Amargo legado
Pedro J. Bondaczuk
O Instituto Brasileiro de
Opinião Pública e Estatística (Ibope) divulgou, recentemente,
pesquisa sobre quais foram, na avaliação dos pesquisados, os
melhores presidentes da República que o País já teve. Este ranking
presidencial, difícil de ser estabelecido – não pela fartura de
bons nomes, mas pela precariedade – não deixa de ser
surpreendente. Os cinco primeiros colocados, conforme o Ibope, foram:
1º) Getúlio Vargas; 2º) Juscelino Kubitschek; 3º) João
Figueiredo; 4º) José Sarney e 5º) Marechal Castelo Branco.
O fato de Getúlio liderar não
chega a ser tão surpreendente, embora JK, no meu entender, devesse
merecer a liderança. Afinal, foi um democrata autêntico, jamais
recorreu a expedientes de força, mesmo quando ameaçado pelos
complôs golpistas de Aragarças e Jacareacanga e cumpriu suas
promessas de campanha, de trazer o Brasil da Idade da Pedra para a
modernidade, com o seu projeto de desenvolver o País, recuperando 50
anos de atraso em apenas cinco do seu mandato.
Os adversários do político
mineiro argumentam que seu programa foi megalomaníaco e responsável
pela inflação com que temos que conviver nestes tempos bicudos. Não
é isso, porém, que mostram as estatísticas. Alguém conceberia
hoje a inexistência de Brasília como Distrito Federal? Ou a da
indústria automobilística, que embora atravessando um momento de
crise – como, ademais, todos os demais setores atravessam – é
uma atividade industrial considerada de ponta? Claro que não!
A surpresa neste ranking fica
por conta da inclusão de José Sarney. Figueiredo nem tanto, já que
lhe coube o mérito histórico de acabar com a ditadura militar sem
contragolpes, traumas, vinganças ou outras atitudes in compatíveis
com o espírito do brasileiro. Castelo Branco, por seu turno, tinha
em mente rumos diferentes dos que foram tomados pelos seus sucessores
para o regime ditatorial imposto ao País em 1964.
No caso de Sarney, até se
entende a empolgação da população com o autêntico “sonho de
uma noite de verão” que foi o Plano Cruzado – muitos preferem
classificar esse pacotão como o maior engodo da história recente do
Brasil por parte do PMDB, para vencer as eleições de 1986.
Todavia, diante dos resultados
dos cinco anos de mandato do político maranhense, não se pode
deixar de discordar da sua inclusão nesse ranking presidencial. A
inflação de março de 1991, quando entregou a faixa de presidente a
Fernando Collor, foi a maior da nossa história, em torno de 84%.
Nesse mesmo ano, o Índice de
Preços ao Consumidor, medido pelo IBGE, acumulou, abrangendo todo o
governo Sarney, em abril, quando foi substituído por outro
instrumento de medição, a astronômica taxa de 3.041.395,62%!!!
Getúlio Vargas legou aos
brasileiros a legislação trabalhista, a Companhia Siderúrgica
Nacional e a Petrobrás. JK foi o construtor de Brasília e
desenvolveu o País, em cinco anos, mais do que seus antecessores em
50. Figueiredo deixou a abertura política como legado. E Sarney? Sua
herança foi uma inflação de 3.041.395,62%!!!
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de fevereiro de 1993).
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