Wednesday, June 28, 2017

É hora de dar certo


Pedro J. Bondaczuk


O Brasil completa 170 anos de sua emancipação política atravessando a mais aguda crise da sua história. Não bastassem as agruras econômicas que se abatem sobre a população, com uma inflação oscilando, teimosamente, há um ano, entre 20% e 27%, uma recessão, que vem de longa data e sem prazo para acabar, ainda tem de contrapeso um impasse político, com um presidente desacreditado pela quase totalidade dos que o elegeram --- os que não votaram nele não acreditaram em suas promessas e propostas desde o início --- e que teima em se aferrar ao poder, mesmo tendo perdido a credibilidade.

Trata-se de um momento crítico, perigoso, incerto da vida nacional. Talvez o pior já enfrentado por esta sociedade jovem, um, tanto imatura, que está tendo de amadurecer às custas de imenso sofrimento. Todavia, este não é o momento para descrença, para letargia, para ficar choramingando à espera de algum milagre. Até porque, de milagreiros todos já estão para lá de fartos.

O escritor Viana Moog constatou quer "as nações, como os indivíduos, não é propriamente em períodos de bonança e plenitude que se revelam à verdadeira luz, senão em momentos excepcionais, quando sua verdadeira natureza vem à tona no desdobramento pleno de energias, virtudes e defeitos".

As mazelas que acompanham os brasileiros desde o início da formação da nacionalidade são sobejamente conhecidas. Nos últimos tempos muito se falou, escreveu e se debateu sobre o caráter deste povo. Desde 1985, o que mais se tem feito na imprensa, nas ruas, nas praças e nos lares é apontar os vícios e os comportamentos aéticos que se atribuem aos cidadãos deste País.

Mas será que nossa gente só tem defeitos? Falta vir a lume o outro lado da moeda. É preciso iniciar, agora, uma nova fase da auto-análise, ressaltando também as virtudes do brasileiro, que não são poucas. Sua cordialidade, sua alegria natural, seu senso de humor conservado em situações que levam outros povos à exasperação e à violência, são alguns dos aspectos positivos que têm que ser enfatizados.

Será que não existe nenhum homem honesto, íntegro, voluntarioso, competente e patriota neste País? Claro que há! E muitos, se não a maioria. Uma análise desapaixonada, sem concessões e nem exageros, vai mostrar que os corruptos, os desonestos, os aproveitadores, os preguiçosos, os desleais e os imorais são, na verdade, grande minoria.

Aparecem tanto, ao ponto de parecer que são muitos, porque ocupam posições que lhes não são devidas. São uns usurpadores. Caso fossem a maioria, que os pessimistas garantem que são, o País já haveria parado e se desorganizado de vez. Não haveria nenhum serviço público funcionando. O Brasil estaria mergulhado no caos.

As generalizações feitas nos processos coletivos e exagerados do "mea culpa" nacional são perversas e injustas. Colocam, no mesmo saco, pessoas tão desamparadas que sequer sabem porque vivem e intelectuais com obra respeitada e consistente. Iguala trabalhadores, idealistas, tementes a Deus, a bandidos desalmados, cínicos e egoístas, que não têm lealdade por nada e ninguém.

Nunca é demais reiterar que as crises, embora sinalizem perigos, também propiciam oportunidades. Está na hora do Brasil, que comemora apenas 170 anos de independência, dê a grande virada de progresso e de solidariedade.

Este é o trabalho que compete à presente e tão sofrida geração de brasileiros completar. Cabe-lhe, também, livrar o Brasil das pseudo-elites corruptas e apodrecidas e tomar os destinos da Pátria nas mãos. O País, por seu fabuloso potencial, material e humano, tem tudo para dar certo. E se quisermos, haverá de dar.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de setembro de 1992).



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