Friday, December 27, 2013

Oportunidades perdidas

Pedro J. Bondaczuk

A baronesa austríaca Marie Freifrau von Ebner Eschenbach – considerada, junto com Ferdinand von Saar, uma das mais importantes escritoras de língua alemã da segunda metade do século XIX – escreveu, certa feita, que “nada se desperdiça tantas vezes e inexoravelmente como as oportunidades que se nos revelam todos os dias”. Apresente esta declaração para qualquer pessoa e ela, com certeza, a considerará, no mínimo, exagerada. Você, provavelmente, deve estar pensando a mesma coisa.A maior parte das contestações deve-se ao fato de quem a faz garantir que as oportunidades em suas vidas são coisas raras. Não são nem anuais, quanto mais diárias. Há quem assegure, até, que jamais contou com alguma e que, portanto, não poderia desperdiçar o que nunca teve.

Essas pessoas têm razão? Óbvio que não! São ou desmemoriadas ou sumamente mentirosas. Esclareço que não estou me referindo, e nem a baronesa se referiu, às oportunidades maiúsculas, definitivas, aquelas que, se aproveitadas, mudam, em um piscar de olhos, os rumos de nossas vidas para sempre, como, por exemplo, acertar sozinho na megassena ou conseguir aquela nomeação que venha a garantir nossa segurança financeira ou algo do gênero. Essas, aliás, nem se constituem propriamente em oportunidades, mas são golpes de sorte ao sabor do acaso. Todavia, muitos conseguem desperdiçar até mesmo chances como estas. “O cavalo” passa selado à sua frente, mas ou por distração, ou por ceticismo, ou por indolência, ou até mesmo por burrice, não conseguem, ou não tentam ou não querem saltar para o seu lombo e assim cavalgar para o sucesso.

Se atentarmos bem, no entanto, temos, diariamente, e não raro até várias vezes por dia, pequenas oportunidades, que podem, se aproveitadas, ou nos fazer felizes, ou prevenir motivos de infelicidade, ou no mínimo, evitar algumas encrencas desagradáveis, muitas das quais geram conseqüências duradouras. Cada momento que vivemos, por mais tedioso e banal que nos pareça (ou que, de fato, seja) é importantíssimo, pois é único. Após passar, será irrecuperável. Costumamos nos esquecer que a vida não é como um video, que possamos editar, corrigir erros e repetir quando e quantas vezes quisermos. Embora óbvio, não atentemos para isso e ajamos como se pudéssemos corrigir os erros que cometemos a qualquer momento, quando quisermos. Reitero: não podemos. As coisas não são assim. Às vezes, de fato, contamos com essa segunda oportunidade. Mas...

Conheço pessoas que por um motivo qualquer, brigaram com os pais, por exemplo, aos quais amavam extremadamente e eram amados por eles. Tiveram inúmeras chances de reconciliação, que foram adiando, adiando e adiando, sine die. Lá um belo dia, quando cismaram que era o momento adequado de solucionar essas pendências (geralmente geradas por motivos sumamente banais), não conseguiram. Os pais tiveram morte súbita. E a não reconciliação ficou como um peso insuportável em suas consciências pelo resto de suas vidas. O arrependimento é a grande e inevitável seqüela do não aproveitarmos das oportunidades, não importa se pequenas ou maiúsculas. Mas... aí geralmente já é tarde, muito tarde.

Nunca permita que alguma mágoa que você tenha provocado, ou que lhe provocaram, sobreviva de um dia para outro, principalmente quando se tratar de pessoa que você ama – pais, filhos, irmãos, namorada, esposa, amigos etc. – pois você poderá jamais ter outra chance para removê-la e provavelmente não terá mesmo. Ademais, por que arriscar, não é mesmo?

Dialogue, pondere, discuta até se for necessário, mas esclareça de vez o que está produzindo o conflito. Se tiver que ceder, ceda, pois não há demérito algum nisso e sai mais “barato” do que perder a pessoa que você ama e cujo prejuízo tende a ser irreparável e permanente. Mas não adie o esclarecimento. Não perca jamais a oportunidade de pôr os devidos pingos nos is, porquanto esta pode (e muitas vezes é) única. Faça isso, por exemplo, se não hoje (que é o que recomendo), pelo menos nesta passagem de ano. Ela não deixa de ser preciosa oportunidade para isso. Não deixe pendências para o próximo ano. Comece janeiro absolutamente zerado nesse aspecto e atento para não cometer novos erros e para aproveitar as mínimas chances que detectar, mesmo as que pareçam ínfimas e banais, mas que podem ser importantíssimas e essenciais. Afinal, as aparências enganam.        


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