Tuesday, December 12, 2017

Reforma ministerial


Pedro J. Bondaczuk


O assunto predominante na esfera nacional (excetuando-se, é claro, o da escolha do técnico da seleção brasileira para a Copa do Mundo do México) neste período em que o País está virtualmente parado, em termos legislativos, com o recesso dos congressistas, é a reforma ministerial. O presidente José Sarney prometeu, anteontem, revelar os nomes do seu "time", aqueles com os quais pretende conter a inflação, manter o Brasil crescendo a todo o vapor e influir nos resultados das eleições de novembro próximo, na segunda semana de fevereiro.

Para os que esperam mudanças dramáticas, que alterem a filosofia do governo no tocante aos temas básicos, tanto os políticos, quanto os econômicos e sociais, provavelmente restará uma certa frustração. Pelo menos é isso o que sugerem os sinais provenientes do Palácio do Planalto nos últimos dias. Vão mudar, é verdade, alguns nomes. Não por ineficiência dos titulares das pastas em que as alterações vão ocorrer. Mas para satisfazer a legislação eleitoral, que exige a desincompatibilização dos ministros que pretendem se submeter ao veredito das urnas.

Algumas caras novas aparecerão subitamente no primeiro plano do cenário nacional, ganhando a chance de mostrar a sua competência, num ano de fundamental importância para o futuro do atual regime. Diante da responsabilidade que eles terão, não se pode dizer, em sã consciência, que a sua investidura virá a se constituir em alguma espécie de prêmio. Ela terá, isso sim, o caráter de missão e uma das mais espinhosas que se possa imaginar. Neste ano, o leitor se recorda, teremos o desenrolar de um processo que pode determinar, ou não, as mudanças exigidas pela sociedade brasileira nas praças públicas durante a histórica campanha das diretas. Ou seja, a eleição dos constituintes. Dependendo de quem for o escolhido, teremos uma Constituição mais progressista ou mais conservadora, com reflexos diretos em toda a vida nacional.

Ao que se conclui da movimentação registrada nos últimos dias nas lideranças dos dois partidos que dão sustentação ao governo, o PMDB e o PFL, a proporcionalidade de pastas será rigorosamente mantida. Resta saber se os Estados detentores de ministérios serão os mesmos. Numa consulta realizada pelo deputado Ulysses Guimarães, durante a semana, ficou claro que apenas cinco dos atuais titulares confirmaram que pretendem mesmo disputar o pleito de novembro. Dessa maneira, diversos ministros, tidos, no ano passado, como virtualmente substituídos, deverão permanecer em seus postos. Em alguns setores é melhor que isso de fato aconteça, face ao bom resultado do trabalho desenvolvido. Em outros, a performance, posto que nenhum dos colaboradores de Sarney decepcionou por completo, não chegou a ser tão boa. E seria melhor para todos que tais pessoas fossem trocadas.

A tarefa do presidente, para montar esse autêntico quebra-cabeças, não é das mais fáceis. No ano passado, o então presidente eleito, Tancredo Neves, passou por idêntico problema. Recebeu pressões de todos os lados e foi forçado a fazer um desabafo contra elas, quando ainda se encontrava fora do País, no instante em que era recepcionado pelo presidente argentino, Raul Alfonsin, em Buenos Aires. Na oportunidade disse que não aceitava imposições e nem vetos, exigindo liberdade total para montar a sua equipe. O mesmo problema deve estar afetando o presidente Sarney, embora este esteja encarando a situação com uma fleugma digna de um lorde britânico.

A tarefa mais espinhosa do ano caberá aos ministros da área econômica, especialmente ao do Planejamento e ao da Fazenda, onde não se espera mudanças. Afinal, o País está atravessando um período de perversa seca na região considerada como o seu grande celeiro alimentar: o Sul, com reflexos imediatos nos preços dos gêneros de primeira necessidade e, por consequência, nas taxas de inflação. O descontentamento, alimentado, obviamente, por correntes contrárias ao governo, começa a instalar-se entre os que têm o orçamento doméstico corroído por esse monstro voraz. Boa parte desse desarranjo, entretanto, pode ser atribuída aos especuladores e o antídoto está em nossas mãos. Só a sociedade, como um todo, conseguirá contê-los.

O presidente Sarney, em seus pronunciamentos semanais por uma rede de emissoras de rádio, vem alertando seguidamente para o fato e pedindo a colaboração do povo. De que forma? Através de uma incansável procura por produtos mais baratos, nunca pagando aquilo que se evidenciar indevido, preservando assim o próprio bolso e forçando o explorador, o ganancioso, o exagerado a ter juízo na hora de estabelecer o preço.

Outra necessidade premente é um pacto entre toda a sociedade, não importa que nome receba. Somente ele fará com que a totalidade dos brasileiros se sinta compromissada a derrotar esse mal econômico que só beneficia a uma reduzidíssima minoria. Bem que dizia o poeta Rabindranath Tagore: "Todos os males do meu país, por mais graves que sejam, têm remédio, e esse remédio depende de mim". Sejamos, portanto, nós mesmos os médicos de nossa economia antes que seja tarde demais, sem esperar que os velhos ou os novos ministros façam isso, sozinhos, por nós.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular em 19 de janeiro de 1986)



Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk

No comments: