Túmulo da violência
Pedro J. Bondaczuk
O
massacre ocorrido sexta-feira no Túmulo dos Patriarcas, na cidade de Hebron, na
Cisjordânia, quando 53 palestinos foram mortos enquanto rezavam na mesquita de
Ibrahim (Abraão para os cristãos), mostra como é árdua e sensível a tarefa dos
diplomatas.
Todo
um trabalho estafante e paciente de anos a fio pode ser posto a perder por
algum maluco qualquer, que encarne, em sua paranóia, a figura de um
"vingador", praticando uma atrocidade como a feita pelo médico
norte-americano Baruch Goldstein, que comandou a chacina num lugar considerado
santo para três religiões monoteístas: cristã, judia e muçulmana.
No
Túmulo dos Patriarcas, reza a tradição, estão sepultados os restos mortais de
venerandas figuras bíblicas. É um local de culto, de veneração, de meditação e
de respeito. Acolhe, entre outros, o que pode ter restado de Abraão, Isaac,
Jacó e de suas respectivas esposas, Sara, Rebeca e Lia. Há quem garanta que o
primeiro casal humano, Adão e Eva, tenha sido enterrado ali.
Um
incidente maluco, perverso e sem sentido, como o de sexta-feira (e que não se
generalize, condenando a todos os judeus) tinha que ocorrer justo agora, quando
palestinos e israelenses deram gigantescos passos para riscar do mapa dos
conflitos aquela região do Oriente Médio!
Quase
meio século foi necessário para que as duas partes começassem a se entender e
concluíssem que podem conviver pacificamente, a despeito de suas diferenças.
Uma carga enorme de preconceito começava a ser sepultada, ódios há muito
acalentados estavam sendo vencidos, interesses absolutamente antagônicos vinham
obtendo, penosamente, conciliação.
Para
que árabes e judeus chegassem tão próximos da paz, dias sem fim de discussões e
negociações foram gastos, estratégias em profusão foram traçadas, centenas de
propostas foram apresentadas, recusadas, refeitas, reapresentadas, em
conversações intermináveis, envolvendo milhares de pessoas no mundo inteiro. E
agora?
O
lamentável é que um ato isolado, de alguém que conhece apenas a linguagem da
força e da cega violência, ameaça pôr tudo a perder. As esperanças da
comunidade internacional são as de que o massacre, ao invés de servir de
pretexto aos insensatos, dê razão aos pacifistas e ressalte ainda mais a
necessidade de um acordo. Que a paz não venha a ser sepultada no Túmulo dos
Patriarcas!
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 27 de fevereiro de
1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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