De volta ao álcool
Pedro J. Bondaczuk
O presidente Collor de Mello
vai anunciar, hoje, o relançamento do Proálcool, programa que, se
bem administrado, junto com investimentos na prospecção petrolífera
nacional, tende a tornar o Brasil autossuficiente em matéria de
combustíveis em prazo bastante curto. Com uma vantagem sobre outros
países que independam do petróleo: nós teremos uma fonte
energética desenvolvida aqui, sem que se faça necessário pagar
qualquer royaltie a quem quer que seja, e que, acima de tudo, é
renovável.
O governo, todavia, vai exigir
racionalidade dos que forem beneficiados com os financiamentos para a
produção de álcool carburante. O Banco do Brasil apenas irá
financiar projetos que obtenham aumento de produtividade.
Trata-se de uma exigência
bastante lógica. Caso contrário, corremos o risco de ver nosso
território ser transformado num imenso e único canavial, o que,
evidentemente, não é o ideal para quem precisa gerar safras
sucessivamente maiores de alimentos.
Antes da reativação plena do
programa, todavia, seria oportuno que se deflagrasse uma ampla
campanha para restaurar sua credibilidade. É indispensável que se
assegure ao dono ou adquirente do carro a álcool que não haverá
qualquer risco de ter que manter o veículo na garagem, por
deficiência no abastecimento, como aconteceu na última entressafra.
A crise no Golfo Pérsico,
certamente, ensinou uma dura lição aos brasileiros. A de que nenhum
país que pretenda ser independente e soberano pode se manter na
dependência externa num campo de tamanha importância quanto o
energético.
O Brasil dispõe, na
atualidade, de cerca de quatro milhões de hectares de áreas
plantadas de cana. Toda essa extensão produz em torno de 220 milhões
de toneladas. Essa quantidade, porém, mostrou-se insuficiente, como
se viu na última safra.
O que o novo Proálcool prevê
não é uma ampliação das plantações. O projeto não apenas
pretende, como exige, um acréscimo de produtividade de 25% em quatro
anos. Isto representa, concretamente, 55 milhões a mais de
toneladas, suficientes para garantir pleno abastecimento aos veículos
hoje existentes e aos que serão produzidos até 1994, logicamente se
houver critério por parte das montadoras.
Trata-se, pois, de uma
iniciativa não somente louvável, mas sobretudo prudente, essa
reativação de um programa que funcionou tão bem e que já vem
despertando tentativas de imitação por parte de sociedades
tecnologicamente muito mais evoluídas do que a nossa, como a
francesa e a norte-americana, mas que nesse aspecto não tiveram a
mesma visão dos brasileiros.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de agosto de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment