Estamos ou não em recessão?
Pedro J. Bondaczuk
A polêmica
travada entre empresários de várias categorias e autoridades
ligadas ao Palácio do Planalto, sobre se o País está, ou não, em
um período recessivo, é irrelevante. Equivale em discutir o sexo
dos anjos. Os sinais claros, de um agudo desaquecimento econômico,
estão aí, desafiando qualquer ministro a tentar desmentir as
evidências.
E,
o pior de tudo, o quadro que se apresenta é o da estagflação. Ou
seja, estagnação econômica acompanhada de uma perversa
hiperinflação, que está levando todo o mundo ao desespero, quando
não às concordatas e falências.
Enquanto
isso, a sociedade continua aguardando, já na metade do ano, um plano
(prometido em princípios de janeiro e que até agora ainda não
veio) que determine, com clareza, as regras do jogo. Espera um
projeto que tenha princípio, meio e fim e que seja posto,
incontinenti, em prática.
Isto,
aliás, não é reclamado somente pelas empresas e pelo público em
geral, mas também pelo Fundo Monetário Internacional, que embora
não seja mais avalista do Brasil, precisa dar o sinal verde para que
o País possa renegociar os débitos que estão vencendo com o
chamado Clube de Paris.
O
ministro da Fazenda, Bresser Pereira, promete, até meados de junho,
ou princípio de julho, esse tão aguardado programa que, ao que se
comenta, não terá nada de dramático. E é até bom que não tenha
mesmo, pois de dramas, já bastam os nossos, do cotidiano, às voltas
com uma inflação que promete, segundo sinalização do próprio
Banco Central através das taxas do overnight, emplacar 23,6%, ou te
mais, e juros inéditos e totalmente irreais, que ameaçam deflagrar
uma quebradeira em cadeia, agravando, em muito, as nossas atuais
aflições.
Mas
é necessário que o diagnóstico dos nossos males econômicos seja
correto. É indispensável que não se façam mais experiências, às
custas do nosso sofrido (e furado) bolso, que já não está mais
suportando os empirismos dos tecnocratas.
Nesse
período todo, três planos já foram anunciados, com grande
estardalhaço, e nenhum deles foi aplicado. Por isso, estamos
chegando à situação absurda do nosso ano fiscal, na prática,
iniciar-se em julho, por absoluta falta de uma diretriz.
Como
fazer investimentos numa hora dessas, de tamanha indefinição, e,
principalmente, diante das dificuldades de saldar seus compromissos,
daqueles milhares de brasileiros que, confiando no sucesso do
Cruzado, resolveram apostar no crescimento?
Que
há recessão (pelo menos um enérgico início dela) é evidente. Com
isso, as dispensas de pessoal já começaram a ser ensaiadas, aqui e
ali, que redundam no agravamento do quadro social, que já não é
dos melhores.
No
entender do crítico, e de muita gente experiente neste País, uma
das causas básicas do atual desequilíbrio econômico, com o
conseqüente surto hiperinflacionário que se verifica, são os
gastos excessivos do Poder Público, que anuncia, como solução, uma
tributação ainda maior, penalizando mais e mais a sociedade, que já
vive uma intolerável situação de sufoco.
Fontes
de Brasília disseram, recentemente, que a missão do FMI que esteve
em nosso país dia desses (todos pensavam que esse monitoramento já
havia acabado) ficou abismada com o rombo de caixa do governo. O
déficit público, de acordo com esse informante, estaria girando em
torno de 7% do Produto Interno Bruto (o oitavo do mundo), quando a
promessa era de zerar essa dívida. Ou, na pior das hipóteses,
reduzir dos 5% do início do ano para a metade, ou seja, para 2,5%.
Ao invés disso, acabou aumentando praticamente nesse mesmo montante.
Para
que o leitor tenha uma idéia do que isso significa, basta dizer que
esse dinheiro que o Planalto gastou a mais do que arrecadou, daria
para construir uma outra hidrelétrica de Itaipu, que é a maior do
mundo no seu gênero. Que economia resiste a tamanho desregramento?
Onde esses recursos foram aplicados, se não vemos novos
investimentos e se é exatamente pela ausência deles que a recessão
– que as autoridades tanto procuram negar – se instala
perversamente no País?
A
questão que deve ser colocada, portanto, não é se temos ou não
temos à nossa frente um quadro recessivo, mas como acabar com ele,
se já estiver instalado. Ou, se todo o mundo estiver enganado,
entregue a um estéril pessimismo, o que se questiona é como evitar
que a recessão se instale.
Não
cabe aqui, sequer, uma discussão sobre se a polêmica Ferrovia
Norte-Sul deve, ou não, ser construída neste momento. Ora, se o
governo, sem a obra, já está gastando essa enormidade a mais do que
arrecada, onde está a fonte de financiamento desse empreendimento?
Nunca
nos opusemos ao transporte ferroviário. Pelo contrário, sempre
afirmamos que, no início da acelerada industrialização brasileira,
na metade da década de 50, o País cometeu lamentável equívoco ao
optar pelas rodovias, quando sabidamente o Brasil não é
autossuficiente na produção de petróleo.
As
estradas-de-ferro são necessárias e indispensáveis, mas não
agora, que a casa está tão desarrumada. Tomara, no entanto, que
essa obra faraônica consiga pelo menos reativar os investimentos
públicos e privados e assim nos livrar da temível recessão. Quem
sabe? Afinal, somos o país dos milagres!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 7 de junho
de 1987).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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