A praxis política de Khadafy
Pedro J. Bondaczuk
O líder líbio, coronel
Muammar Khadafy, sempre caracterizou sua atuação política por palavras e atos
espetaculosos. O leitor certamente ainda está lembrado do incidente que ele
protagonizou no ano passado com o Brasil, quando aviões do seu país, carregados
de armamentos, foram obrigados a descer em Manaus e Recife, num incidente longo
e desgastante para as duas partes em que seu governo teve que acabar cedendo às
evidências. Na oportunidade, Khadafy foi “flagrado” mentindo. Afirmou que os
aviões levavam remédios para a Nicarágua, quando a carga era de armas.
Neste
ano, com ligeiros intervalos, o líder líbio se fez presente com constância no
noticiário e sempre envolvido em atos caracterizados como de terror. Assim foi
no incidente da embaixada do seu país em Londres, quando tiros foram disparados
daquele prédio contra manifestantes contrários ao regime de Tripoli, vindo a
atingir a policial britânica Yvonne Fletcher, causando a sua morte.
O
caso redundou no rompimento das relações diplomáticas entre a Grã-Bretanha e a
Líbia. Pouco depois, o irrequieto coronel era vítima de seus próprios métodos,
ou seja, de um complô, do qual escapou ileso, executando, posteriormente, seus
agressores.
No
incidente de colocação de minas no Golfo Pérsico e Mar Vermelho, seu nome
voltou à baila como sendo o mentor do estranho ato de sabotagem, até hoje não
esclarecido devidamente. E agora Khadafy é acusado pelo presidente egípcio,
Hosni Mubarak (aliás, seu inconciliável inimigo) de estar criando um inédito
“esquadrão da morte”, vejam só, destinado a eliminar chefes de governo de
diversos países, entre os quais o chanceler alemão, Helmut Kohl, o presidente
francês, François Mitterrand e a primeira-ministra Margaret Thatcher.
É incrível
que em pleno século XX ainda exista governante que veja no terrorismo o melhor
caminho para resolver pendências. Entretanto, várias evidências indicam terem
fundamento as acusações do presidente egípcio. Segundo Mubarak, essas
informações foram fornecidas por elementos do próprio esquadrão da morte
enviado ao Egito para executar o ex-primeiro-ministro líbio Abdel Hamid
El-Bakoush, que reside no Cairo desde 1977.
Ele
escapou da morte graças a um truque, armado por policiais egípcios. Esses
fizeram Khadafy acreditar que o “serviço” havia sido executado, ao forjarem uma
foto da pretensa vítima, toda coberta de sangue, evidentemente falsa. Bakoush
conseguiu tapear seus agressores.
Difícil,
em tudo isso, é entender os objetivos do coronel líbio com essas atitudes, que
contrariam todas as normas de convivência internacional e até do simples bom
senso. O falecido ex-presidente do Egito, Anwar Sadat, costumava dizer que
Khadafy não deveria estar governando, mas internado num hospício, por ser uma
pessoa totalmente desequilibrada.
Entretanto,
embora se reprovem, obviamente, as suas ações espalhafatosas (e às vezes
burlescas), na verdade elas não fogem do padrão de insanidade demonstrado por
líderes políticos de maior peso (principalmente das superpotências), que embora
de maneira mais “diplomática” (ou encoberta), tomam atitudes inconcebíveis para
quem pretende o título de estadista. O manual de guerrilha da CIA é uma prova
recente disso, ainda fresca na memória de todos. Portanto, Khadafy tem exemplos
de sobra para imitar...
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 21 de novembro de
1984).
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