Tarefa indigesta
Pedro J. Bondaczuk
O ministro da Fazenda, Paulo
Haddad, está embarcando para os Estados Unidos, onde vai manter
conversações com o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e
Banco Interamericano de Desenvolvimento, com as mãos vazias. Não
tem resultados positivos da economia brasileira a apresentar. Muito
pelo contrário.
O País descumpriu as metas
assumidas em janeiro de 1992 na 11ª carta de intenções que
assinou, o programa de privatizações está em passo de tartaruga –
embora isto tenha ocorrido para que passasse por saudável
reorientação – a inflação não apenas não baixou para taxas de
um dígito por mês, como ainda sofreu aceleração neste início de
ano. Resultados muito ruins para quem pretende pleitear a retomada
dos investimentos externos. Tarefa bem indigesta.
Haddad pretende defender a
tese de que a recessão não resolve os problemas brasileiros. Aliás,
seria interessante que algum economista explicasse quem foi o
“iluminado” que saiu com essa idéia de que paralisia econômica,
com achatamento de salários, com desemprego em massa, com falência
aos borbotões, com concordatas às mancheias e com outras tantas
desgraças, conseguiria recolocar o País na trilha do
desenvolvimento. Se isso é ser liberal, em termos de economia –
mais se aproxima de ser suicida – é preferível, mil vezes, o
conservadorismo!
A mudança transformou-se em
paranóia neste final de século. Só se fala nisto. Todavia, ela
deve ser feita com critério, inteligência e bom-senso. Deve-se
mudar apenas o que é inadequado, velho e ultrapassado ou nocivo. Mas
o que se verifica é uma fúria mudancista sem nenhuma lógica.
Muda-se tanto o que funciona
bem, quanto o que está, visivelmente, emperrado. O fenômeno
verifica-se em todos os setores. Mudam-se tanto desde o
comportamento, à economia, passando pela moral, pela política,
pelas leis etc.
Embora seja uma tarefa das
mais espinhosas, espera-se que Haddad consiga convencer o
diretor-gerente do FMI, Michel de Camdessus; e os presidentes do
Banco Mundial, Lewis Preston e do BID, Enrique Iglesias, de que o
remédio atualmente aplicado à economia brasileira é, na verdade,
um veneno. Além de efeitos econômicos desastrosos, condena milhões
de pessoas à miséria, caldo de cultura para distúrbios, levantes,
violência e desagregação social.
O País precisa, sem dúvida,
de capitais externos para promover seu desenvolvimento, mas sem o
tipo de imposição que os organismos multilaterais vêm fazendo e
reiterando desde 1979. Catorze anos de recessão são mais do que
suficientes para demonstrar que a terapia é um desastre.
Michel de Camdessus esteve no
Brasil em junho do ano passado e pôde comprovar o grau de retrocesso
do País. Chegou a condenar, em entrevista pela televisão, a
estratégia recessionista em vigor. Já que se fala tanto em mudança,
que tal mudar o arsenal para combater esse monstro tão esquivo e
perverso chamado inflação?
É inconcebível que os
brasileiros tenham que se submeter indefinidamente a este passo de
caranguejo, caminhando invariavelmente para trás. Com todo o arrocho
do ano passado, o Brasil perdeu apenas da Rússia em termos de taxas
inflacionárias em todo mundo, emplacando, mais uma vez, um
estratosférico acumulado, na casa do milhar.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de fevereiro de 1993).
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