Setenta de novo
Pedro J. Bondaczuk
Os
deuses dos estádios foram caprichosos com a seleção brasileira e
destinaram-lhe, para disputar a final da Copa do Mundo dos Estados Unidos, um
adversário que, secretamente, cada torcedor que acreditava que o Brasil iria
alcançar esta etapa, queria enfrentar.
Não
que a Itália seja mais fraca do que outras equipes. Sua trajetória, sem brilho,
pela competição, é enganadora. Basta que nos lembremos de 1982, quando os
italianos quase foram desclassificados por Camarões e acabaram conquistando o
seu tricampeonato. O adversário é o ideal por possibilitar a repetição da Copa
de 1970, no México.
Naquela
oportunidade, tanto italianos, quanto brasileiros, buscavam o tri. O talento de
Tostão, Pelé, Gerson, Rivelino, Carlos Alberto e outros craques, luziu e
conseguimos aqueles consagradores e inesquecíveis 4 a 1. E agora?
Bem,
dizem que a história nunca se repete. Neste caso, acreditamos que a não
repetição será somente quanto ao placar. A mesma intuição que tivemos (e
expressamos nesta página), desde antes do embarque da seleção brasileira para
os Estados Unidos, continuamos tendo, e até mais forte.
Acreditamos
que o tetra nos está reservado. Basta somente confirmá-lo. Mas que ninguém
espere goleada ou um jogo deslumbrante. Vai ser mais um sufoco, o último deste
mundial destinado a ser conquistado com sobressalto, irritação em alguns
momentos e gostoso desabafo final.
Se
retrospecto ganhasse jogo, tudo seria mais fácil. O Brasil tem a defesa menos
vazada da Copa, um dos melhores ataques e a chance de fazer o artilheiro, no
caso Romário, caso não desperdice, como fez contra a Suécia, tantas
oportunidades de gol.
Mas
uma final de Copa é imprevisível e geralmente nervosa. Ganha quem erra menos e
tem maior controle emocional. Uma coisa é certa: do Estádio Rose Bowl, de Los
Angeles, sairá um tetracampeão.
A
partida também será um tira-teima entre a América do Sul e a Europa, cada qual
com sete títulos nos 14 mundiais anteriores. Temos a certeza de que, ao cabo de
90 sofridos, nervosos e disputados minutos, o Brasil explodirá em festa, e
poderemos voltar a cantar, como em 1958: "A Taça do Mundo é nossa/com
brasileiro/não há quem possa./Eeeta esquadrão de ouro/é bom no samba,/é bom no
couro..."
(Artigo
publicado na página 2, do Caderno da Copa, do Correio Popular, em 16 de julho
de 1994).
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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