Wednesday, June 07, 2017

Velha Guarda e sucessão



Pedro J. Bondaczuk


Os membros do Politburo russo, órgão dominado pela velha guarda do Cremlin, parecem estar adotando, desde a morte de Leonid Brezhnev, (em novembro de 1982) um comportamento diferente do habitual, no que se refere à sucessão.

Pelo menos no caso dos dois últimos secretários-gerais do PC, vêm preferindo entregar o poder a burocratas que fizeram carreira no partido e que, em virtude de suas avançadas idades, conseguem permanecer pouco tempo no máximo posto da União Soviética.

Isso aconteceu com Yuri Andropov, que quando assumiu o cargo, todos já sabiam se tratar de um homem muito doente, acometido de graves problemas renais, que acabariam determinando em pouco tempo a sua morte, que viria a se confirmar há um ano.

O mesmo procedimento foi adotado em relação a Constantin Chernenko, que sofre de enfisema pulmonar e que novamente abre a possibilidade de sucessão no Cremlin diante dos insistentes rumores sobre o agravamento da sua doença.

A União Soviética (que apenas passaria a adotar esse nome, oficialmente, no dia 30 de dezembro de 1922), desde a primeira revolução de 1917 (ocorreram duas nesse mesmo ano) teve sete governos fixos e dois de transição.

Três líderes dirigiram o país até a morte (Joseph Stalin, Leonid Brezhnev e Yuri Andropov). Um foi deposto pela Revolução Bolchevique de outubro de 1917 (o menchevique Aleksandr Kerenski, que assumiu após a revolução de fevereiro de 1917, proclamando a República em 14 de setembro desse mesmo ano).

Dois caíram em desgraça e foram substituídos no correr de seus governos (Vladimir Ilitch Ulianov, conhecido por Lenin, em 12 de novembro de 1923 e Nikita Kruschev, em 14 de outubro de 1963). O último é Constantin Chernenko, que nominalmente ainda detém o poder, embora observadores garantam que quem governa de fato é um colegiado.

Dois integrantes da velha guarda tiveram governos de transição. Mas não conseguiram resistir à pressão de elementos mais ousados de escalões mais baixos do partido e não puderam se firmar no cargo. Foram Gueorgui Malenkov, que liderou um conselho governamental, de 5 de março de 1953 (quando da morte de Stalin) a 8 de fevereiro de 1955, quando acabou substituído por Nikolai Bulganin. E este último, que perderia o lugar para Nikita Kruschev, em 27 de março de 1958.

Quando surgiram as primeiras especulações sobre a doença de Chernenko ainda no ano passado, observadores de dentro e de fora da União Soviética deram como certa a ascensão de Mikhail Gorbachev ao poder. Essa impressão ficou, até mesmo, reforçada após a visita que este fez à Grã-Bretanha em dezembro, abruptamente interrompida com a morte do ministro de Defesa russo, Dmitri Ustinov.

Nos últimos dias, contudo, os especialistas sobre o Cremlin vêm percebendo uma certa oposição ao nome desse político, relativamente jovem, em se levando em conta a idade da maioria dos membros do Politburo. Notaram uma tendência da velha guarda pela manutenção do atual esquema de transitoriedade.

Alguns diplomatas norte-americanos, com freqüentes contatos com Moscou, chegaram a levantar, até mesmo, o nome do ministro de Relações Exteriores russo (o folclórico senhor “nyet”), Andrei Gromiko, como o preferido, atualmente, para suceder a Chernenko.

Entretanto, por mais que se conheça o modo de agir dos soviéticos, é impossível se dizer com certeza o que se passa por trás das muralhas indevassáveis do centro do poder da URSS. É possível que nenhum dos atuais cotados venha a vencer essa corrida, cercada de tanto sigilo e mistério, muito ao gosto da formação oriental do povo russo.

Pode emergir qualquer um, subitamente, e frustrar todas as previsões. Até mesmo Grigori Romanov, ou outra pessoa nem sequer cogitada na atualidade. Tudo não passa, portanto, de palpite e especulação a esse respeito. Por esse motivo, preferimos apostar na nossa intuição e acreditar que, até a metade de 1985, Mikhail Gorbachev irá vencer a disputa e levar um pouco da sua juventude à atual gerontocracia de Moscou.

(Artigo publicado na página 18, Internacional, do Correio Popular, em 10 de fevereiro de 1985).



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