Velha Guarda e sucessão
Pedro
J. Bondaczuk
Os membros
do Politburo russo, órgão dominado pela velha guarda do Cremlin,
parecem estar adotando, desde a morte de Leonid Brezhnev, (em
novembro de 1982) um comportamento diferente do habitual, no que se
refere à sucessão.
Pelo
menos no caso dos dois últimos secretários-gerais do PC, vêm
preferindo entregar o poder a burocratas que fizeram carreira no
partido e que, em virtude de suas avançadas idades, conseguem
permanecer pouco tempo no máximo posto da União Soviética.
Isso
aconteceu com Yuri Andropov, que quando assumiu o cargo, todos já
sabiam se tratar de um homem muito doente, acometido de graves
problemas renais, que acabariam determinando em pouco tempo a sua
morte, que viria a se confirmar há um ano.
O
mesmo procedimento foi adotado em relação a Constantin Chernenko,
que sofre de enfisema pulmonar e que novamente abre a possibilidade
de sucessão no Cremlin diante dos insistentes rumores sobre o
agravamento da sua doença.
A
União Soviética (que apenas passaria a adotar esse nome,
oficialmente, no dia 30 de dezembro de 1922), desde a primeira
revolução de 1917 (ocorreram duas nesse mesmo ano) teve sete
governos fixos e dois de transição.
Três
líderes dirigiram o país até a morte (Joseph Stalin, Leonid
Brezhnev e Yuri Andropov). Um foi deposto pela Revolução
Bolchevique de outubro de 1917 (o menchevique Aleksandr Kerenski, que
assumiu após a revolução de fevereiro de 1917, proclamando a
República em 14 de setembro desse mesmo ano).
Dois
caíram em desgraça e foram substituídos no correr de seus governos
(Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido por Lenin, em 12 de novembro de
1923 e Nikita Kruschev, em 14 de outubro de 1963). O último é
Constantin Chernenko, que nominalmente ainda detém o poder, embora
observadores garantam que quem governa de fato é um colegiado.
Dois
integrantes da velha guarda tiveram governos de transição. Mas não
conseguiram resistir à pressão de elementos mais ousados de
escalões mais baixos do partido e não puderam se firmar no cargo.
Foram Gueorgui Malenkov, que liderou um conselho governamental, de 5
de março de 1953 (quando da morte de Stalin) a 8 de fevereiro de
1955, quando acabou substituído por Nikolai Bulganin. E este último,
que perderia o lugar para Nikita Kruschev, em 27 de março de 1958.
Quando
surgiram as primeiras especulações sobre a doença de Chernenko
ainda no ano passado, observadores de dentro e de fora da União
Soviética deram como certa a ascensão de Mikhail Gorbachev ao
poder. Essa impressão ficou, até mesmo, reforçada após a visita
que este fez à Grã-Bretanha em dezembro, abruptamente interrompida
com a morte do ministro de Defesa russo, Dmitri Ustinov.
Nos
últimos dias, contudo, os especialistas sobre o Cremlin vêm
percebendo uma certa oposição ao nome desse político,
relativamente jovem, em se levando em conta a idade da maioria dos
membros do Politburo. Notaram uma tendência da velha guarda pela
manutenção do atual esquema de transitoriedade.
Alguns
diplomatas norte-americanos, com freqüentes contatos com Moscou,
chegaram a levantar, até mesmo, o nome do ministro de Relações
Exteriores russo (o folclórico senhor “nyet”), Andrei Gromiko,
como o preferido, atualmente, para suceder a Chernenko.
Entretanto,
por mais que se conheça o modo de agir dos soviéticos, é
impossível se dizer com certeza o que se passa por trás das
muralhas indevassáveis do centro do poder da URSS. É possível que
nenhum dos atuais cotados venha a vencer essa corrida, cercada de
tanto sigilo e mistério, muito ao gosto da formação oriental do
povo russo.
Pode
emergir qualquer um, subitamente, e frustrar todas as previsões. Até
mesmo Grigori Romanov, ou outra pessoa nem sequer cogitada na
atualidade. Tudo não passa, portanto, de palpite e especulação a
esse respeito. Por esse motivo, preferimos apostar na nossa intuição
e acreditar que, até a metade de 1985, Mikhail Gorbachev irá vencer
a disputa e levar um pouco da sua juventude à atual gerontocracia de
Moscou.
(Artigo
publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 10 de
fevereiro de 1985).
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