Grandeza
e dignidade
Pedro
J. Bondaczuk
As pessoas que fazem de suas
vidas uma obra de arte e que pautam pensamentos e atos por dignidade
e grandeza, merecem reverência muito especial. Mais do que isso, são
dignas de imitação. São os grandes paradigmas de conduta para as
gerações mais jovens. Por isso, o que foram, e o que fizeram,
deveria ser ensinado em todas as escolas do mundo. Infelizmente,
raramente são.
Rabindranath Tagore é uma
dessas figuras ímpares que sempre me fascinaram. E não apenas pelos
seus memoráveis poemas (que, para mim, têm significado particular,
já que sou poeta) que lhe valeram o Prêmio Nobel de Literatura de
1913, mas pelo seu caráter, idealismo, fidelidade aos princípios
que o norteavam e nacionalismo.
Descobri seus mágicos textos
há, relativamente, pouco tempo, em 1992, quando fui eleito para a
Academia Campinense de Letras. Desde então, todavia, li muito do que
escreveu e do que foi escrito a seu respeito. E à medida que o tempo
passa, cresce, mais e mais, minha admiração por este paradigma de
competência e coragem.
Tagore nasceu em Calcutá, no
Estado indiano de Bengala, em 6 de maio de 1861 e morreu nessa mesma
cidade, aos 80 anos, em 7 de agosto de 1941 (quase um ano e meio
antes do meu nascimento). Estudou Direito na Inglaterra, mas logo
manifestou inequívoca vocação para as artes (foi, também, músico)
e para a Filosofia (chegou a criar, em 1901, uma escola filosófica
em seu país).
Legou-nos cerca de três mil
poemas em língua bengali, o idioma de sua etnia, nem todos
traduzidos para o inglês (e muito menos para o português). Não se
limitou, contudo, à poesia. Tagore escreveu oito novelas, 50 ensaios
e uma grande quantidade de contos. Sua produção musical,
igualmente, foi admirável: compôs por volta de duas mil canções!
Com toda essa atividade
artística, o notável poeta ainda encontrou tempo para se integrar
ao movimento nacionalista indiano, lutando pela independência da
Índia, que não chegou a ver concretizada. Morreu seis anos antes.
Foi amigo pessoal do Mahatma Gandhi, que lhe tinha grande afeto e por
quem nutria irrestrita admiração. Pudera!
Entre suas ousadas ações,
para chamar a atenção do mundo para a opressão britânica à sua
pátria, destacou-se sua renúncia, em 1919, ao Prêmio Nobel de
Literatura, como forma de protesto contra a política inglesa em
relação ao Punjab e, mais especificamente, contra o massacre dos
sikhs no Templo Dourado de Amritsar. Na mesma oportunidade, abriu mão
do título de “Sir”, que lhe havia sido outorgado pela Coroa
Britânica em 1915. Quantas pessoas agiriam assim? Poucas, senão,
nenhuma!
Um exemplo da musicalidade e
lirismo da sua absorvente e emocionante poesia, é este poema,
intitulado “Flor de lótus”:
“No dia em que a flor de
lótus desabrochou
a minha mente vagava, e eu não
a percebi.
Minha cesta estava vazia e a
flor ficou esquecida.
Somente agora e novamente, uma
tristeza caiu sobre mim.
Acordei do meu sonho sentindo
o doce rastro
de um perfume no vento sul.
Essa vaga doçura fez o meu
coração doer de saudade.
Pareceu-me ser o sopro ardente
no verão, procurando completar-se.
E eu não sabia então que a
flor estava tão perto de mim.
Que ela era minha, e que essa
perfeita doçura
tinha desabrochado no fundo do
meu coração”.
A admiração de Gandhi por
Tagore era tão grande, que o aclamou, publicamente, como “O Grande
Mestre”. E, quando da independência da Índia, em 1947, exaltou o
amigo morto, pela sua contribuição para que isso se tornasse
possível. Ambos foram homens especiais, dignos de reverência e de
imitação pela posteridade.
A melhor forma, todavia, que
encontrei, de reverenciar essa figura sábia, mística e sensível, é
concluir estas linhas espontâneas com o que o próprio poeta
escreveu certa feita: “Neste palco de formas infinitas, que é o
mundo, desempenhei o meu papel”. E desempenhou mesmo, como ninguém:
com grandeza e, sobretudo, com dignidade!
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment