Lições de sabedoria e bom
senso
Pedro J. Bondaczuk
A nossa tendência natural,
quase que instintiva, é, salvo exceções (e bastante raras) a de
atribuirmos as causas dos problemas que nos atormentam e em que nos
vemos metidos, e não importa a sua natureza e/ou complexidade, à
interferência de terceiros. Raramente nos julgamos culpados por sua
ocorrência, mesmo que nossa culpa seja ostensiva.
Buscamos, amiúde, justificar,
e muitas vezes com argumentos pueris, o injustificável, mesmo que
aos olhos de terceiros seja evidente nossa responsabilidade, total ou
parcial, pela ocorrência daquilo que nos amofina, aborrece e
preocupa. Com isso, ou retardamos, ou mesmo inviabilizamos as
soluções. É como no caso das doenças. Caso a insanidade que nos
afete seja diagnosticada de maneira incorreta, dificilmente a terapia
recomendada fará efeito. Em vez de curá-la, a tendência lógica
será apenas o seu agravamento.
Lendo, hoje de manhã, o livro
“Trilogia da paixão”, de Johann Wolfgang Von Goethe – edição
bilíngüe, com tradução de Erlon José Paschoal, da L&PM
Editores, 2009 – topei, casualmente, com esta afirmação do autor
que vem a calhar nestas descompromissadas reflexões: “A causa
maior dos nossos problemas sempre oscila entre a ignorância e a
negligência”. A princípio, este trecho ia passando batido na
leitura, mas, por alguma razão, essas palavras ficaram martelando-me
no cérebro sem cessar. Meditando sobre elas, porém, não tive como
discordar da observação deste que é considerado, com justiça, um
dos maiores expoentes intelectuais alemães de todos os tempos.
De fato, Goethe está coberto
de razão. Boa parte dos nossos problemas (e não raro todos eles), é
causada ou por ignorância, por desconhecermos sua raiz, ou por nossa
negligência e omissão. Ou seja, por não agirmos com a devida
presteza, ou (pior) com nenhuma, quando eles “afloram”. No
primeiro caso, “diagnosticamos” equivocadamente a “doença”,
inviabilizando a cura, por aplicarmos “remédios” inapropriados
e, portanto, inócuos na tentativa de saná-la. No segundo, não
agimos no tempo certo, quando poderíamos prevenir o que mais tarde
pode nem mais ter solução. Ou não é assim?
Sinto que poucas pessoas em
nosso País se dão ao prazer de ler os livros de Goethe, embora haja
quantidade razoável deles traduzida para o português e à nossa
disposição. Diga-se de passagem, que este clássico alemão nutria
grande interesse pela cultura brasileira. Em sua biblioteca, havia 17
livros tratando do Brasil em seus mais variados aspectos. Ademais,
emprestava com freqüência obras que versassem sobre o nosso país,
que lhe causava particular fascínio. Foi notável a influência que
exerceu sobre Machado de Assis e, mais recentemente, sobre a obra de
João Guimarães Rosa. É, portanto, um autor cujos livros não podem
faltar na biblioteca de nenhum intelectual, principalmente se for
escritor.
Identifico-me bastante com o
pensamento de Goethe e, quanto mais leio seus dramas, romances,
novelas, poemas e ensaios; mais aprendo e mais quero aprender.
Emoldurei, por exemplo, esta sua citação, “cada novo dia nos
repete: espere o impossível, faça o possível” e coloquei-a bem à
minha frente, diante da minha escrivaninha, como uma espécie de lema
para inspirar minha jornada diária. Por isso, não tenho moderação
em meus sonhos e expectativas e nem no meu empenho em concretizá-los,
embora tenha consciência de que sempre deverei me empenhar o máximo
apenas para obter o mínimo do que desejo. .
Por fim, encerro estas
reflexões com esta pérola de sabedoria e de bom senso de Goethe,
que partilho com você, constante e paciente leitor: “Se tomardes a
vida com excessiva severidade, que atração tem? Se a manhã não
vos convidar a novas alegrias e se à noite não esperardes nenhum
prazer, valerá a pena vestir-se e despir-se?”. Responda a si mesmo
se é ou não é a forma mais inteligente e racional de encarar cada
novo dia.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment