Tuesday, June 13, 2017

Economia tende para sistema global


Pedro J. Bondaczuk


O presidente soviético, Mikhail Gorbachev, numa longa entrevista que concedeu na noite de sábado à televisão estatal de seu país, manchetada, anteontem, por quase toda a imprensa européia, reiterou que não pretende ir a Londres, se encontrar com os líderes das sete potências mais industrializadas do mundo, no mês que vem, para "implorar ajuda como mendigo", nem para "chantagear o Ocidente".

Aliás, se essa fosse a sua intenção, experiente como é, ele deveria saber que seria pura perda de tempo. Afinal, a cúpula vai reunir os estadistas mais tarimbados e escolados da atualidade: os presidentes George Bush, dos Estados Unidos, e François Mitterrand, da França, e os primeiros-ministros John Major, da Grã-Bretanha; Helmut Kohl, da Alemanha; Toshiki Kaifu, do Japão; Brian Mulroney, do Canadá e Giulio Andreotti, da Itália.

Pela simples menção desses nomes, se percebe que seus interlocutores são estadistas acostumados às mais sutis armadilhas políticas. Ademais, seus países atravessam, atualmente, por dificuldades econômicas internas e nenhum deles tem dinheiro de sobra para investir em negócios sem retorno.

Portanto, a menos que Gorbachev tenha um projeto bastante sólido a apresentar, não conseguirá qualquer acordo de cooperação mútua. Mas o problema não se resume apenas a isso. Os sete líderes dos países altamente industrializados não detêm controle absoluto sobre o grosso da economia de seus respectivos Estados. Afinal, tratam-se de sociedades capitalistas. Ali vigora o mercado, que se auto-regula.

O máximo que tais dirigentes podem fazer pela União Soviética é suspender as restrições de investimentos em determinados setores nobres, que podem beneficiar a indústria armamentista da superpotência do Leste. O mais, quem terá de fazer será o próprio Gorbachev, mostrando que o mercado potencial da URSS é bastante atrativo. E que ele está realmente determinado a votar esse sistema.

A economia tende, cada vez mais, a uma globalização, por obra e graça dos grandes conglomerados industriais, sem que governos desejem ou mesmo possam impedir. O grande pensador e consultor de negócios japonês, Kenichi Ohmas, percebeu com grande clareza essa tendência, que ele descreve no seu livro "O mundo sem fronteiras" (lançado recentemente no Brasil pela Makron Books/Editora McGraw Hill).

Esse "expert" em macroeconomia idealizou uma nova ordem mundial, num mundo sem fronteiras, onde o que conta, para o sucesso tanto de países, quanto de produtos e principalmente de empresas, são a competência, a produtividade e a qualidade. Tudo o mais não passa de detalhe. Tal política globalizante, aliás, já vem sendo praticada por grupos gigantescos, como Sony, Mercedes-Benz, Olivetti, American Express e muitos outros.

Ohmas considera o nacionalismo econômico mais do que um anacronismo: uma bobagem. E acentua: "Na hora de pagar, você não se preocupa com o país de origem (do produto adquirido) nem com o país de residência. Você não pensa na taxa de desemprego nem no déficit comercial. Você não se preocupa com o lugar onde o produto foi feito. Não se interessa se um tênis 'inglês' da Reebok (agora uma empresa americana) foi feito na Coréia, um tênis alemão, da Addidas, em Taiwan ou um Ski francês da Rossignol na Espanha. O que interessa mais são a qualidade, preço, design, valor e atração que o produto exerce sobre você como consumidor".

E isto vale para qualquer lugar, inclusive para a União Soviética. Portanto, se Gorbachev quiser, de fato, colocar seu país na mão certa da história, deve dar ouvidos ao seu povo e retirar, depressinha, a intervenção do Estado na economia. O mais não passa de retórica de políticos.

(Artigo publicado na página 17, Internacional, do Correio Popular, em 18 de junho de 1991).



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