Friday, June 09, 2017

Amargo legado


Pedro J. Bondaczuk


O Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) divulgou, recentemente, pesquisa sobre quais foram, na avaliação dos pesquisados, os melhores presidentes da República que o País já teve. Este ranking presidencial, difícil de ser estabelecido – não pela fartura de bons nomes, mas pela precariedade – não deixa de ser surpreendente. Os cinco primeiros colocados, conforme o Ibope, foram: 1º) Getúlio Vargas; 2º) Juscelino Kubitschek; 3º) João Figueiredo; 4º) José Sarney e 5º) Marechal Castelo Branco.

O fato de Getúlio liderar não chega a ser tão surpreendente, embora JK, no meu entender, devesse merecer a liderança. Afinal, foi um democrata autêntico, jamais recorreu a expedientes de força, mesmo quando ameaçado pelos complôs golpistas de Aragarças e Jacareacanga e cumpriu suas promessas de campanha, de trazer o Brasil da Idade da Pedra para a modernidade, com o seu projeto de desenvolver o País, recuperando 50 anos de atraso em apenas cinco do seu mandato.

Os adversários do político mineiro argumentam que seu programa foi megalomaníaco e responsável pela inflação com que temos que conviver nestes tempos bicudos. Não é isso, porém, que mostram as estatísticas. Alguém conceberia hoje a inexistência de Brasília como Distrito Federal? Ou a da indústria automobilística, que embora atravessando um momento de crise – como, ademais, todos os demais setores atravessam – é uma atividade industrial considerada de ponta? Claro que não!

A surpresa neste ranking fica por conta da inclusão de José Sarney. Figueiredo nem tanto, já que lhe coube o mérito histórico de acabar com a ditadura militar sem contragolpes, traumas, vinganças ou outras atitudes in compatíveis com o espírito do brasileiro. Castelo Branco, por seu turno, tinha em mente rumos diferentes dos que foram tomados pelos seus sucessores para o regime ditatorial imposto ao País em 1964.

No caso de Sarney, até se entende a empolgação da população com o autêntico “sonho de uma noite de verão” que foi o Plano Cruzado – muitos preferem classificar esse pacotão como o maior engodo da história recente do Brasil por parte do PMDB, para vencer as eleições de 1986.

Todavia, diante dos resultados dos cinco anos de mandato do político maranhense, não se pode deixar de discordar da sua inclusão nesse ranking presidencial. A inflação de março de 1991, quando entregou a faixa de presidente a Fernando Collor, foi a maior da nossa história, em torno de 84%.

Nesse mesmo ano, o Índice de Preços ao Consumidor, medido pelo IBGE, acumulou, abrangendo todo o governo Sarney, em abril, quando foi substituído por outro instrumento de medição, a astronômica taxa de 3.041.395,62%!!!

Getúlio Vargas legou aos brasileiros a legislação trabalhista, a Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobrás. JK foi o construtor de Brasília e desenvolveu o País, em cinco anos, mais do que seus antecessores em 50. Figueiredo deixou a abertura política como legado. E Sarney? Sua herança foi uma inflação de 3.041.395,62%!!!

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 9 de fevereiro de 1993).



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