Oportunidades
perdidas
Pedro J. Bondaczuk
A baronesa austríaca
Marie Freifrau von Ebner Eschenbach – considerada, junto com Ferdinand von Saar,
uma das mais importantes escritoras de língua alemã da segunda metade do século
XIX – escreveu, certa feita, que “nada se desperdiça tantas vezes e
inexoravelmente como as oportunidades que se nos revelam todos os dias”.
Apresente esta declaração para qualquer pessoa e ela, com certeza, a
considerará, no mínimo, exagerada. Você, provavelmente, deve estar pensando a
mesma coisa.A maior parte das contestações deve-se ao fato de quem a faz
garantir que as oportunidades em suas vidas são coisas raras. Não são nem
anuais, quanto mais diárias. Há quem assegure, até, que jamais contou com
alguma e que, portanto, não poderia desperdiçar o que nunca teve.
Essas pessoas têm
razão? Óbvio que não! São ou desmemoriadas ou sumamente mentirosas. Esclareço
que não estou me referindo, e nem a baronesa se referiu, às oportunidades
maiúsculas, definitivas, aquelas que, se aproveitadas, mudam, em um piscar de
olhos, os rumos de nossas vidas para sempre, como, por exemplo, acertar sozinho
na megassena ou conseguir aquela nomeação que venha a garantir nossa segurança
financeira ou algo do gênero. Essas, aliás, nem se constituem propriamente em
oportunidades, mas são golpes de sorte ao sabor do acaso. Todavia, muitos
conseguem desperdiçar até mesmo chances como estas. “O cavalo” passa selado à
sua frente, mas ou por distração, ou por ceticismo, ou por indolência, ou até
mesmo por burrice, não conseguem, ou não tentam ou não querem saltar para o seu
lombo e assim cavalgar para o sucesso.
Se atentarmos bem,
no entanto, temos, diariamente, e não raro até várias vezes por dia, pequenas
oportunidades, que podem, se aproveitadas, ou nos fazer felizes, ou prevenir
motivos de infelicidade, ou no mínimo, evitar algumas encrencas desagradáveis,
muitas das quais geram conseqüências duradouras. Cada momento que vivemos, por
mais tedioso e banal que nos pareça (ou que, de fato, seja) é importantíssimo,
pois é único. Após passar, será irrecuperável. Costumamos nos esquecer que a
vida não é como um video, que possamos editar, corrigir erros e repetir quando
e quantas vezes quisermos. Embora óbvio, não atentemos para isso e ajamos como
se pudéssemos corrigir os erros que cometemos a qualquer momento, quando
quisermos. Reitero: não podemos. As coisas não são assim. Às vezes, de fato,
contamos com essa segunda oportunidade. Mas...
Conheço pessoas que
por um motivo qualquer, brigaram com os pais, por exemplo, aos quais amavam
extremadamente e eram amados por eles. Tiveram inúmeras chances de
reconciliação, que foram adiando, adiando e adiando, sine die. Lá um belo dia,
quando cismaram que era o momento adequado de solucionar essas pendências
(geralmente geradas por motivos sumamente banais), não conseguiram. Os pais
tiveram morte súbita. E a não reconciliação ficou como um peso insuportável em
suas consciências pelo resto de suas vidas. O arrependimento é a grande e
inevitável seqüela do não aproveitarmos das oportunidades, não importa se pequenas
ou maiúsculas. Mas... aí geralmente já é tarde, muito tarde.
Nunca permita que
alguma mágoa que você tenha provocado, ou que lhe provocaram, sobreviva de um
dia para outro, principalmente quando se tratar de pessoa que você ama – pais,
filhos, irmãos, namorada, esposa, amigos etc. – pois você poderá jamais ter
outra chance para removê-la e provavelmente não terá mesmo. Ademais, por que
arriscar, não é mesmo?
Dialogue, pondere,
discuta até se for necessário, mas esclareça de vez o que está produzindo o conflito.
Se tiver que ceder, ceda, pois não há demérito algum nisso e sai mais “barato”
do que perder a pessoa que você ama e cujo prejuízo tende a ser irreparável e
permanente. Mas não adie o esclarecimento. Não perca jamais a oportunidade de
pôr os devidos pingos nos is, porquanto esta pode (e muitas vezes é) única.
Faça isso, por exemplo, se não hoje (que é o que recomendo), pelo menos nesta
passagem de ano. Ela não deixa de ser preciosa oportunidade para isso. Não
deixe pendências para o próximo ano. Comece janeiro absolutamente zerado nesse
aspecto e atento para não cometer novos erros e para aproveitar as mínimas
chances que detectar, mesmo as que pareçam ínfimas e banais, mas que podem ser
importantíssimas e essenciais. Afinal, as aparências enganam.
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