Basta de frustrações
Pedro J. Bondaczuk
Os políticos brasileiros
costumam despertar na população expectativas que acabam sendo
incapazes de realizar. Para citar apenas as mais óbvias e recentes,
mencionamos as campanhas memoráveis pelas eleições diretas, a
convocação da Assembleia Nacional Constituinte, a promulgação da
atual Constituição em outubro de 1988, a realização do plebiscito
no ano passado, e a coisa vai por aí afora.
Agora, a pedra filosofal dos
nossos "alquimistas" de plantão, capaz de "transmutar
chumbo em ouro", são as eleições presidenciais de 3 de
outubro próximo. Não se nega a sua importância, não somente pelos
cargos que estarão em jogo, mas, e sobretudo, por convocar 100
milhões de eleitores às urnas.
Apenas a Índia e os Estados
Unidos possuem contingentes eleitorais maiores, entre os países que
promovem este espetáculo democrático, nem sempre devidamente
valorizado pelos que podem gozar da prerrogativa de escolher seus
governantes.
O que não se pode é esperar
milagres. Muito menos confiar em eventuais "salvadores da
pátria". Embora não a identifiquemos, ou pelo menos não
admitamos, o País teve inegável evolução política nos últimos
tempos. Não podemos pretender que comportamentos viciosos e falhas
de mais de um século sejam corrigidos da noite para o dia.
O saudoso jornalista, escritor
e intelectual Otto Lara Resende, sobretudo homem de tirocínio e de
muito bom senso, disse, em entrevista publicada em 26 de abril de
1992, no suplemento "Mais", do jornal Folha de S. Paulo:
"Assim como a natureza não dá saltos, a política também não
dá. O Brasil não vai amanhecer diferente, nós não vamos virar o
povo alemão, o povo japonês. Também não podemos nos prender a
esse eterno salvacionismo. Essa figura do Salvador é completamente
errada e mesmo, num certo sentido, abjeta. Você não pode pensar em
entregar a sorte de um país a um determinado cidadão que como um
deus 'ex-machina' vai resolver todos os problemas, como por milagre.
Se o milagre não ocorre, as pessoas começam a dizer que o
brasileiro não presta, e aí você cai até no racismo e acaba
negando coisas que deviam ser vistas como qualidades".
(Artigo publicado na página
2, Opinião, do Correio Popular, em 1 de agosto de 1994).
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