Leste europeu procura modelos
Pedro J. Bondaczuk
"O socialismo, no modelo
que vigorava na União Soviética e no Leste europeu, até
recentemente, morreu, diante do fracasso do sistema econômico
centralizado e da falta de liberdade política", é a afirmação
que mais se ouve atualmente. Diante dessa constatação, governos
ocidentais e organismos multilaterais apressam-se a oferecer
propostas, alternativas, "mapas da mina" aos povos da
Europa Oriental, para saírem da crise em que se veem metidos. Como
se isso fosse possível e funcionasse automaticamente.
Para uns, tais países devem
adotar, pura e simplesmente, o "capitalismo moderno". Para
outros, o ideal seria uma mescla das duas ideologias antagônicas,
extraindo de cada uma delas o que tiverem de melhor e abandonando seu
lado pernicioso. Mas teria, de fato, o socialismo morrido, como
querem seus adversários ou ele está passando somente pelas tensões
naturais de uma profunda reciclagem?
O modelo denominado de
"comunista", como o que vigorou na União Soviética e seus
antigos satélites, especialmente depois da ascensão de Joseph
Stalin ao poder, em meados da década de 1920, está, de fato,
moribundo. Já não é mais atrativo para povo algum, nem mesmo para
os jovens países africanos que o adotaram e que agora se sentem
frustrados.
A chamada "ditadura do
proletariado" mostrou toda sua inconsistência ao não conseguir
prover os trabalhadores dos bens básicos, e ninguém, em sã
consciência, vê nela uma alternativa séria nos dias que correm. O
deputado federal Domingos Leonelli, no artigo "O Socialismo
Morreu? Viva o Socialismo", publicado em 14 de maio de 1990 no
jornal Folha de S. Paulo observou: "O que morreu do socialismo
foi seu componente dogmático e totalitário". Ou seja,
exatamente o que o sistema tinha de odioso e de desnecessário.
O seu ideal de humanismo,
todavia, permanece. É nele que algumas lideranças buscam um ponto
de partida, uma sólida base para a construção de um sistema ideal,
para uma profunda reciclagem, uma reforma substancial e não
meramente formal de todo seu arcabouço.
Um desses líderes é o
presidente soviético Mikhail Gorbachev, que na verdade não propõe
e nunca propôs uma simples substituição do socialismo pelo
capitalismo, que no dizer de Leonelli, mesmo dispondo "de tão
grandioso aparato tecnológico, econômico e cultural, não foi capaz
de sequer reduzir a miséria, a fome e a delinqüência. Com toda sua
modernidade convive com a brutal iniquidade da existência de uma
sub-raça humana sobre o Planeta tão diminuído pela instantaneidade
dos meios de comunicação".
Como se vê, a adoção dessa
alternativa está muito distante de ser a ideal. Até porque,
capitalismo e democracia estão longe de serem sinônimos. Gorbachev
prega um novo socialismo, em bases democráticas. Há uma enorme
ambigüidade em torno do que significa de fato "ser democrata".
A pretensa falência
socialista, as alternativas para as duas fracassadas ideologias e
suas derivações --- que predominaram no mundo nos dois últimos
séculos, antagonicamente, numa bipolaridade incompreensível, já
que o homem tem capacidade para descobrir infinitos caminhos para
regular sua vida em sociedade que não somente estes dois ---, serão
os temas centrais da tese que buscaremos desenvolver nos próximos
artigos.
(Artigo publicado na página
14, Internacional, do Correio Popular, em 20 de março de 1991).
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