Wednesday, December 18, 2013

Túmulo da violência


Pedro J. Bondaczuk


O massacre ocorrido sexta-feira no Túmulo dos Patriarcas, na cidade de Hebron, na Cisjordânia, quando 53 palestinos foram mortos enquanto rezavam na mesquita de Ibrahim (Abraão para os cristãos), mostra como é árdua e sensível a tarefa dos diplomatas.

Todo um trabalho estafante e paciente de anos a fio pode ser posto a perder por algum maluco qualquer, que encarne, em sua paranóia, a figura de um "vingador", praticando uma atrocidade como a feita pelo médico norte-americano Baruch Goldstein, que comandou a chacina num lugar considerado santo para três religiões monoteístas: cristã, judia e muçulmana.

No Túmulo dos Patriarcas, reza a tradição, estão sepultados os restos mortais de venerandas figuras bíblicas. É um local de culto, de veneração, de meditação e de respeito. Acolhe, entre outros, o que pode ter restado de Abraão, Isaac, Jacó e de suas respectivas esposas, Sara, Rebeca e Lia. Há quem garanta que o primeiro casal humano, Adão e Eva, tenha sido enterrado ali.

Um incidente maluco, perverso e sem sentido, como o de sexta-feira (e que não se generalize, condenando a todos os judeus) tinha que ocorrer justo agora, quando palestinos e israelenses deram gigantescos passos para riscar do mapa dos conflitos aquela região do Oriente Médio!

Quase meio século foi necessário para que as duas partes começassem a se entender e concluíssem que podem conviver pacificamente, a despeito de suas diferenças. Uma carga enorme de preconceito começava a ser sepultada, ódios há muito acalentados estavam sendo vencidos, interesses absolutamente antagônicos vinham obtendo, penosamente, conciliação.

Para que árabes e judeus chegassem tão próximos da paz, dias sem fim de discussões e negociações foram gastos, estratégias em profusão foram traçadas, centenas de propostas foram apresentadas, recusadas, refeitas, reapresentadas, em conversações intermináveis, envolvendo milhares de pessoas no mundo inteiro. E agora?

O lamentável é que um ato isolado, de alguém que conhece apenas a linguagem da força e da cega violência, ameaça pôr tudo a perder. As esperanças da comunidade internacional são as de que o massacre, ao invés de servir de pretexto aos insensatos, dê razão aos pacifistas e ressalte ainda mais a necessidade de um acordo. Que a paz não venha a ser sepultada no Túmulo dos Patriarcas!


(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de fevereiro de 1994).

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