Tiro pela culatra
Pedro J. Bondaczuk
O Imposto Provisório sobre
Movimentação Financeira, o impopular e provavelmente inócuo (em
termos de arrecadação federal) IPMF, entrará, mesmo, em vigor
dentro de duas semanas, depois que o Supremo Tribunal Federal o
considerou constitucional na semana passada.
Estados e municípios, porém,
além de entidades sem fins lucrativos, como igrejas, partidos
políticos etc., ficarão isentos do novo tributo, fazendo com que a
estimativa de que gere uma receita de US$ 420 milhões para os cofres
públicos tenha que ser revista, para metade ou menos, dessa quantia.
Para irritar ainda mais o já
tão atormentado cidadão, aquele que paga pontualmente seus
impostos, circulam rumores, pelo Congresso, de que a alíquota desse
incômodo caça-níqueis governamental seria elevada dos 0,25% atuais
para 0,3%.
Está claro, para todos, quem
irá arcar, de fato, com mais esta despesa. Será, como sempre, o
assalariado, que também é consumidor. E duplamente. O IPMF será
embutido no custo dos produtos e a corda, mais uma vez, irá
arrebentar no seu ponto mais fraco.
Toda a celeuma criada em torno
do tributo, nos poucos dias que ele permaneceu em vigor este ano, não
foi suficiente para sensibilizar a equipe econômica. Dessa forma,
uma proposta nascida para aliviar a carga tributária – a do
imposto único – acabou transformada pelos burocratas do governo em
um peso a mais para a atormentada e descrente população.
É difícil de se acreditar
que essa “invenção” de quem se esquece que o Estado existe para
servir o cidadão, e não o contrário, venha a contribuir de forma
decisiva para que o Orçamento da União de 1994 seja equilibrado e
sem déficit e que, portanto, o gerador por excelência de inflação,
o governo, atue para, finalmente, as taxas regredirem a níveis
civilizados e estacionarem nos desejáveis 3% prometidos pelo
ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso.
O previsível é que o custo
de vida sofra nova e brusca elevação já agora em janeiro. O
mercado futuro, por exemplo, projeta, para o primeiro mês do ano
novo, incômodos 40%. E não tenham dúvidas de que o IPMF, a
despeito dos seus incipientes 0,25%, dará grande contribuição para
este novo salto. O tiro, portanto, tende a, mais uma vez, sair pela
culatra.
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 21 de dezembro de 1993)
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