Economia tende para sistema
global
Pedro J. Bondaczuk
O presidente soviético,
Mikhail Gorbachev, numa longa entrevista que concedeu na noite de
sábado à televisão estatal de seu país, manchetada, anteontem,
por quase toda a imprensa européia, reiterou que não pretende ir a
Londres, se encontrar com os líderes das sete potências mais
industrializadas do mundo, no mês que vem, para "implorar ajuda
como mendigo", nem para "chantagear o Ocidente".
Aliás, se essa fosse a sua
intenção, experiente como é, ele deveria saber que seria pura
perda de tempo. Afinal, a cúpula vai reunir os estadistas mais
tarimbados e escolados da atualidade: os presidentes George Bush, dos
Estados Unidos, e François Mitterrand, da França, e os
primeiros-ministros John Major, da Grã-Bretanha; Helmut Kohl, da
Alemanha; Toshiki Kaifu, do Japão; Brian Mulroney, do Canadá e
Giulio Andreotti, da Itália.
Pela simples menção desses
nomes, se percebe que seus interlocutores são estadistas acostumados
às mais sutis armadilhas políticas. Ademais, seus países
atravessam, atualmente, por dificuldades econômicas internas e
nenhum deles tem dinheiro de sobra para investir em negócios sem
retorno.
Portanto, a menos que
Gorbachev tenha um projeto bastante sólido a apresentar, não
conseguirá qualquer acordo de cooperação mútua. Mas o problema
não se resume apenas a isso. Os sete líderes dos países altamente
industrializados não detêm controle absoluto sobre o grosso da
economia de seus respectivos Estados. Afinal, tratam-se de sociedades
capitalistas. Ali vigora o mercado, que se auto-regula.
O máximo que tais dirigentes
podem fazer pela União Soviética é suspender as restrições de
investimentos em determinados setores nobres, que podem beneficiar a
indústria armamentista da superpotência do Leste. O mais, quem terá
de fazer será o próprio Gorbachev, mostrando que o mercado
potencial da URSS é bastante atrativo. E que ele está realmente
determinado a votar esse sistema.
A economia tende, cada vez
mais, a uma globalização, por obra e graça dos grandes
conglomerados industriais, sem que governos desejem ou mesmo possam
impedir. O grande pensador e consultor de negócios japonês, Kenichi
Ohmas, percebeu com grande clareza essa tendência, que ele descreve
no seu livro "O mundo sem fronteiras" (lançado
recentemente no Brasil pela Makron Books/Editora McGraw Hill).
Esse "expert" em
macroeconomia idealizou uma nova ordem mundial, num mundo sem
fronteiras, onde o que conta, para o sucesso tanto de países, quanto
de produtos e principalmente de empresas, são a competência, a
produtividade e a qualidade. Tudo o mais não passa de detalhe. Tal
política globalizante, aliás, já vem sendo praticada por grupos
gigantescos, como Sony, Mercedes-Benz, Olivetti, American Express e
muitos outros.
Ohmas considera o nacionalismo
econômico mais do que um anacronismo: uma bobagem. E acentua: "Na
hora de pagar, você não se preocupa com o país de origem (do
produto adquirido) nem com o país de residência. Você não pensa
na taxa de desemprego nem no déficit comercial. Você não se
preocupa com o lugar onde o produto foi feito. Não se interessa se
um tênis 'inglês' da Reebok (agora uma empresa americana) foi feito
na Coréia, um tênis alemão, da Addidas, em Taiwan ou um Ski
francês da Rossignol na Espanha. O que interessa mais são a
qualidade, preço, design, valor e atração que o produto exerce
sobre você como consumidor".
E isto vale para qualquer
lugar, inclusive para a União Soviética. Portanto, se Gorbachev
quiser, de fato, colocar seu país na mão certa da história, deve
dar ouvidos ao seu povo e retirar, depressinha, a intervenção do
Estado na economia. O mais não passa de retórica de políticos.
(Artigo publicado na página
17, Internacional, do Correio Popular, em 18 de junho de 1991).
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