Wednesday, June 21, 2017

Recessão à vista


Pedro J. Bondaczuk


O brasileiro tem hiatos (curtíssimos) de tranqüilidade, entre uma crise e outra. Ora é a falta de capitais para financiar obras como a construção de Brasília que nos atormenta, ora é a disparada inflacionária penalizando os mais pobres, ora são os desacertos das contas públicas. O cidadão está sempre na corda-bamba, vivendo contínuos momentos críticos, ansioso pelo dia de amanhã, envelhecendo precocemente e exposto a enfartes, sem ousar sequer sonhar com um futuro de médio prazo. Quando a crise não é interna (o que é raro), vem do Exterior, como a atual.

O governo anunciou, no dia 28 de outubro passado, outro elenco de medidas para fazer a "mágica" de economizar (leia-se "extrair da sociedade") a "bagatela" de US$ 28 bilhões. Ou seja, promete transformar o déficit projetado para 1999 de US$ 11 bilhões em superávit de US$ 17 bilhões! Para tanto, eleva impostos (a CPMF e a Cofins), penaliza o funcionalismo público (com sobretaxa para a Previdência) e "promete" cortar despesas. Promessa, aliás, feita também quando da edição do chamado "Pacote 51", com 51 medidas, anunciado em outubro do ano passado, quando da crise da Ásia, e que acabou não dando em nada. O que garante que desta vez será para valer?

No entanto, o maior complicador da nossa economia, os juros alucinantes de 49,75% ao mês, é mantido, com uma vaga promessa de redução no correr do próximo ano e para o patamar (ainda proibitivo e surrealista) de 20%. Ou seja, penaliza-se a sociedade, amplia-se de forma catastrófica a imensa dívida social, para satisfazer a desmedida ganância do capital especulativo internacional, incentivando os especuladores a continuarem drenando o nosso sangue --- em uma transfusão às avessas, do "doente" para o suposto "doador" --- ofertando lucros imensos, às custas do sacrifício de 163 milhões de brasileiros (25 milhões dos quais mergulhados na absoluta miséria). Ressalte-se que os juros absorvem 9% do Produto Interno Bruto anual do País, paralisa as atividades econômicas e mergulha o Brasil em uma severa recessão, com todos os ônus que essa paralisia traz para os brasileiros, como desemprego crescente, queda no consumo e na produção, inadimplência em massa, concordatas, falências, fome, violência, etc. Será que algum dia deixaremos de conviver com crises?

(Artigo divulgado na revista eletrônica "Barão Virtual", na Internet, na segunda semana de janeiro de 1999)


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