Saturday, June 03, 2017

Leste europeu procura modelos


Pedro J. Bondaczuk


"O socialismo, no modelo que vigorava na União Soviética e no Leste europeu, até recentemente, morreu, diante do fracasso do sistema econômico centralizado e da falta de liberdade política", é a afirmação que mais se ouve atualmente. Diante dessa constatação, governos ocidentais e organismos multilaterais apressam-se a oferecer propostas, alternativas, "mapas da mina" aos povos da Europa Oriental, para saírem da crise em que se veem metidos. Como se isso fosse possível e funcionasse automaticamente.

Para uns, tais países devem adotar, pura e simplesmente, o "capitalismo moderno". Para outros, o ideal seria uma mescla das duas ideologias antagônicas, extraindo de cada uma delas o que tiverem de melhor e abandonando seu lado pernicioso. Mas teria, de fato, o socialismo morrido, como querem seus adversários ou ele está passando somente pelas tensões naturais de uma profunda reciclagem?

O modelo denominado de "comunista", como o que vigorou na União Soviética e seus antigos satélites, especialmente depois da ascensão de Joseph Stalin ao poder, em meados da década de 1920, está, de fato, moribundo. Já não é mais atrativo para povo algum, nem mesmo para os jovens países africanos que o adotaram e que agora se sentem frustrados.

A chamada "ditadura do proletariado" mostrou toda sua inconsistência ao não conseguir prover os trabalhadores dos bens básicos, e ninguém, em sã consciência, vê nela uma alternativa séria nos dias que correm. O deputado federal Domingos Leonelli, no artigo "O Socialismo Morreu? Viva o Socialismo", publicado em 14 de maio de 1990 no jornal Folha de S. Paulo observou: "O que morreu do socialismo foi seu componente dogmático e totalitário". Ou seja, exatamente o que o sistema tinha de odioso e de desnecessário.

O seu ideal de humanismo, todavia, permanece. É nele que algumas lideranças buscam um ponto de partida, uma sólida base para a construção de um sistema ideal, para uma profunda reciclagem, uma reforma substancial e não meramente formal de todo seu arcabouço.

Um desses líderes é o presidente soviético Mikhail Gorbachev, que na verdade não propõe e nunca propôs uma simples substituição do socialismo pelo capitalismo, que no dizer de Leonelli, mesmo dispondo "de tão grandioso aparato tecnológico, econômico e cultural, não foi capaz de sequer reduzir a miséria, a fome e a delinqüência. Com toda sua modernidade convive com a brutal iniquidade da existência de uma sub-raça humana sobre o Planeta tão diminuído pela instantaneidade dos meios de comunicação".

Como se vê, a adoção dessa alternativa está muito distante de ser a ideal. Até porque, capitalismo e democracia estão longe de serem sinônimos. Gorbachev prega um novo socialismo, em bases democráticas. Há uma enorme ambigüidade em torno do que significa de fato "ser democrata".

A pretensa falência socialista, as alternativas para as duas fracassadas ideologias e suas derivações --- que predominaram no mundo nos dois últimos séculos, antagonicamente, numa bipolaridade incompreensível, já que o homem tem capacidade para descobrir infinitos caminhos para regular sua vida em sociedade que não somente estes dois ---, serão os temas centrais da tese que buscaremos desenvolver nos próximos artigos.

(Artigo publicado na página 14, Internacional, do Correio Popular, em 20 de março de 1991).


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