Recessão à vista
Pedro J. Bondaczuk
O brasileiro tem hiatos
(curtíssimos) de tranqüilidade, entre uma crise e outra. Ora é a
falta de capitais para financiar obras como a construção de
Brasília que nos atormenta, ora é a disparada inflacionária
penalizando os mais pobres, ora são os desacertos das contas
públicas. O cidadão está sempre na corda-bamba, vivendo contínuos
momentos críticos, ansioso pelo dia de amanhã, envelhecendo
precocemente e exposto a enfartes, sem ousar sequer sonhar com um
futuro de médio prazo. Quando a crise não é interna (o que é
raro), vem do Exterior, como a atual.
O governo anunciou, no dia 28
de outubro passado, outro elenco de medidas para fazer a "mágica"
de economizar (leia-se "extrair da sociedade") a "bagatela"
de US$ 28 bilhões. Ou seja, promete transformar o déficit projetado
para 1999 de US$ 11 bilhões em superávit de US$ 17 bilhões! Para
tanto, eleva impostos (a CPMF e a Cofins), penaliza o funcionalismo
público (com sobretaxa para a Previdência) e "promete"
cortar despesas. Promessa, aliás, feita também quando da edição
do chamado "Pacote 51", com 51 medidas, anunciado em
outubro do ano passado, quando da crise da Ásia, e que acabou não
dando em nada. O que garante que desta vez será para valer?
No entanto, o maior
complicador da nossa economia, os juros alucinantes de 49,75% ao mês,
é mantido, com uma vaga promessa de redução no correr do próximo
ano e para o patamar (ainda proibitivo e surrealista) de 20%. Ou
seja, penaliza-se a sociedade, amplia-se de forma catastrófica a
imensa dívida social, para satisfazer a desmedida ganância do
capital especulativo internacional, incentivando os especuladores a
continuarem drenando o nosso sangue --- em uma transfusão às
avessas, do "doente" para o suposto "doador" ---
ofertando lucros imensos, às custas do sacrifício de 163 milhões
de brasileiros (25 milhões dos quais mergulhados na absoluta
miséria). Ressalte-se que os juros absorvem 9% do Produto Interno
Bruto anual do País, paralisa as atividades econômicas e mergulha o
Brasil em uma severa recessão, com todos os ônus que essa paralisia
traz para os brasileiros, como desemprego crescente, queda no consumo
e na produção, inadimplência em massa, concordatas, falências,
fome, violência, etc. Será que algum dia deixaremos de conviver com
crises?
(Artigo divulgado na revista
eletrônica "Barão Virtual", na Internet, na segunda
semana de janeiro de 1999)
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