
integridade física e/ou mental. Claro que devemos nos prevenir,
sobretudo, dos riscos inúteis e desnecessários. Mas há situações
que não comportam prevenção. Temos de enfrentá-las, atentos, e
superá-las com inteligência e habilidade.
Ressalto que não sou contra a
velocidade, desde que se atente para a segurança. Não me oponho à
pressa, mas sim à afobação, à afoiteza, à correria desenfreada e
louca, como um estouro de manada. Podemos agir com rapidez, desde que
tenhamos método, organização e saibamos para onde e como ir. E,
principalmente, que tenhamos o bom-senso de aproveitar devidamente o
tempo que conquistarmos.
Embora não seja contrário à
velocidade (com segurança) e à pressa (com método), destaco a
necessidade de cultivo da paciência, virtude de pessoas muito
especiais, atributo dos santos, que é, muitas vezes, confundida com
preguiça. Uma caracteriza-se por saber esperar, tanto para agir,
quanto para colher os frutos dessa ação. Outra é a inação, a
espera que os outros façam por nós o que deveria ser da nossa
competência. É o não fazer.
Para entendermos as vantagens
de sermos pacientes, basta observar a natureza. Tudo nela tem o seu
tempo certo: o de arar, o de semear, o de impedir que as ervas
daninhas sufoquem as sementes e o de colher. E o suceder das
estações? Nunca o verão vem antes do inverno. Ou a primavera
antecede o outono. Há um ciclo ordenado na natureza. Tempo certo
para tudo. No caso do plantio, qualquer tentativa de pular uma das
etapas pode arruinar toda uma lavoura e pôr a perder o trabalho
despendido. O mesmo ocorre na vida. O apressadinho corre o risco de
ficar sem colheita. Compete-nos combinar pressa com paciência, mas
na dose rigorosamente exata, sem mais e nem menos de qualquer desses
ingredientes. É dessa combinação sensata, creiam, que nasce o
sucesso.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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