Os bônus e as fraudes
Pedro J. Bondaczuk
As recém
findas eleições gerais, que em muitos Estados (inclusive São
Paulo) terão desdobramentos, com a realização do segundo turno,
forneceram um vasto material de análise para os comentaristas. Foram
exaustivamente ressaltados e comentados vários aspectos da votação
(em especial o veredito das urnas), positivos e negativos.
Há
dois, no entanto, que merecem consideração, por se tratar de
comportamento distorcido, a ser corrigido no futuro. Um deles é a
questão do financiamento das campanhas, através dos controvertidos
bônus eleitorais. O outro é a “megafraude” verificada em
algumas juntas apuradoras do Rio de Janeiro.
No
primeiro caso, o dispositivo introduzido no ano passado na
legislação, com propósitos supostamente moralizantes, não
funcionou a contento. É verdade que o Tribunal Superior Eleitoral
ainda não recebeu a prestação de contas dos partidos.
É
possível, até, que quando receber, a suspeita de que o mecanismo
não tenha funcionado tenha que ser reconsiderada. Mas tudo leva a
crer que a quase totalidade dos bônus emitidos tenha que ser
devolvida à Casa da Moeda intacta.
Se
as campanhas não foram financiadas por esse meio legal, qual a fonte
de recursos utilizada para fazer face às despesas? Que não se venha
dizer que a propaganda gratuita por rádio e televisão, da forma
como esteve estruturada, foi suficiente para eleger alguém.
É
claro que esse expediente foi ineficaz, pelo menos no que diz
respeito às eleições proporcionais. Tratou-se de mera perda de
tempo, posto que provavelmente bem intencionada. De duas, uma: ou as
campanhas foram gratuitas, o que nem o mais ingênuo dos ingênuos
acreditaria, ou os velhos e viciosos expedientes de sempre foram
utilizados, o que requer uma apuração.
O
eleitor merece ser tratado como o grande agente da democracia, que de
fato é. Portanto, compete aos partidos agirem com transparência e
revelarem suas fontes de financiamento, sem mentiras ou subterfúgios.
Quanto às fraudes no Rio, chega a ser revoltante a atitude dos
criminosos que estão por trás delas.
O
pior é que foram tramadas por bandidos atrevidos e perigosos, que
lançam mão dos recursos mais escusos, e têm o desplante de ameaçar
de morte os juizes do TSE. Certamente é obra do crime organizado,
tentando lançar suas perversas garras corruptoras rumo ao próprio
poder.
As
grandes quadrilhas, que acabaram com o Rio de Janeiro, fazendo da
população da Segunda maior cidade do País sua refém, tentam
transformar o Brasil numa Colômbia de fins da década passada,
quando o narcotráfico estava infiltrado por toda a parte, nas várias
instituições, inclusive nas esferas mais altas da administração.
Não
podemos admitir que isso ocorra aqui. Já está tardando em demasia
alguma providência mais dura contra esses bandidos, que não têm a
menor consideração por quem quer que seja.
O
ideal é que as eleições na ex-capital federal sejam anuladas e
feitas de novo, desta vez com a proteção do Exército. Apenas assim
não restará nenhum tipo de suspeita contra os eleitos. Será que a
atuação do crime organizado se restringiu apenas às seções onde
as fraudes foram comprovadas?
Os
candidatos que não forem beneficiados pelos votos fraudados ficarão
numa situação bastante incômoda, mesmo sem nada dever. Mas os
fraudadores não podem ficar impunes, para que não se sintam
estimulados a cometer delitos ainda mais graves do que este e tantos
outros que vêm praticando. Cadeia neles!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de
outubro de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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