Wednesday, June 14, 2017

De volta ao álcool



Pedro J. Bondaczuk


O presidente Collor de Mello vai anunciar, hoje, o relançamento do Proálcool, programa que, se bem administrado, junto com investimentos na prospecção petrolífera nacional, tende a tornar o Brasil autossuficiente em matéria de combustíveis em prazo bastante curto. Com uma vantagem sobre outros países que independam do petróleo: nós teremos uma fonte energética desenvolvida aqui, sem que se faça necessário pagar qualquer royaltie a quem quer que seja, e que, acima de tudo, é renovável.

O governo, todavia, vai exigir racionalidade dos que forem beneficiados com os financiamentos para a produção de álcool carburante. O Banco do Brasil apenas irá financiar projetos que obtenham aumento de produtividade.

Trata-se de uma exigência bastante lógica. Caso contrário, corremos o risco de ver nosso território ser transformado num imenso e único canavial, o que, evidentemente, não é o ideal para quem precisa gerar safras sucessivamente maiores de alimentos.

Antes da reativação plena do programa, todavia, seria oportuno que se deflagrasse uma ampla campanha para restaurar sua credibilidade. É indispensável que se assegure ao dono ou adquirente do carro a álcool que não haverá qualquer risco de ter que manter o veículo na garagem, por deficiência no abastecimento, como aconteceu na última entressafra.

A crise no Golfo Pérsico, certamente, ensinou uma dura lição aos brasileiros. A de que nenhum país que pretenda ser independente e soberano pode se manter na dependência externa num campo de tamanha importância quanto o energético.

O Brasil dispõe, na atualidade, de cerca de quatro milhões de hectares de áreas plantadas de cana. Toda essa extensão produz em torno de 220 milhões de toneladas. Essa quantidade, porém, mostrou-se insuficiente, como se viu na última safra.

O que o novo Proálcool prevê não é uma ampliação das plantações. O projeto não apenas pretende, como exige, um acréscimo de produtividade de 25% em quatro anos. Isto representa, concretamente, 55 milhões a mais de toneladas, suficientes para garantir pleno abastecimento aos veículos hoje existentes e aos que serão produzidos até 1994, logicamente se houver critério por parte das montadoras.

Trata-se, pois, de uma iniciativa não somente louvável, mas sobretudo prudente, essa reativação de um programa que funcionou tão bem e que já vem despertando tentativas de imitação por parte de sociedades tecnologicamente muito mais evoluídas do que a nossa, como a francesa e a norte-americana, mas que nesse aspecto não tiveram a mesma visão dos brasileiros.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 29 de agosto de 1990)



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