Reforma ministerial
Pedro J. Bondaczuk
O assunto predominante na
esfera nacional (excetuando-se, é claro, o da escolha do técnico da
seleção brasileira para a Copa do Mundo do México) neste período
em que o País está virtualmente parado, em termos legislativos, com
o recesso dos congressistas, é a reforma ministerial. O presidente
José Sarney prometeu, anteontem, revelar os nomes do seu "time",
aqueles com os quais pretende conter a inflação, manter o Brasil
crescendo a todo o vapor e influir nos resultados das eleições de
novembro próximo, na segunda semana de fevereiro.
Para os que esperam mudanças
dramáticas, que alterem a filosofia do governo no tocante aos temas
básicos, tanto os políticos, quanto os econômicos e sociais,
provavelmente restará uma certa frustração. Pelo menos é isso o
que sugerem os sinais provenientes do Palácio do Planalto nos
últimos dias. Vão mudar, é verdade, alguns nomes. Não por
ineficiência dos titulares das pastas em que as alterações vão
ocorrer. Mas para satisfazer a legislação eleitoral, que exige a
desincompatibilização dos ministros que pretendem se submeter ao
veredito das urnas.
Algumas caras novas aparecerão
subitamente no primeiro plano do cenário nacional, ganhando a chance
de mostrar a sua competência, num ano de fundamental importância
para o futuro do atual regime. Diante da responsabilidade que eles
terão, não se pode dizer, em sã consciência, que a sua
investidura virá a se constituir em alguma espécie de prêmio. Ela
terá, isso sim, o caráter de missão e uma das mais espinhosas que
se possa imaginar. Neste ano, o leitor se recorda, teremos o
desenrolar de um processo que pode determinar, ou não, as mudanças
exigidas pela sociedade brasileira nas praças públicas durante a
histórica campanha das diretas. Ou seja, a eleição dos
constituintes. Dependendo de quem for o escolhido, teremos uma
Constituição mais progressista ou mais conservadora, com reflexos
diretos em toda a vida nacional.
Ao que se conclui da
movimentação registrada nos últimos dias nas lideranças dos dois
partidos que dão sustentação ao governo, o PMDB e o PFL, a
proporcionalidade de pastas será rigorosamente mantida. Resta saber
se os Estados detentores de ministérios serão os mesmos. Numa
consulta realizada pelo deputado Ulysses Guimarães, durante a
semana, ficou claro que apenas cinco dos atuais titulares confirmaram
que pretendem mesmo disputar o pleito de novembro. Dessa maneira,
diversos ministros, tidos, no ano passado, como virtualmente
substituídos, deverão permanecer em seus postos. Em alguns setores
é melhor que isso de fato aconteça, face ao bom resultado do
trabalho desenvolvido. Em outros, a performance, posto que nenhum dos
colaboradores de Sarney decepcionou por completo, não chegou a ser
tão boa. E seria melhor para todos que tais pessoas fossem trocadas.
A tarefa do presidente, para
montar esse autêntico quebra-cabeças, não é das mais fáceis. No
ano passado, o então presidente eleito, Tancredo Neves, passou por
idêntico problema. Recebeu pressões de todos os lados e foi forçado
a fazer um desabafo contra elas, quando ainda se encontrava fora do
País, no instante em que era recepcionado pelo presidente argentino,
Raul Alfonsin, em Buenos Aires. Na oportunidade disse que não
aceitava imposições e nem vetos, exigindo liberdade total para
montar a sua equipe. O mesmo problema deve estar afetando o
presidente Sarney, embora este esteja encarando a situação com uma
fleugma digna de um lorde britânico.
A tarefa mais espinhosa do ano
caberá aos ministros da área econômica, especialmente ao do
Planejamento e ao da Fazenda, onde não se espera mudanças. Afinal,
o País está atravessando um período de perversa seca na região
considerada como o seu grande celeiro alimentar: o Sul, com reflexos
imediatos nos preços dos gêneros de primeira necessidade e, por
consequência, nas taxas de inflação. O descontentamento,
alimentado, obviamente, por correntes contrárias ao governo, começa
a instalar-se entre os que têm o orçamento doméstico corroído por
esse monstro voraz. Boa parte desse desarranjo, entretanto, pode ser
atribuída aos especuladores e o antídoto está em nossas mãos. Só
a sociedade, como um todo, conseguirá contê-los.
O presidente Sarney, em seus
pronunciamentos semanais por uma rede de emissoras de rádio, vem
alertando seguidamente para o fato e pedindo a colaboração do povo.
De que forma? Através de uma incansável procura por produtos mais
baratos, nunca pagando aquilo que se evidenciar indevido, preservando
assim o próprio bolso e forçando o explorador, o ganancioso, o
exagerado a ter juízo na hora de estabelecer o preço.
Outra necessidade premente é
um pacto entre toda a sociedade, não importa que nome receba.
Somente ele fará com que a totalidade dos brasileiros se sinta
compromissada a derrotar esse mal econômico que só beneficia a uma
reduzidíssima minoria. Bem que dizia o poeta Rabindranath Tagore:
"Todos os males do meu país, por mais graves que sejam, têm
remédio, e esse remédio depende de mim". Sejamos, portanto,
nós mesmos os médicos de nossa economia antes que seja tarde
demais, sem esperar que os velhos ou os novos ministros façam isso,
sozinhos, por nós.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular em 19 de janeiro de 1986)
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