Eleição na Índia
Pedro J. Bondaczuk
A
maior democracia do mundo, com 300 milhões de eleitores, está em pleno processo
eleitoral, para a composição do Lok Sabba, ou seja, a Câmara do Povo, integrada
por 544 parlamentares. É tanta gente para votar que o pleito é humanamente
impossível de ser realizado em um único dia, precisando de três para que os
sufrágios sejm colhidos nos 22 Estados e 9 Territórios que compõem esse vasto
país, de 720 milhões de habitantes (o segundo mais populoso do mundo). É claro
que nos referimos à Índia, de tantos contrastes e confrontos, onde se fala por
exemplo, 14 idiomas oficiais. Onde existem 1.600 dialetos de uso corrente e as
diversas etnias são tão variadas que vão desde aborígenes, nas montanhas e
florestas centrais, aos mongóis, no norte montanhoso.
Quanto
mais se estuda a respeito da Índia, menos se entende como uma concentração tão
heterogênea mantém-se relativamente coesa, constituindo uma nação. Diz-se,
freqüentemente, que governar, num sistema realmente democrático, é administrar
conflitos. E estes, pelo exposto acima, é que não faltam ao primeiro-ministro
indiano, que tem que conciliar desde uma renda per capita irrisória de US$ 260
anuais, até inconciliáveis e seculares inimizades, de caráter religioso. Tem
que tentar reduzir uma taxa de analfabetismo de 64% (que já chegou a ser muito
maior) e uma das maiores incidências de mortalidade infantil planetária, de 125
óbitos para cada mil nascimentos.
E
toda essa carga massacrante de problemas, dos quais os assinalados são apenas
alguns, estará, nos próximos cinco anos, nas mãos do mais jovem premier da
curta história independente indiana, Rajiv Gandhi, às voltas, ainda, com pelo
menos três fortes movimentos separatistas para sufocar. São 390 milhões de
eleitores que, segundo as pesquisas de opinião, deverão lje entregar essa
responsabilidade. Sabem o que representa essa cifra? Só de votantes a Índia tem
três vezes a população do Brasil! Ou para dar um exemplo mais expressivo, a
totalidade dos habitantes da América do Norte (inclusive os EUA), América
Central, Caribe e mais a Colômbia de quebra, reunidos. É muita responsabilidade
para um jovem de 40 anos!
(Artigo
publicado na página 11, Internacional, do Correio Popular em 27 de dezembro de
1984)
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