Fonte dos atos
Pedro J. Bondaczuk
As pessoas que sabem e,
sobretudo, querem concretizar idéias (próprias e/ou alheias) em
atos e que, de fato, as concretizam, são sumamente valiosas em
qualquer contexto social. Até aqui, não expressei nenhuma novidade
e me limitei a constatar o óbvio. Claro que me refiro às ações
positivas, porquanto há, e em grande profusão, quem se especialize,
apenas, em destruir. Desses é melhor nem falar. Quero distância (e
a maior possível) de gente assim.
Há, também, (e suspeito que
seja a maioria) pessoas que não agem porque não sabem, não querem
ou não podem. Às primeiras, o remédio é ensiná-las a agir.
Sempre é possível. As segundas ocupam a categoria dos omissos e
nada e ninguém consegue demovê-las dessa atitude cômoda e covarde.
O melhor é nunca contar com elas. Finalmente, às terceiras,
compete-nos dar-lhes um desconto e tentar suprir sua impossibilidade,
agindo por elas.
Todas as sociedades, em maior
ou menor grau, são compostas desses dois tipos: dos que agem e dos
que (pelas razões apontadas) não fazem isso. A palavra-chave para
explicar os dois casos é uma só. Aliás, é uma expressão
fartamente utilizada, no entanto pouco compreendida. Refiro-me à
expressão “atitude”.
E no que ela consiste? Ou
melhor, o que significa? A própria raiz da palavra, “at”, já
sugere seu significado. Ou seja, é a predisposição mental e física
que leva alguém a praticar um ato, em suma, a agir. Querem uma
definição mais técnica? Pois não! Lá vai! Recorro, todavia, ao
renomado psicólogo e ex-professor de Harvard, especialista em
ciência do comportamento, criador, entre outras tantas façanhas da
“teoria da personalidade”, tido e havido como um dos “pais”
da Psicologia Social, Gordon W. Allport.
Para esse pesquisador,
“atitude é um estado de preparação mental ou neural, organizado
através da experiência e exercendo uma influência dinâmica sobre
as respostas individuais a todos os objetos ou situações com que se
relaciona”. Gostaram da definição? Creio que a minha é mais
simples, embora esteja longe da desejada precisão.
Convém ressaltar que nem toda
atitude é positiva. Há os que se predispõem a agir, é verdade,
mas para prejudicar a alguém, quando não a si próprios. Isso é
muito comum. Melhor seria, pois, é evidente, que não tivessem essa
predisposição.
É possível que alguém aja
sem intenção (desculpa a que muitos recorrem, amiúde,
principalmente quando constatam que seus atos trouxeram prejuízos,
às vezes até irreparáveis, aos outros)? Não, não e não!!! Não
há ato (positivo ou negativo, construtivo, neutro ou destrutivo) que
não seja rigorosamente intencional. Pode ser que seu autor não
tencionasse causar danos com sua ação. Mas esta, intrinsecamente,
sempre é de caso pensado, quer seu autor admita, quer não.
E quem assegura isso não sou
eu, mero curioso de psicologia e da ciência do comportamento (a
Etologia). É o mestre já citado, Gordon W. Allport, que escreveu,
em um de seus tantos livros: “A tradição leibnitziana afirma que
a pessoa não é uma coleção de atos, a pessoa é a fonte dos atos.
E a atividade em si não é concebida como uma agitação resultante
de impulsos dados por estímulos internos ou externos. Ela é
intencional”.
Estão vendo? A desculpa,
portanto, dada por seu filho, de que “não queria quebrar aquele
precioso vaso de porcelana chinesa da Dinastia Ming” não cola. É
certo que provavelmente não desejasse destruir esse valioso objeto
que você estima tanto. Mas desejava jogar bola (tanto que jogou). E
por mais ingênuo que possa ser (não sei se é), sabia que uma
bolada acidental, o que era muito provável dada a inadequação do
local para esse tipo de brincadeira, produziria o resultado que
produziu.
A quais conclusões podemos
chegar dessas nossas descompromissadas reflexões? A primeira é a de
que nossos atos, todos, derivam de uma atitude (a mesma que Wanderley
Luxemburgo, Dunga, Muricy Ramalho e outros tantos técnicos de
futebol cobram, amiúde, de seus jogadores, possivelmente sem saberem
do que estão falando, quando seus respectivos times não
correspondem ao que sua diretoria e seus torcedores esperam deles).
Ou seja, vontade e predisposição de agir (no caso, com competência
e talento). E a efetivação dessa ação, é claro.
A segunda e mais importante
das conclusões que podemos extrair é a de que nenhum ato é
aleatório, fortuito, praticado meramente ao sabor do acaso e das
circunstâncias. E muito menos resulta de impulsos internos ou
externos. É, sempre e sempre, fruto de uma intenção. Ou seja, não
somos, como alguns pensam, coleções de atos. Somos suas fontes.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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