Sunday, December 31, 2017

COMO DIZIA VINÍCIUS: “O AMOR É ETERNO... ENQUANTO DURA”


 Há casos em que a existência do amor se limita a um único dia, se tanto, que nos parece uma eternidade pelas sensações e lembranças que produz. E que permanece em nossa memória intenso, vivo e verdadeiro enquanto vivermos. São casos raros, é verdade, mas existem. Há outros, em contrapartida, que vão até além do túmulo e perduram por anos e mais anos após a extinção física da pessoa amada. Como se vê, só há enigmas nessa questão. Complexos, profundos e indecifráveis enigmas. O escritor português Casimiro Brito escreveu, a propósito, no livro “Arte da Respiração”, estas palavras que vêm a calhar nestas descompromissadas considerações: “Amar-te é decifrar humildemente um enigma que não tem decifração porque a todo o momento as águas passam e bebê-las e banhar-me nelas é bom e não há mais nada”. É isto o que você tem que fazer, caso tenha o supremo privilégio de ter um amor: gozá-lo em sua plenitude e esplendor, a cada segundo (pois é eterno... enquanto dura, como sentenciou o poetinha).

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Triplo aborrecimento



Pedro J. Bondaczuk


O ano começou mal para o mundo em geral, e também para o campineiro. Uma guerra do outro lado do oceano foi iniciada e suas consequências, como diz a mínima das lógicas, são absolutamente imprevisíveis, principalmente quando se leva em conta que ela está sendo travada numa região que detém 65% das reservas de petróleo: o Golfo Pérsico.

Em decorrência do confronto, o Plano Collor, que já vinha fazendo água por todos os lados, está prestes a naufragar, com a inflação ameaçando de novo ir às nuvens, só que desta vez o trabalhador está totalmente desguarnecido, sem regras de reposição salarial, e correndo o risco de perder o seu emprego.

Para o empresário, a situação não é, em absoluto, mais cômoda. Juros extorsivos, recessão e altos tributos – tanto os existentes quanto os que o governo ameaça criar – tiram-lhe, certamente, o sono.

Para complicar, as famosas chuvas de janeiro voltam a fazer estragos numa cidade em franco crescimento vegetativo, o que não significa desenvolvimento. Aumentam os habitantes, mas o padrão de vida cai. O campineiro, assustado com o novo Imposto Predial e Territorial Urbano, IPTU, e sofrendo as aflições provocadas pelas enchentes, pelos buracos nas ruas e desmoronamentos, indaga, em desespero, parodiando recente campanha da administração municipal: Isto é justo? É problema em dose tripla para um cidadão que contava com vida nova em 1991.

Quanto à Guerra do Golfo, evidentemente, o campineiro nada pode fazer para evitar ou fazer parar, a não ser promover manifestações pela paz de pouca ressonância. Sobre a evolução da inflação e das medidas ainda mais duras que estão em elaboração no Palácio do Planalto, o campineiro também só pode assistir.

Todavia, quanto à administração de Campinas, o cidadão deve e tem que cobrar providências, já que estas são financiadas pelos seus cada vez mais minguados ganhos. Está na hora de problemas que se arrastam há tempos, como o dos transportes públicos, das enchentes e outros tantos que atormentam a vida da população, começarem a ser encarados com seriedade.

Bush e Saddam, certamente, não irão atender aos reclamos dos campineiros, para que não exponham o mundo à catástrofe. O presidente Collor pode até ouvir os protestos contra alguma das medidas, mas dificilmente irá mudar sua rígida estratégia. Mas a administração municipal terá de responder, ao cabo do corrente ano, ao voto ainda não justificado nos dois primeiros anos.

(Editorial publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 17 de janeiro de 1991).



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Existência insensata

Pedro J. Bondaczuk

A insensatez é a tônica do comportamento humano, o que comprova que ainda temos muito que evoluir para atingirmos um estágio mínimo de lucidez e de sabedoria. Nossa vida, em maior ou menor grau (dependendo da capacidade de entendimento de cada um) é caracterizada (ou porque fomos educados assim ou por mero instinto de imitação), por ilusões, fantasias e sonhos delirantes e irrealizáveis, com um ou outro fragmento de realidade.

Abrimos mão da experiência legada pelos ancestrais e achamos que isso seja progresso, avanço, “modernidade”, civilização. Não é! Deixamos a vida sadia, pacata e com poucas (ou nenhuma) tensões do campo, em contato direto com a natureza e a nossa tribo, para construir feéricas e assustadoras cidades, com populações equivalentes (em alguns casos) à de países inteiros. A cidade de São Paulo, por exemplo, sozinha, tem o dobro de habitantes de Portugal inteiro. Essas Babéis contemporâneas constituem-se em absurdas e insalubres selvas de asfalto e cimento, nas quais nos digladiamos, ferozmente, em contínua competição, e onde nos sentimos, paradoxalmente, mais solitários do que nunca.

Despendemos nossos esforços ao limite da nossa capacidade, investimos nossos melhores talentos e habilidades, em coisas triviais, sem nenhum valor intrínseco ou importância real, em detrimento da nossa paz e da nossa felicidade. E chegamos a nos matar por essas quinquilharias!

Juntar dinheiro tornou-se, para muitos, obsessão, sem que usufruam das vantagens que a riqueza proporciona, esquecidos que a morte é a única certeza que há e que a fortuna de nada valerá quando chegar a hora fatal. E quem não junta, por não ter condições para isso, coloca a possibilidade de um dia poder juntar (mesmo que remota) como supremo ideal, grande meta que pretende alcançar.

Insensatez! Pura insensatez! Queremos antecipar o futuro (o que é impossível) para alterar o que sequer aconteceu e pode nunca acontecer (absurdo)! E quando nos chamam de “alienados”, nos rebelamos e nos sentimos ofendidos. Mas essa atitude não é uma alienação? Claro que é.

A raiz dos nossos males está em nossa alma. Está no recalcitrante e pétreo egoísmo que nos move e caracteriza. Somos incapazes de compreender o quanto isso nos é nocivo. Rav Michael Laitman, no livro “A revelação da Cabala” (Editora Imago) adverte a propósito: “Na verdade, o altruísmo não é uma opção. Apenas aparentemente é como se pudéssemos escolher sermos egoístas ou altruístas. Mas ao examinarmos a Natureza nós perceberemos que o altruísmo é a mais fundamental lei da natureza”.

Laitman não se limita a constatar o óbvio, mas exemplifica: “Cada célula em nosso corpo é inerentemente egoísta. Mas para existirem, precisam renunciar a suas tendências egoístas para causarem o bem-estar do corpo. A recompensa para cada célula é que ela experimenta não só sua própria existência, mas a vida de um corpo inteiro”.

Claro que, se isso funciona em relação a cada célula do nosso corpo, e garante, com essa ação cooperativa, nossa existência, enquanto organismos íntegros e saudáveis, funcionaria tão bem, ou melhor, se tivéssemos noção da importância do altruísmo na vida social. Infelizmente, (ainda) não temos!

Laitman conclui assim suas reflexões a propósito: “Nós também precisamos desenvolver uma conexão similar uns com os outros. Assim, quanto mais bem-sucedidos formos ao nos aderirmos uns aos outros, mais nós sentiremos a existência de Adão em vez de nossa existência física passageira”.

O homem “ainda” tem conserto? Tem! Todavia, depende da atitude que vier a assumir no prazo mais curto possível, no dia de hoje, na hora presente. Rav Michael Laitman só vê um caminho para emendarmos nossas mazelas e tolices e garantirmos a sobrevivência da espécie: “Falando diretamente, quando corrigirmos a nós mesmos do egoísmo para o altruísmo, tudo o mais será corrigido também – a ecologia, a miséria, a guerra e a sociedade...”

Não vale a pena tentar? Claro que vale! Resta saber se ainda haverá tempo, antes que o homem se destrua e arrase o planeta que lhe dá condições de vida e sustentação (está perigosamente a caminho disso e parece sequer ter se dado conta). Insensatos, é o que na verdade somos! Insensatos e arrogantes, travestidos de “civilizados”.



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Saturday, December 30, 2017

AMOR É PARA SER VIVIDO PLENAMENTE

Um casal vive, às vezes, anos e anos sob o mesmo teto, compartilha seus corpos, festeja bodas de prata, de ouro e de diamante, constrói uma vida em comum, gera e educa filhos, é presenteado com um punhado de netos, reúne considerável patrimônio material em parceria e, no entanto... não se conhece. Amiúde, um se surpreende com atitudes inesperadas do outro, para o bem ou para o mal. Qual a razão de nos apaixonarmos por determinada pessoa e não por outra qualquer, das bilhões do sexo oposto que há mundo afora, não raro mais belas, melhores dotadas de inteligência e cultura, de comportamento mais exemplar e repletas de virtudes em muito maior quantidade do que a que escolhemos? Existe algum motivo especial? Deve existir, mas qual? Mistério! Insondável mistério! Conclui-se, pois, que o amor não é para ser racionalizado, mas para ser vivido plenamente, com o êxtase e o sofrimento que produz, enquanto durar. E dura para sempre? Depende o que essa palavra “sempre” signifique para cada um.


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Por reformas políticas


Pedro J. Bondaczuk


O atual sistema político brasileiro está cheio de distorções, que ficaram ainda mais evidentes ao longo da atual campanha eleitoral, encerrada na sexta-feira. Muita coisa errada deveria e poderia ser consertada na revisão constitucional, caso o Congresso cumprisse o seu dever e empreendesse essa tarefa. Não empreendeu.

Prevaleceu o corporativismo e tudo ficou para uma próxima oportunidade, talvez para as "calendas". Espera-se, porém, que não. A expectativa é a de que essas reformas ocorram logo, já no início da Legislatura que vai começar em fevereiro de 1995.

Por exemplo, falta uma legislação permanente, que estabeleça regras válidas e coerentes para todas as eleições. A cada pleito, surge um novo elenco de normas, infelizmente cada vez mais imperfeitas. A legislação estabelecida para a votação deste ano não é exceção. Apenas veio confirmar a regra. Apresenta muitas deficiências e as campanhas que se encerram apenas não foram conturbadas graças ao trabalho competente e louvável da Justiça Eleitoral.

Outro fator complicador na vida política brasileira é a grande facilidade que há para a formação de partidos. Daí a razão dessa inflação de siglas, que pouco ou nenhum significado possuem, salvo quatro ou cinco agremiações tradicionais, assim mesmo passíveis de reformas.

A própria estrutura partidária no Brasil está viciada. Sente-se que estes grupos não representam correntes de pensamento da sociedade. Não passam de mera formalidade para que aqueles que pretendem entrar na vida pública possam lançar candidaturas.

Nossos partidos não têm ideologia, doutrina e nem objetivos definidos, que não sejam a busca do poder pelo poder. Seus programas são verdadeiras peças de ficção, utópicos e irrealistas, que acabam não sendo levados a sério pelos próprios membros. Existem apenas para constar. Talvez nem seus próprios líderes os conheçam. Os partidos brasileiros não se enquadram sequer na definição do próprio termo. Seu funcionamento e estrutura dão à palavra a conotação de "divisão", de "fracionamento" e não de "corrente de pensamento".

Para complicar, não há nenhuma obrigatoriedade, nem mesmo ética, de seus membros guardarem a fidelidade partidária. Nossa vida política, portanto, não gira ao redor de princípios, de ideias ou de programas. É tratada como se fosse mero jogo e nada mais. É balizada, sobretudo, pelo fisiologismo, pelo oportunismo, pela busca única e exclusiva do poder, a qualquer custo, mesmo que seja preciso passar por cima da ética.

O parlamentar eleito por um partido pode trocar de legenda na hora em que quiser. Nada lhe acontece. Esse "troca troca" ostensivo propicia a prática da compra e venda de filiações, estimulando a corrupção no Congresso e a descaracterização do próprio exercício da representatividade.

Claro que as falhas não são apenas estas, que se mostram, no entanto, as mais evidentes. Daí os políticos não poderem reclamar da péssima imagem de que gozam junto à população. Não se trata, é evidente, de mal sem remédio. Fala-se tanto em mudanças no País, mas pouco, ou nada se faz para mudar algo de tão elementar.

As soluções são simples e até óbvias. Passam, por exemplo, pela edição de uma legislação eleitoral permanente, por critérios rígidos para a formação de partidos, pelo restabelecimento da fidelidade partidária e pela instituição do voto distrital, que permita aos cidadãos uma fiscalização mais rigorosa e permanente sobre aqueles que detêm a responsabilidade de os representar, conferida nas urnas, mediante esse "instrumento de procuração" que é o voto.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 30 de setembro de 1994).



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Ciência e imaginação



Pedro J. Bondaczuk


O artista é o sujeito que lança mão apenas da imaginação para criar obras nascidas exclusivamente da sua fantasia, enquanto o cientista se atém ao concreto, ao comprovável, àquilo que pode ser racionalizado e repetido quantas vezes se desejar, desde que certas regras sejam rigorosamente respeitadas, certo? Errado! O que entendemos por ciência não é mais do que fruto da especulação. O que hoje é tido como dogma incontestável, amanhã pode estar totalmente ultrapassado por novas "descobertas", que por sua vez talvez sejam superadas por outras, e mais outras e mais outras, em um número de vezes que pode se perder no infinito. Karl Popper alertou sobre o dogmatismo para quem pretenda ser um cientista. Afirmou: "As teorias científicas são apenas invenções humanas e devem estar perpetuamente sujeitas a revisão". E de fato estão.

Há somente pouco mais de um século, acreditava-se ainda em geração espontânea, até que Louis Pasteur demonstrasse que só vida pode gerar vida. Há 70 anos, a existência de vírus e bactérias não passava de mera especulação. Ainda hoje se discute se esses agentes infecciosos são seres vivos, inanimados ou um meio-termo entre os dois. Como se vê, a ciência, até mais do que a arte, se alimenta de imaginação. Nutre-se da ilimitada capacidade humana de criar. Ou de recriar o existente com novas formas. O verdadeiro cientista é o que mantém a mente sempre aberta para a dúvida. O que nunca aceita uma evidência como prova definitiva. O que questiona, contesta, indaga, busca respostas e não aceita nenhuma como sendo a última, a final, a indesmentível.

Paul Feyerabend observa que "a ciência só progride transgredindo as regras impostas pela lógica". É, como se vê, uma atividade essencialmente transgressora, especulativa, inovadora, não-dogmática e anarquista em seu sentido mais nobre. É, essencialmente, "imaginação". Até porque, as limitações dos sentidos humanos e o curto tempo da existência do homem impedem-no de ter conhecimento completo, absoluto, positivo sobre qualquer coisa, por mínima que seja. Desconhece até a própria origem. Como sua mente inquieta busca explicações para tudo, elabora (o que é bastante louvável e estimulante) um sem-número de teorias, nenhuma comprovável, a esse respeito. A mais aceita é a da evolução. Seria ciência? Seria fantasia? Seria lenda? Seria ficção? Ciência, no sentido lato do termo, não é. Carece do pressuposto básico. Não pode ser demonstrada através de experiências passíveis de reprodução. É, por conseguinte, o quê? Mera imaginação!

Especula-se, por exemplo, que esse animal atípico, dotado de consciência, capaz de mudar o próprio destino e de alterar a natureza, evoluiu de seres vivos primitivos, que por sua vez surgiram de um acaso ambiental, de uma "sopa de aminoácidos" em que a Terra original se transformou em decorrência de sua intensa atividade vulcânica. Que essas criaturas simples em sua morfologia, unicelulares, através de sucessivas mutações, foram ganhando complexidade e se adaptando a um meio "a priori" hostil, até chegar ao estágio atual, decorrendo, aí, alguns bilhões de anos. Supondo que essa teoria seja lógica --- obviamente não é --- não há como demonstrar essa tese mediante reproduções de laboratório. Muito menos o tempo transcorrido, com teste do Carbono-14 ou sem ele.

Os pesquisadores até que reproduziram a tal "sopa de aminoácidos". Mas não conseguiram criar uma única forma que sequer se aproximasse de um ser vivo. Os adversários das religiões, os que se arrogam a uma racionalidade que na verdade não possuem, os que negam a existência de uma inteligência superior, infinita e eterna (deem o nome que quiserem ao que chamo de Deus), costumam dizer que a metáfora da Criação, narrada no primeiro capítulo da Bíblia, é um "conto da carochinha", ingênuo e rústico, voltado para "mentes ignorantes".

Estes não devem, todavia, ter lido o relato bíblico. Posto que metafórico, ninguém jamais, em tempo algum, em qualquer lugar, fez uma narração com tamanha lógica e sabedoria quanto esta sobre assunto de tamanha complexidade. E seu autor não contava com a parafernália de instrumentos e nem com a espantosa soma de informações ao dispor do homem contemporâneo. Não tinha biblioteca, arquivos, computadores, etc. O relato em questão é fruto exclusivo de uma sabedoria superior. Não exclui, em hipótese alguma, uma explicação dita "científica", se esta for cabível. Qualquer que tenha sido a origem do homem, a primeira dessas criaturas inteligentes não deixou vestígios de sua passagem. Não documentou quando surgiu, já que não dispunha de um sistema de medição de tempo. Não tinha inventado o alfabeto, que lhe permitiria um registro escrito do que via ou pensava. Provavelmente sequer se comunicava oralmente. Tudo isso veio depois. Ninguém poderá, portanto, saber quem foi e nem quando nasceu.

Prova de verdade, portanto, sobre a origem do homem, jamais será conseguida. E não se trata da afirmação de um céptico empedernido, mas da mínima lógica. Quanto aos demais tipos de conhecimento, ditos científicos, as dificuldades são iguais ou até maiores. A imaginação, portanto, é instrumental por excelência do cientista, da mesma forma que é do artista. A diferença é que este último o utiliza com muito mais charme e beleza e sem a arrogância do primeiro.



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Friday, December 29, 2017

O ENIGMA DO AMOR

O amor entre um homem e uma mulher é um enigma indecifrável que, quanto mais procuramos decifrar, mais e mais nos emaranhamos em milhares de novas dúvidas e infinitas indagações. O que ele é, afinal? Qual a sua natureza? O que define sua origem? Qual a sua duração? Enigmas! Múltiplos e intrincados enigmas a desafiarem nossa capacidade de racionalização. O amor, em resumo, é meramente atração sexual entre pessoas de sexos opostos? Muitos entendem que, no final das contas, é isso mesmo. Evidentemente que não é (ou, pelo menos, não é “apenas” isso), embora esse fator seja relevante para aproximar dois seres humanos que se amem. Posso ser atraído sexualmente por uma fêmea esplendorosa e, após saciar meu instintivo desejo, não sentir mais nada, absolutamente nada por ela, a não ser profunda indiferença (e vice-versa). É, então, identidade de pensamentos, sentimentos e vontades? Estes fatores podem, de fato, estar presentes num relacionamento amoroso (e é desejável que estejam). Contudo não o definem e nem o caracterizam. Há muitas, muitíssimas pessoas que pensam da mesma maneira, sentem o que outras sentem, têm os mesmos planos e ideais e, no entanto, não se amam. O oposto, igualmente, é verdadeiro. Ademais, é impossível saber com certeza, com absoluta e total segurança, o que alguém do seu lado realmente pensa, sente ou deseja. Essa pessoa pode, perfeitamente, dizer uma coisa e pensar, sentir e desejar outra completamente diferente. Como saber se está dizendo a verdade? Não há como saber. Portanto... o amor é um enigma.


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Basta à violência


Pedro J. Bondaczuk


A violência em Campinas chegou a níveis de tamanha proporção, que se faz urgentíssima a adoção de medidas para conter esse flagelo urbano, envolvendo não apenas as autoridades, mas os setores representativos da sociedade civil. A cidade precisa mobilizar-se e dizer "basta!" a essa situação de insegurança e medo. Qualquer mero espectador de hoje, pode ser a vítima de amanhã.

Por isso, é bastante louvável a atitude do vereador Romeu Santini (PFL), ao protocolar à mesa da Câmara Municipal um requerimento, convocando várias entidades da sociedade civil para uma audiência pública, com o objetivo de debater e, principalmente, de colher sugestões sobre o que Campinas deve fazer para conter a criminalidade.

Uma das medidas óbvias seria a realização de batidas da Polícia Militar, em conjunto com a Civil, nos focos mais sensíveis a furtos e roubos, em especial nos fins de semana, quando esses tipos de crime aumentam. Outra providência que não depende de maiores considerações é o policiamento ostensivo nesses locais, para inibir ataques de ladrões. Já passa da hora da cidade se mobilizar, em uma ação concentrada e múltipla (como fez Nova York, por exemplo), além de cobrar do governo do Estado maior atuação na segurança.

(Editorial número dois, publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 18 de junho de 1998).


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Mobilidade do tempo


Pedro J. Bondaczuk


O tempo transforma, profundamente, tudo e todos e, principalmente, os que escolhem caminhos errados e desperdiçam estupidamente suas vidas. O arrogante, por exemplo, ao cabo dos anos, faz-se humilde, ao se dar conta que não é tão importante como pensava, que nunca foi ou será o centro do mundo, como julgava que fosse. A dura realidade se encarrega de derrubar sua crista.

O idealista, por seu turno, torna-se cínico, quando percebe quão pífio e vazio era aquele ideal que julgava revolucionário ou que, pelo menos, dava a entender aos outros que mudaria o curso da história. É possível enganar os outros por muito tempo ou, até, em determinadas circunstâncias, o tempo todo, mas jamais conseguiremos enganar para sempre a nós mesmos.

Finalmente o crente, que abraçou crença errada, passa a descrer de tudo e de todos e se transforma em empedernido céptico. Há crenças que são nitidamente meras superstições. Às vezes tarda para que cheguemos a essa conclusão, que para a maioria é óbvia, mas lá um belo dia, quando menos esperamos, a “ficha” cai.

Daí a importância da adoção de valores adequados e de metas factíveis para nossas vidas. Compete-nos valorizar adequadamente o que, de fato, é importante, e descartar o inócuo, o fútil, o supérfluo e, por conseqüência, o desnecessário. Não é, todavia, o que fazemos na maioria das vezes. Não raro, carregamos, vida afora, toneladas de “lixo”, evidentemente inútil, que não nos servem para coisíssima alguma, em momento algum, e que só nos atrapalham.

A atitude mais inteligente é a de sermos humildes sem nos humilharmos; idealistas, mas com os pés no chão, e crentes, mas no racional e no transcendental. Outro equívoco em que geralmente incorremos é o de deixamos de valorizar adequadamente alegrias, que julgamos pequenas, e sucessos, que entendemos como pífios e banais.

O tempo, contudo, se encarrega de repor as coisas em suas devidas proporções. Passados anos, nos damos conta que aquelas amizades, por exemplo, a que não soubemos dar o devido valor, eram grandiosas e essenciais. E o oposto, por sua vez, também ocorre. Ou seja, descobrimos, atônitos e desolados, que aquela pessoa que julgávamos amiga incondicional era, na verdade, oportunista, ou falsa ou o que o povão denomina de “traíra”.

Concluímos, por outra parte, que as satisfações que entendíamos como ínfimas, foram os momentos mais marcantes das nossas vidas, que não soubemos, por erro de enfoque, usufruir devidamente.. E então nos frustramos diante da nossa cegueira. Mas então é tarde. O tempo é irreversível. Não podemos, claro, retornar ao passado e viver novamente, agora de forma adequada, os acontecimentos que não soubemos valorizar.

O mais sábio e mais sensato é valorizarmos cada alegria e cada êxito do nosso cotidiano (mesmo que nos pareçam pequenos e banais) como magníficas ocorrências e extraordinários feitos, tendo sempre em mente as inspiradas palavras do poeta Virgílio, que num dos versos do Livro Primeiro, da epopéia “Eneida”, colocou esta observação na boca de um dos personagens: “Talvez um dia será agradável recordar estas coisas”. Ironicamente, salvo raríssimas exceções, sempre é.

Finalmente, outro aspecto que trago à reflexão do paciente leitor, nestas descompromissadas divagações, refere-se à forma com que marcamos o tempo – na verdade uma abstração, uma convenção que criamos para organizar nosso cotidiano. Sua medição caracteriza-se por extremos. Pode ser longa ou curta, rápida ou lenta, infinitamente pequena ou infinitamente grande.

O importante, contudo, não é a dimensão do tempo, mas a maneira que o utilizamos. Há os que dedicam horas e horas, dos anos produtivos de sua vida, ao trabalho, em detrimento de atividades como o amor, as amizades, a família, o lazer e tantas outras. O resultado, invariavelmente, é a frustração.

Trabalhar, sem dúvida, é importante, mas não tanto quanto viver. Virtude em excesso acaba se tornando defeito. Moderação é o grande segredo para tudo na vida. Gosto, por exemplo, de doce de leite, que me agrada o paladar quando o consumo em pequenas porções, na sobremesa. Caso coma um tacho inteiro, no entanto, certamente terei uma devastadora diarreia. E nunca mais vou querer provar essa delícia, que, para mim, passará a ser veneno.

Há, claro, pessoas que descambam para o outro extremo (e, convenhamos, em muito maior quantidade do que os chamados “workaholics”). Entregam-se ao ócio, à inércia, à preguiça, à vagabundagem explícita e se anulam. Outros, ainda, divertem-se quanto podem, mas negligenciam atividades mais nobres e prazerosas. Também se tornam candidatos mais que certos ao fracasso e às desilusões.

A verdade é que temos o péssimo hábito (salvo honrosas exceções) de adiar para amanhã o que pode ser feito hoje. Mas não se trata só de trabalho, mas de amores, de amizades, de relacionamentos de todas as naturezas etc. Achamos que temos à nossa frente todo o tempo do mundo, quando, na verdade, ele é escasso, ínfimo, reduzidíssimo, quase que como mero piscar de olhos.

Adiamos, por exemplo, aquela declaração de amizade, ou de amor, a alguém que nos é muito caro e, subitamente, sem que nos venhamos a dar conta, nos vimos afastados dessa pessoa tão querida, por alguma das tantas contingências da vida. Deixamos para as calendas aquele romance que pretendíamos escrever, aquela tela que planejávamos pintar ou aquela canção que prometemos compor. E essas obras, via de regra, jamais se concretizam. Ficam, apenas, no nebuloso plano das intenções.

Marcel Proust, no livro “Em busca do tempo perdido”, coloca a seguinte verdade na boca de um dos personagens: “Teoricamente sabemos que a Terra gira, mas nós não percebemos: o solo que pisamos não parece se mexer e vivemos tranqüilos; o mesmo acontece com o tempo de nossa vida”. Sejamos, pois, amáveis, determinados, alegres e felizes hoje. Afinal, ninguém nos garante que ao menos teremos um amanhã! Simples, não é verdade?


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