Confronto de teses
antagônicas
Pedro
J. Bondaczuk
Os cientistas da
Universidade de Wisconsin, que elaboraram, em meados da década de 70 do século
passado, meticuloso relatório sobre mudanças climáticas globais, por encomenda
da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), advertiram, na
ocasião, em seu relatório final, entre outras coisas, que o clima não vinha
merecendo a devida atenção da comunidade internacional, por ter sido, até
então, favorável à agricultura. O documento, porém, relacionou uma série de
desequilíbrios à qual não se deu praticamente nenhuma importância.
Na época, a região do
Sul do Saara, na África, o tristemente famoso Sahel, estava sem chuvas de
monção desde 1968. Depois disso, essa área foi afetada mais quatro vezes pelo
mesmo problema: severa e prolongada estiagem. Em conseqüência, os países que se
situam nessa zona, Mauritânia, Senegal, Burkina Faso, Niger, Chade e Mali,
passaram por prolongado e agudo período de fome, que atingiu a maior parte das
suas respectivas populações. Quantas vidas se perderam por causa da escassez de
alimentos? Nunca se saberá ao certo. A questão, na época, sequer mereceu a
atenção da imprensa internacional. Não, pelo menos, aquela que temas dessa
natureza devem merecer. E se não houve divulgação, também não houve
providências da comunidade mundial para socorrer a multidão de flagelados,
virtualmente entregues à própria sorte (na verdade, imenso azar).
Além desse
desequilíbrio na África, o relatório da Universidade de Wisconsin assinalou o
crescimento do volume mundial de neve e gelo, da ordem de 15%. Destacou que o
Canadá e a Groenlândia tiveram temperaturas abaixo das normais por 19 meses
consecutivos. Citou, em contrapartida, que a área próxima a Moscou foi assolada
pela pior seca em 300 anos. A capital russa, normalmente gelada, chegou a
assemelhar-se a qualquer cidade situada em áreas desérticas. Houve ocasiões, na
época citada, em que os termômetros chegaram a registrar temperaturas recordes
de 50 graus centígrados!
As chuvas ficaram
ausentes de vastas regiões, como da citada zona subssariana na África ou o Sul
da Ásia, ou setores da Austrália e da América Central. Fazendo contraponto a
essa severa estiagem, o Meio Oeste dos Estados Unidos foi assolado por
enchentes catastróficas, que os jornais da época noticiaram fartamente. Como
que respondendo ao relatório de 1976, da Universidade de Wisconsin,
climatologistas norte-americanos advertiram, no segundo semestre de 1987, que a
Terra estava correndo riscos, por causa da intensa poluição atmosférica, de
passar pelo fenômeno oposto ao “Neoboreal”, ou seja, o “Efeito Estufa”.
Vamos, primeiro, tentar
entender o que isso significa, já que tanto quem escreve estas reflexões (eu),
quanto quem as lê são leigos na matéria. A atmosfera do Planeta contém, posto
que em quantidades ínfimas, dióxido de carbono e vapor de água, cuja função
física específica é a de impedir que a radiação infravermelha dos raios solares
venha a se dispersar no espaço durante a noite. Se o Planeta tivesse 50% de sua
superfície coberta por gelo, por exemplo, em pouco tempo imensas geleiras
cobririam a totalidade do globo terrestre e isso por uma razão muito simples. A
água, no estado sólido, reflete 90% da luz e do calor que incidem sobre ela. Já
a reflexão da terra é de apenas 10%. Um simples rebaixamento da temperatura
global da ordem de 3 graus centígrados seria suficiente para deflagrar uma
glaciação.
Cada vez mais luz e
calor seriam refletidos para o espaço escuro e gelado onde a Terra se situa. Os
termômetros, por consequência, óbvio, despencariam. As geleiras avançariam e
aumentariam de espessura, refletindo, mais e mais raios infravermelhos, até que
não houvesse mais superfície alguma a ser coberta pelo gelo. Caso, portanto, o
dióxido de carbono se esvaísse por completo no espaço, a Terra perderia, com
grande rapidez, calor, até se tornar gigantesca bola de gelo (como o planeta
Netuno, por exemplo) a girar no vácuo. Afinal, esse composto orgânico é o
isolante térmico natural do nosso domo cósmico.
O “Efeito Estufa” é
exatamente o contrário desse processo que acabei de descrever. Atualmente, a
despeito de toda a poluição atmosférica que se registra incessantemente, e que
é imensa, o nível de CO2 na atmosfera é de apenas 0,03%. Suponhamos, porém, que
por alguma razão qualquer, essa taxa venha a dobrar. Explique-se que esse
acréscimo tão expressivo (ou catastrófico) seria sumamente improvável. Por que?
Porque grande parte do dióxido de carbono excedente seria absorvida pelo mar. E
destaque-se que dois terços da superfície do Planeta são cobertos pelas águas.
O que restar do excesso de C02 (sua quase totalidade), irá impregnar as rochas,
aumentando a produção de calcário. Dificilmente, pois, haveria condições
minimamente propícias para a taxa de dióxido de carbono vir a dobrar na
atmosfera, por mais que se acentue a poluição do ar gerada pela indústria e por
alguns bilhões de veículos automotores.
Mas, apenas para
entendimento do processo, suponhamos que isso (desgraçadamente) ocorra. O ar
continuará, ainda assim, bem respirável. As pessoas sequer sentirão qualquer
mudança nesse aspecto. O desequilíbrio poderá, apenas, ser detectado por
ultrassensíveis equipamentos apropriados de medição. A atmosfera se tornará
mais opaca, retendo junto ao solo a radiação infravermelha. A temperatura da
Terra passará a sofrer ligeira, posto que progressiva, elevação, mas de ano
para ano. A evaporação das águas dos mares, oceanos, rios e lagos será
intensificada, elevando o nível de vapor na atmosfera. Caso tudo isso
acontecesse (ou aconteça), haveria (ou haverá) um indesejável círculo vicioso,
intensificando, cada vez mais, o chamado “Efeito Estufa”.
Destaque-se que tudo
isso somente ocorreria caso a taxa de dióxido de carbono dobrasse dos atuais
0,03% para 0,06%, o que, conforme dados confiáveis, está muito distante de
ocorrer. Mas, afinal, quem está com a razão? Os que defendem a tese de que a
Terra está em vias de ingressar em uma nova era glacial, posto que de baixa
intensidade? Ou os que garantem que o “Efeito Estufa” – contestado em muitos
círculos e visto como instrumento político ou meio de chantagem econômica para
forçar os países poluidores a pagarem pelo excesso de polui~/ao que produzem –
já está instalado e que seu agravamento seria mera questão de tempo? Reitero a
pergunta: quem está com a razão? Uma coisa, todavia, é certa: o clima do
Planeta está, de fato, mudando!!! O quanto, causado por quem ou pelo quê e
quais as conseqüências é o que deve ser debatido pelo maior número possível de
pessoas.
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