Andando na contramão
Pedro J. Bondaczuk
As reformas políticas,
econômicas e sociais que acontecem em parte do Leste europeu, com diferença de
intensidade entre um país e outro, são (e quem viver, verá) irreversíveis.
Basta que qualquer pessoa verifique as estatísticas dos órgãos financeiros
internacionais para verificar não somente a sua necessidade, como sua
indispensabilidade.
Foi
o que disse o soviético Abel Agabengyan, da Academia de Ciências da URSS,
recentemente, quando esteve no Brasil. Seu país tem como alternativa ou o
sucesso da “perestroika”, ou o caos. A Iugoslávia, que nunca foi satélite de
Moscou, saiu na frente com seu projeto reformista, embora essa República
socialista, na verdade uma federação de seis povos, esteja correndo riscos até de
desagregação, com o surgimento de sentimentos nacionalistas entre várias de
suas etnias.
Polônia
e Hungria, por seu turno, escolheram caminhos diferentes para a implantação de
mudanças. Os húngaros ainda se mantêm um tanto cautelosos, no campo político,
talvez se lembrando do massacre soviético de 1956, embora seu Partido
Comunista, numa decisão sumamente ousada, tenha resolvido mudar de nome e
principalmente de programa.
No
entanto, a agremiação pretende ser a condutora das alterações, que fatalmente serão
feitas nesse país. Não aceita dividir a tarefa com ninguém. Já os poloneses
decidiram “virar a mesa” de vez. Entregaram a espinhosa missão de tirar a
Polônia do caos econômico ao primeiro governo não comunista do Leste europeu do
pós-guerra, sob a liderança do jornalista ligado ao Solidariedade, Tadeusz
Mazowiecki.
Na
União Soviética, onde surgiu a idéia de modernizar a sociedade marxista, o
processo, compreensivelmente, desenvolve-se com lentidão. O presidente Mikhail
Gorbachev, ou num ato de sabedoria política, ou até mesmo por intuição, está
abrindo ainda as válvulas que permitam o escape controlado do excesso de
pressão acumulado ao longo de sete décadas de repressão.
A
forma com que ele vem enfrentando a difícil questão dos distúrbios étnicos deve
estar enchendo de inveja os seus colegas Deng Xiaoping, da China, e Erich
Honecker, da Alemanha Oriental. O líder do Cremlin, ademais, está empenhado na
tarefa suplementar de “limpar” o partido dos opositores da “perestroika” e da
“glasnost”, antes de acelerar o processo.
A
despeito de todas as dificuldades que vem enfrentando, porém, temos certeza de
que as mudanças na superpotência marxista são irreversíveis, pois são uma
questão de sua própria sobrevivência. Restarão, na contramão deste momento
histórico, Bulgária, Romênia, Checoslováquia e Alemanha Oriental que, como
todos os que trafegam no lado errado de uma estrada, estão sujeitos ao que a
lógica indica: a uma mortífera colisão ou ao atropelamento, se estiverem a pé.
Ou promovem mudanças de “moto próprio” ou estas acabarão por se impor de uma
forma certamente traumática.
(Artigo
publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 12 de outubro de
1989).
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