Confiança e credibilidade
Pedro J. Bondaczuk
O bom
relacionamento entre o repórter e sua fonte é fundamental para uma
harmoniosa, duradoura e profícua parceria. Antes de tudo, é
indispensável que haja confiança recíproca, o que só se conquista
com atitudes sinceras, respeitosas, porém eqüidistantes, de parte a
parte. Quanto mais o jornalista for isento, em relação ao assunto
que for cobrir, mais e mais se tornará confiável aos olhos do seu
informante e principalmente do leitor. E a recíproca é verdadeira.
Trago este
assunto à baila em consideração aos estudantes de jornalismo (e a
pedido de alguns deles), que em breve estarão nos substituindo nas
redações dos veículos de comunicação pelo País afora. Contudo,
embora se trate do “be-a-bá” da profissão, o tema também serve
para refrescar a memória de muitos profissionais tarimbados, com
anos e mais anos de janela, mas que, não raro, se esquecem de
princípios elementares do seu trabalho, no exercício cotidiano de
suas atividades.
Há fontes
que são ocasionais, em geral detentoras de autênticas “bombas”,
que proporcionam históricos furos de reportagem, capazes de causar
furor na sociedade e, não raro, até de influenciar (para o bem ou
para o mal) nas próprias instituições do País. As mais comuns,
porém, são as permanentes. São aquelas que abastecem os setoristas
(de Política, Saúde, Educação, Polícia etc.) de informações
que irão compor o dia-a-dia das edições de jornais e revistas e
dos noticiários de rádio e televisão (e dos portais da internet).
Essas
fontes são, em geral, funcionários de repartições, não
necessariamente os graduados, mas com olhos e ouvidos sempre atentos
para o que acontece ao seu redor, e que repassam esses acontecimentos
a determinados repórteres, com os quais mantêm vínculos informais.
Nem sempre o que informam, portanto, se refere a irregularidades, a
atos de corrupção e a escabrosas negociatas feitas por maus
políticos ou por administradores venais.
Os
setoristas de polícia, por exemplo, têm, como fontes permanentes,
investigadores, ou escrivães, ou policiais que lhes comunicam o que
se passa nas respectivas delegacias em que atuam e lhes repassam
cópias dos vários boletins de ocorrência que lá são lavrados. Ou
bombeiros, que agem de forma idêntica em suas repartições. Ou
atendentes ou telefonistas de hospitais, que fornecem a informação
sempre que vítimas de violência dão entrada ali, o que, quase
sempre, rende boas histórias.
Sem estas
figuras, os chamados repórteres “de área” teriam imensas
dificuldades para abastecer de notícias o seu editor. E não apenas,
é claro, na área policial. Em qualquer dos casos, o jornalista tem
que estar no pleno domínio do assunto que vai tratar. Presume-se que
ele seja o especialista dessa área na empresa em que atua, caso
contrário, o veículo de comunicação (jornal, revista, rádio ou
televisão) não o designaria para cobrir esse setor (pelo menos é o
que diz a lógica e o que o mínimo bom-senso determina). Se, ou
quando, o faz, não pode reclamar das eventuais bobagens que vierem a
ser cometidas.
Esse
conhecimento de causa, é verdade, não livra por completo o repórter
de cometer as tão temidas (e mais freqüentes do que se supõe)
“barrigas”. Ou seja, de divulgar informações falsas, ou
distorcidas, quando não absolutamente ridículas. Há “armadilhas”
muito difíceis (quando não impossíveis) de se escapar. Boa parte
(se não a maioria delas) dessas distorções o editor, ao revisar a
matéria antes de a editar, detecta, até com certa facilidade.
Quando não o faz...embarca na “canoa furada” do repórter e
ambos acabam se dando muito mal, com conseqüências imprevisíveis
para os dois.
Jornalista
e fonte devem tratar-se (e sentir-se) como iguais, sem que um se
sinta superior ao outro em qualquer circunstância ou situação. O
relacionamento tem que ser, SEMPRE, de absoluto e mútuo respeito. E
nenhum dos dois pode, em hipótese alguma, se sentir “usado” pelo
outro.
Ao repórter
cabe sempre uma atitude isenta, íntegra e criteriosa. Caso
contrário, nunca conseguirá reciprocidade. Ou seja, não irá
encontrar, em lugar algum, uma fonte que tenha essas desejáveis
características da isenção, da integridade e do critério. A
linguagem que utilizar em seu texto tem que ser a adequada. Clareza e
objetividade das partes são fundamentais para que o resultado final
dessa parceria, ou seja, a reportagem (ou a série delas) seja o
esperado.
Em assuntos
muito sensíveis, manda o bom-senso que o repórter se valha de mais
de uma fonte, e com opiniões diferentes e até mesmo antagônicas
sobre o tema abordado. Essa pluralidade tende a assegurar
credibilidade à matéria. O árbitro, neste caso, será o
destinatário da reportagem, ou seja, o leitor.
Contudo, o
desejável (diria, o exigível) é que o jornalista e a fonte se
pautem SEMPRE, em toda e qualquer ocasião, por uma conduta
absolutamente ética, sem jamais transigir, seja qual for a razão.
Somente assim será cumprida, integralmente, a verdadeira finalidade
do jornalismo, que não é a de denunciar, de denegrir, de julgar ou
de condenar quem quer que seja. É, sim, a de informar, a de formar
opinião e a de prestar serviço à comunidade. Nunca podemos perder
isto de vista, se quisermos ser bons profissionais, por se tratar,
afinal de contas, do nosso ABC.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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