Sunday, December 15, 2013

Eleição na Índia

Pedro J. Bondaczuk

A maior democracia do mundo, com 300 milhões de eleitores, está em pleno processo eleitoral, para a composição do Lok Sabba, ou seja, a Câmara do Povo, integrada por 544 parlamentares. É tanta gente para votar que o pleito é humanamente impossível de ser realizado em um único dia, precisando de três para que os sufrágios sejm colhidos nos 22 Estados e 9 Territórios que compõem esse vasto país, de 720 milhões de habitantes (o segundo mais populoso do mundo). É claro que nos referimos à Índia, de tantos contrastes e confrontos, onde se fala por exemplo, 14 idiomas oficiais. Onde existem 1.600 dialetos de uso corrente e as diversas etnias são tão variadas que vão desde aborígenes, nas montanhas e florestas centrais, aos mongóis, no norte montanhoso.

Quanto mais se estuda a respeito da Índia, menos se entende como uma concentração tão heterogênea mantém-se relativamente coesa, constituindo uma nação. Diz-se, freqüentemente, que governar, num sistema realmente democrático, é administrar conflitos. E estes, pelo exposto acima, é que não faltam ao primeiro-ministro indiano, que tem que conciliar desde uma renda per capita irrisória de US$ 260 anuais, até inconciliáveis e seculares inimizades, de caráter religioso. Tem que tentar reduzir uma taxa de analfabetismo de 64% (que já chegou a ser muito maior) e uma das maiores incidências de mortalidade infantil planetária, de 125 óbitos para cada mil nascimentos.

E toda essa carga massacrante de problemas, dos quais os assinalados são apenas alguns, estará, nos próximos cinco anos, nas mãos do mais jovem premier da curta história independente indiana, Rajiv Gandhi, às voltas, ainda, com pelo menos três fortes movimentos separatistas para sufocar. São 390 milhões de eleitores que, segundo as pesquisas de opinião, deverão lje entregar essa responsabilidade. Sabem o que representa essa cifra? Só de votantes a Índia tem três vezes a população do Brasil! Ou para dar um exemplo mais expressivo, a totalidade dos habitantes da América do Norte (inclusive os EUA), América Central, Caribe e mais a Colômbia de quebra, reunidos. É muita responsabilidade para um jovem de 40 anos!

(Artigo publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular em 27 de dezembro de 1984)


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