Thursday, December 05, 2013

Setenta de novo


Pedro J. Bondaczuk


Os deuses dos estádios foram caprichosos com a seleção brasileira e destinaram-lhe, para disputar a final da Copa do Mundo dos Estados Unidos, um adversário que, secretamente, cada torcedor que acreditava que o Brasil iria alcançar esta etapa, queria enfrentar.

Não que a Itália seja mais fraca do que outras equipes. Sua trajetória, sem brilho, pela competição, é enganadora. Basta que nos lembremos de 1982, quando os italianos quase foram desclassificados por Camarões e acabaram conquistando o seu tricampeonato. O adversário é o ideal por possibilitar a repetição da Copa de 1970, no México.

Naquela oportunidade, tanto italianos, quanto brasileiros, buscavam o tri. O talento de Tostão, Pelé, Gerson, Rivelino, Carlos Alberto e outros craques, luziu e conseguimos aqueles consagradores e inesquecíveis 4 a 1. E agora?

Bem, dizem que a história nunca se repete. Neste caso, acreditamos que a não repetição será somente quanto ao placar. A mesma intuição que tivemos (e expressamos nesta página), desde antes do embarque da seleção brasileira para os Estados Unidos, continuamos tendo, e até mais forte.

Acreditamos que o tetra nos está reservado. Basta somente confirmá-lo. Mas que ninguém espere goleada ou um jogo deslumbrante. Vai ser mais um sufoco, o último deste mundial destinado a ser conquistado com sobressalto, irritação em alguns momentos e gostoso desabafo final.

Se retrospecto ganhasse jogo, tudo seria mais fácil. O Brasil tem a defesa menos vazada da Copa, um dos melhores ataques e a chance de fazer o artilheiro, no caso Romário, caso não desperdice, como fez contra a Suécia, tantas oportunidades de gol.

Mas uma final de Copa é imprevisível e geralmente nervosa. Ganha quem erra menos e tem maior controle emocional. Uma coisa é certa: do Estádio Rose Bowl, de Los Angeles, sairá um tetracampeão.

A partida também será um tira-teima entre a América do Sul e a Europa, cada qual com sete títulos nos 14 mundiais anteriores. Temos a certeza de que, ao cabo de 90 sofridos, nervosos e disputados minutos, o Brasil explodirá em festa, e poderemos voltar a cantar, como em 1958: "A Taça do Mundo é nossa/com brasileiro/não há quem possa./Eeeta esquadrão de ouro/é bom no samba,/é bom no couro..."

(Artigo publicado na página 2, do Caderno da Copa, do Correio Popular, em 16 de julho de 1994).


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