Reforma política
Pedro J. Bondaczuk
As atenções do Congresso,
neste período de convocação extraordinária, estão todas voltadas
praticamente para um único e exclusivo tema: a emenda constitucional
que prevê reeleição para todos os cargos executivos (prefeitos,
governadores e presidente da República). Todavia, há muitos
assuntos pendentes, de maior relevância do que este, a serem
apreciados e que não o serão. É lamentável, portanto, que se
gaste tanto tempo e dinheiro para aprovar aquilo que o povo quer.
O presidente Fernando Henrique
Cardoso, que se empenha pela aprovação da medida --- amplamente
apoiado pela opinião pública, conforme revelam as pesquisas --- já
obteve uma expressiva vitória, quando o projeto foi aprovado na
comissão da Câmara que trata do assunto. O duelo agora está sendo
transferido para o plenário.
O governo apregoa ter 20 votos
a mais do que o necessário para aprovar a emenda. A oposição
garante que se trata de blefe. De qualquer maneira, em uma manobra
ousada, o Planalto pretende que a medida seja votada em primeiro
turno pelos deputados até o próximo dia 29. Portanto, dentro da
vigência da convocação extraordinária. O segundo turno ficaria
para o período normal de sessões, bem como a tramitação no
Senado.
Estranha-se a razão de
líderes de partidos que inclusive integram o governo (casos
específicos do PMDB e do PPB) estarem se empenhando com tanto afinco
para inviabilizar a reeleição. Para tanto, lançam mão de todo e
qualquer artifício, até da distorção de informações, dando a
entender, nos meios de comunicação, que a aprovação da medida
implicaria em reeleger automaticamente FHC, por via indireta. Não se
trata de nada disso, obviamente.
O que a emenda prevê é que
os atuais prefeitos, governadores e presidente da República tenham a
chance de postular novos mandatos. Isto, se seus respectivos partidos
entenderem que o devam e aprovem suas candidaturas em convenção,
como ocorre com qualquer outro candidato. Quanto a se vão ser
reeleitos ou não, será o eleitor que irá decidir, livre e
soberanamente, nas urnas. Simples, não é mesmo?
O que é preciso (e
indispensável) é uma reforma política ampla, abrangente, profunda
e competente, que limite o número de partidos, que estabeleça a
fidelidade partidária, que institua o voto distrital, que dificulte
aventureiros e oportunistas de entrarem na vida pública e que torne
o comparecimento às urnas aquilo que sempre deveria ser: um direito
do cidadão e não um dever como é hoje.
É necessário devolver
nobreza e seriedade a essa atividade, tão desgastada aos olhos da
população. É fundamental que ideias prevaleçam sobre mesquinhos
interesses pessoais ou de grupos. Está na hora dos eleitos terem
condições de governabilidade, sem a necessidade de conchavos e às
vezes até negociatas para conseguirem apoios espúrios.
A reforma política se impõe,
é urgente, é inadiável, é indispensável, é prioritária até.
Quanto à reeleição, se fosse ruim, viciosa e "indecente"
como seus adversários apregoam, países como os Estados Unidos,
França e Rússia (para citar três onde o Presidencialismo impera,
ou puro ou híbrido, como nos casos francês e russo) não a teriam
adotado.
(Publicado na Folha do
Taquaral na segunda quinzena de janeiro de 1997)
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