Do proibido ao obrigatório
Pedro
J. Bondaczuk
“Transar ou não transar”
é o dilema que se impõe, há já algum tempo, a pessoas com idades
cada vez menores, pelo mundo globalizado afora. Em raras ocasiões,
os apelos ao sexo foram tão intensos, tão disseminados e tão
intermitentes como são agora. São uma constante, quer nos meios de
comunicação, quer nas artes (sobretudo na literatura), quer na
publicidade ou mesmo nas conversações, mesmo as mais triviais, no
dia a dia. E isso é mau? Não, necessariamente! Depende de uma série
de fatores. Ponderemos.
O sexo tornou-se, subitamente,
mais do que necessidade animal, uma obsessão. E isso, a despeito da
epidemia de Aids que, embora sob relativo controle, segue afetando
enormes contingentes de pessoas em todos os continentes, em especial
na África, e matando muita gente, ainda. Tempos atrás, não tão
distantes assim, era assunto tabu, principalmente para crianças e
adolescentes. Hoje, é tema mais do que corriqueiro e recorrente. É
constante, obsessivo, onipresente. Descambou-se, portanto, de um
exagero a outro.
Não faz muito, quando o
menino e/ou a menina chegavam à idade da descoberta do próprio
corpo, os pais ficavam cheios de dedos para explicarem, de forma
clara, didática e racional, a realidade do sexo, em linguagem que
fosse adequada à sua compreensão. Na verdade, os jovens aprendiam,
a esse respeito, não no lar, mas com os colegas, em especial, os
mais velhos. Hoje... O tema é ensinado, é verdade, nas escolas (com
o que concordo plenamente). Mas há algo que está fugindo ao
controle dos educadores: a transmissão, às crianças, não apenas
das funções, mas dos limites, da ocasião e das condições da sua
prática.
A iniciação sexual, hoje em
dia, é cada vez mais prematura. Até meados do século passado,
começava, quase sempre, por volta dos catorze anos, quer para
rapazes, quer para moças (estas, porém, não raro, tinham a sua
primeira experiência apenas depois de casadas, por volta dos vinte e
um anos). Hoje, meninas de dez anos (ou menos) já mantiveram várias
relações. Algumas, até mesmo, chegam a engravidar, o que,
convenhamos, é enorme aberração. E os garotos começam a fazer
sexo por volta dos doze anos, quando não têm, evidentemente, ainda,
a mínima maturidade para isso. As conseqüências, claro, não são
das melhores, para não dizer desastrosas. Nem poderiam ser, óbvio.
Passou-se, reitero, de um
extremo ao outro, do “proibido” ao “obrigatório” (ou quase).
Por exemplo, isto se verifica, de forma mais evidente, na questão da
virgindade. Até a década de 60 do século passado, a moça tinha
que se manter virgem até o dia do casamento. Tratava-se de condição
sine qua non para ser considerada “séria”. Era consenso entre os
rapazes que a mulher que fazia sexo antes de casar não se prestava a
ser mãe de família. Fazia-se clara distinção entre as que se
prestavam apenas a transas e as casadoiras.
Hoje, não se distingue mais
uma da outra. A virgindade é encarada (por ambos os sexos) como
anomalia. É tratada, quase, como se fosse uma doença, uma
aberração, um grave defeito ou, no mínimo, uma inaptidão da
virgem de despertar desejo sexual no namorado. Como se nota,
descambou-se, reitero mais uma vez, de um exagero a outro, talvez
pior. Não nego (não seria maluco para tanto) o valor e a
importância do sexo, como função básica, instintiva e natural de
todo e qualquer ser vivo. Daí condenar sua banalização, não por
razões morais ou religiosas, mas, sobretudo, por motivos práticos.
As coisas, nesse sentido,
começaram a mudar, de fato, de maneira generalizada, a partir dos
anos 50 do século passado, com a popularização da pílula
anticoncepcional, que libertou a mulher dos riscos de uma gravidez
indesejada. Com isso, ela sentiu-se liberada para buscar a plena
satisfação sexual, a exemplo do que o homem sempre buscou, sem
nenhum tipo de repressão ou de tabu. Isso é bom? É ruim? Depende.
Cabe, claro, a cada pessoa –
afinal somos todos dotados do livre-arbítrio –, independente do
sexo, decidir sobre o que fazer com o seu corpo, e com quem. Mas,
antes, precisa estar plenamente consciente das conseqüências dessa
sua decisão (como, aliás, ocorre em tudo o que se faz na vida).
Sexo é bom, é saudável e é imprescindível à sobrevivência da
espécie, todos sabem disso. Mas é melhor, muito melhor se for
manifestação máxima de amor e não mero ato mecânico e impessoal,
simples descarga de tensões, não é mesmo?
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