Saturday, December 14, 2013

A ignorada ameaça dos vulcões

Pedro J. Bondaczuk

O relatório “Estudo de Pesquisa Climatológica Relacionada com problemas de informações”, elaborado por especialistas em meio ambiente da Universidade de Wisconsin, a pedido da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), com a conclusão de que há evidências de que o Planeta estaria ingressando em nova era “miniglacial”, foi publicado em 1976. Contradisse, todavia, as opiniões de corrente (majoritária) de pesquisadores que entende exatamente o contrário, ou seja, que a Terra está se aquecendo, em vez de esfriar, aquecimento este que seria conseqüência do chamado “Efeito Estufa”. Quem está certo? Quem está errado? Afinal, ambas teses conflitantes são de cientistas que entendem da matéria e não meros palpites de curiosos. Da minha parte, tenho intuição de que há mais probabilidade da Terra esfriar do que esquentar. Ocorre que, nesta questão, não vem sendo levada em conta a silenciosa, mas onipresente, ameaça dos vulcões. Explicarei isso na sequência.

Os dados contidos no relatório enviado à CIA, óbvio, não contêm referências aos desequilíbrios climáticos verificados de 1976 até os dias atuais, e que não foram poucos. Ainda assim, o documento apresenta uma série de argumentos, e de provas (assustadores) que fundamentam suas conclusões. Destaque-se que a última “Era Neoboreal” é recentíssima em termos geológicos. Ocorreu entre 1600 e 1850. Se formos pesquisar dados históricos desse período, notaremos que ele foi caracterizado por uma infinidade de agitações sociais na maior parte do mundo, por extrema pobreza da maioria das populações e por uma espécie de cristalização de castas, ou seja, por profunda divisão de classes.

Em épocas de escassez de recursos, notadamente do mais importante e indispensável deles, o de alimentos, as multidões desfavorecidas é que arcam com as conseqüências, com os ônus decorrentes dessas carências. São ocasiões caracterizadas por concentrações muito maiores de renda em menos mãos. Isso não é novidade para ninguém. Nem é necessário ser sociólogo para chegar a essa conclusão. As chamadas elites ampliam e consolidam seu poder e valem-se de todos os argumentos e instrumentos possíveis e imagináveis de repressão para conservarem, quando não ampliarem, seus privilégios. O pobre torna-se miserável e o rico fica bilionário, ou triliardário, ou sabe-se lá.

A maior aberração climática da Terra de que se tem registro escrito, ocorreu em 1816. E não se tratou de nenhum aquecimento do Planeta, mas exatamente o contrário. Foi descrita pelo (entre outros escritores) bioquímico e autor de ficção científica russo, naturalizado norte-americano, Isaac Asimov, no livro “Escolha a catástrofe” que, a despeito do sombrio título, é todo ele um ato de fé na inteligência e criatividade humana para sobreviver, mesmo que a Terra venha a ser afetada por possíveis, mas improváveis, cataclismos cósmicos (a maioria dos quais mais possíveis na teoria do que no terreno das probabilidades).

O mencionado desequilíbrio climático, o de 1816, teve causa natural, corriqueira até em nosso Planeta, em permanente transformação. Aconteceu como conseqüência da impressionante quantidade de cinzas vulcânicas lançadas à estratosfera pela erupção do vulcão Tambora, situado na atual Indonésia (então colônia ultramarina da Holanda), ocorrida em 1815. O ano seguinte, foi um período muito frio, gélido, congelante. Tanto que 1816 passou para a História como o “ano que não teve verão”. E não teve mesmo. Vários escritores da época registraram esse súbito e duríssimo esfriamento do Planeta, de trágica memória para as pessoas pobres (a imensa maioria da população mundial).

Na região da Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, por exemplo, caiu neve pelo menos uma vez por mês, nos doze meses do ano, inclusive em julho e agosto, época de Verão no Hemisfério Norte, quando os termômetros usualmente registram temperaturas acima dos 30 graus centígrados. A agricultura, óbvio, foi diretamente afetada. Na verdade, foi arrasada. As principais safras dos centros produtores de alimentos foram totalmente frustradas e não tardou, claro, para que se instalasse a fome em diversas partes do mundo. Por isso, 1816 ficou conhecido, também, como o “Ano da Pobreza”. Para o historiador John D. Post, esse caótico período constituiu a “última grande crise na subsistência” notadamente no mundo ocidental. E tudo isso ocorreu principalmente (mas não somente) em decorrência da erupção de um único vulcão! É certo que ela se combinou com rara atividade solar anormal (o que, embora incomum, se verifica com relativa freqüência). Mas a causa principal foi a inusitada atividade do Tambora.


Ocorre que há cerca de 1600 vulcões potencialmente ativos no mundo. A cada ano, cerca de 70 entram em erupção. Vocês já imaginaram se, já não digo a totalidade, mas, digamos, 500 deles entrassem, simultaneamente, em atividade?! Não é uma situação usual, todavia, também não é impossível. Se isso viesse a ocorrer, as cinzas vulcânicas impediriam que os raios solares chegassem até nós e não apenas por um ano ou por dois, mas por décadas. A agricultura se tornaria impossível e a vida na Terra... se não viesse a desaparecer por completo (o que seria muito provável) se transformaria em um pesadelo inigualável. Portanto, mesmo sem desprezar a tese dos que nos alertam para um possível “Efeito Estufa”, que estaria em andamento e esquentaria bastante o Planeta, temo muito mais seu esfriamento, por ser, potencialmente, muito mais provável, dada a ignorada ameaça silenciosa dos vulcões. Ou vocês acham que não?!!

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