É hora de dar certo
Pedro J. Bondaczuk
O Brasil completa 170 anos de
sua emancipação política atravessando a mais aguda crise da sua
história. Não bastassem as agruras econômicas que se abatem sobre
a população, com uma inflação oscilando, teimosamente, há um
ano, entre 20% e 27%, uma recessão, que vem de longa data e sem
prazo para acabar, ainda tem de contrapeso um impasse político, com
um presidente desacreditado pela quase totalidade dos que o elegeram
--- os que não votaram nele não acreditaram em suas promessas e
propostas desde o início --- e que teima em se aferrar ao poder,
mesmo tendo perdido a credibilidade.
Trata-se de um momento
crítico, perigoso, incerto da vida nacional. Talvez o pior já
enfrentado por esta sociedade jovem, um, tanto imatura, que está
tendo de amadurecer às custas de imenso sofrimento. Todavia, este
não é o momento para descrença, para letargia, para ficar
choramingando à espera de algum milagre. Até porque, de milagreiros
todos já estão para lá de fartos.
O escritor Viana Moog
constatou quer "as nações, como os indivíduos, não é
propriamente em períodos de bonança e plenitude que se revelam à
verdadeira luz, senão em momentos excepcionais, quando sua
verdadeira natureza vem à tona no desdobramento pleno de energias,
virtudes e defeitos".
As mazelas que acompanham os
brasileiros desde o início da formação da nacionalidade são
sobejamente conhecidas. Nos últimos tempos muito se falou, escreveu
e se debateu sobre o caráter deste povo. Desde 1985, o que mais se
tem feito na imprensa, nas ruas, nas praças e nos lares é apontar
os vícios e os comportamentos aéticos que se atribuem aos cidadãos
deste País.
Mas será que nossa gente só
tem defeitos? Falta vir a lume o outro lado da moeda. É preciso
iniciar, agora, uma nova fase da auto-análise, ressaltando também
as virtudes do brasileiro, que não são poucas. Sua cordialidade,
sua alegria natural, seu senso de humor conservado em situações que
levam outros povos à exasperação e à violência, são alguns dos
aspectos positivos que têm que ser enfatizados.
Será que não existe nenhum
homem honesto, íntegro, voluntarioso, competente e patriota neste
País? Claro que há! E muitos, se não a maioria. Uma análise
desapaixonada, sem concessões e nem exageros, vai mostrar que os
corruptos, os desonestos, os aproveitadores, os preguiçosos, os
desleais e os imorais são, na verdade, grande minoria.
Aparecem tanto, ao ponto de
parecer que são muitos, porque ocupam posições que lhes não são
devidas. São uns usurpadores. Caso fossem a maioria, que os
pessimistas garantem que são, o País já haveria parado e se
desorganizado de vez. Não haveria nenhum serviço público
funcionando. O Brasil estaria mergulhado no caos.
As generalizações feitas nos
processos coletivos e exagerados do "mea culpa" nacional
são perversas e injustas. Colocam, no mesmo saco, pessoas tão
desamparadas que sequer sabem porque vivem e intelectuais com obra
respeitada e consistente. Iguala trabalhadores, idealistas, tementes
a Deus, a bandidos desalmados, cínicos e egoístas, que não têm
lealdade por nada e ninguém.
Nunca é demais reiterar que
as crises, embora sinalizem perigos, também propiciam oportunidades.
Está na hora do Brasil, que comemora apenas 170 anos de
independência, dê a grande virada de progresso e de solidariedade.
Este é o trabalho que compete
à presente e tão sofrida geração de brasileiros completar.
Cabe-lhe, também, livrar o Brasil das pseudo-elites corruptas e
apodrecidas e tomar os destinos da Pátria nas mãos. O País, por
seu fabuloso potencial, material e humano, tem tudo para dar certo. E
se quisermos, haverá de dar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 6 de setembro de 1992).
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