Monday, June 12, 2017

Lições de sabedoria e bom senso


Pedro J. Bondaczuk


A nossa tendência natural, quase que instintiva, é, salvo exceções (e bastante raras) a de atribuirmos as causas dos problemas que nos atormentam e em que nos vemos metidos, e não importa a sua natureza e/ou complexidade, à interferência de terceiros. Raramente nos julgamos culpados por sua ocorrência, mesmo que nossa culpa seja ostensiva.

Buscamos, amiúde, justificar, e muitas vezes com argumentos pueris, o injustificável, mesmo que aos olhos de terceiros seja evidente nossa responsabilidade, total ou parcial, pela ocorrência daquilo que nos amofina, aborrece e preocupa. Com isso, ou retardamos, ou mesmo inviabilizamos as soluções. É como no caso das doenças. Caso a insanidade que nos afete seja diagnosticada de maneira incorreta, dificilmente a terapia recomendada fará efeito. Em vez de curá-la, a tendência lógica será apenas o seu agravamento.

Lendo, hoje de manhã, o livro “Trilogia da paixão”, de Johann Wolfgang Von Goethe – edição bilíngüe, com tradução de Erlon José Paschoal, da L&PM Editores, 2009 – topei, casualmente, com esta afirmação do autor que vem a calhar nestas descompromissadas reflexões: “A causa maior dos nossos problemas sempre oscila entre a ignorância e a negligência”. A princípio, este trecho ia passando batido na leitura, mas, por alguma razão, essas palavras ficaram martelando-me no cérebro sem cessar. Meditando sobre elas, porém, não tive como discordar da observação deste que é considerado, com justiça, um dos maiores expoentes intelectuais alemães de todos os tempos.

De fato, Goethe está coberto de razão. Boa parte dos nossos problemas (e não raro todos eles), é causada ou por ignorância, por desconhecermos sua raiz, ou por nossa negligência e omissão. Ou seja, por não agirmos com a devida presteza, ou (pior) com nenhuma, quando eles “afloram”. No primeiro caso, “diagnosticamos” equivocadamente a “doença”, inviabilizando a cura, por aplicarmos “remédios” inapropriados e, portanto, inócuos na tentativa de saná-la. No segundo, não agimos no tempo certo, quando poderíamos prevenir o que mais tarde pode nem mais ter solução. Ou não é assim?

Sinto que poucas pessoas em nosso País se dão ao prazer de ler os livros de Goethe, embora haja quantidade razoável deles traduzida para o português e à nossa disposição. Diga-se de passagem, que este clássico alemão nutria grande interesse pela cultura brasileira. Em sua biblioteca, havia 17 livros tratando do Brasil em seus mais variados aspectos. Ademais, emprestava com freqüência obras que versassem sobre o nosso país, que lhe causava particular fascínio. Foi notável a influência que exerceu sobre Machado de Assis e, mais recentemente, sobre a obra de João Guimarães Rosa. É, portanto, um autor cujos livros não podem faltar na biblioteca de nenhum intelectual, principalmente se for escritor.

Identifico-me bastante com o pensamento de Goethe e, quanto mais leio seus dramas, romances, novelas, poemas e ensaios; mais aprendo e mais quero aprender. Emoldurei, por exemplo, esta sua citação, “cada novo dia nos repete: espere o impossível, faça o possível” e coloquei-a bem à minha frente, diante da minha escrivaninha, como uma espécie de lema para inspirar minha jornada diária. Por isso, não tenho moderação em meus sonhos e expectativas e nem no meu empenho em concretizá-los, embora tenha consciência de que sempre deverei me empenhar o máximo apenas para obter o mínimo do que desejo. .

Por fim, encerro estas reflexões com esta pérola de sabedoria e de bom senso de Goethe, que partilho com você, constante e paciente leitor: “Se tomardes a vida com excessiva severidade, que atração tem? Se a manhã não vos convidar a novas alegrias e se à noite não esperardes nenhum prazer, valerá a pena vestir-se e despir-se?”. Responda a si mesmo se é ou não é a forma mais inteligente e racional de encarar cada novo dia.


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