Friday, December 20, 2013

Andando na contramão


Pedro J. Bondaczuk

As reformas políticas, econômicas e sociais que acontecem em parte do Leste europeu, com diferença de intensidade entre um país e outro, são (e quem viver, verá) irreversíveis. Basta que qualquer pessoa verifique as estatísticas dos órgãos financeiros internacionais para verificar não somente a sua necessidade, como sua indispensabilidade.

Foi o que disse o soviético Abel Agabengyan, da Academia de Ciências da URSS, recentemente, quando esteve no Brasil. Seu país tem como alternativa ou o sucesso da “perestroika”, ou o caos. A Iugoslávia, que nunca foi satélite de Moscou, saiu na frente com seu projeto reformista, embora essa República socialista, na verdade uma federação de seis povos, esteja correndo riscos até de desagregação, com o surgimento de sentimentos nacionalistas entre várias de suas etnias.

Polônia e Hungria, por seu turno, escolheram caminhos diferentes para a implantação de mudanças. Os húngaros ainda se mantêm um tanto cautelosos, no campo político, talvez se lembrando do massacre soviético de 1956, embora seu Partido Comunista, numa decisão sumamente ousada, tenha resolvido mudar de nome e principalmente de programa.

No entanto, a agremiação pretende ser a condutora das alterações, que fatalmente serão feitas nesse país. Não aceita dividir a tarefa com ninguém. Já os poloneses decidiram “virar a mesa” de vez. Entregaram a espinhosa missão de tirar a Polônia do caos econômico ao primeiro governo não comunista do Leste europeu do pós-guerra, sob a liderança do jornalista ligado ao Solidariedade, Tadeusz Mazowiecki.

Na União Soviética, onde surgiu a idéia de modernizar a sociedade marxista, o processo, compreensivelmente, desenvolve-se com lentidão. O presidente Mikhail Gorbachev, ou num ato de sabedoria política, ou até mesmo por intuição, está abrindo ainda as válvulas que permitam o escape controlado do excesso de pressão acumulado ao longo de sete décadas de repressão.

A forma com que ele vem enfrentando a difícil questão dos distúrbios étnicos deve estar enchendo de inveja os seus colegas Deng Xiaoping, da China, e Erich Honecker, da Alemanha Oriental. O líder do Cremlin, ademais, está empenhado na tarefa suplementar de “limpar” o partido dos opositores da “perestroika” e da “glasnost”, antes de acelerar o processo.

A despeito de todas as dificuldades que vem enfrentando, porém, temos certeza de que as mudanças na superpotência marxista são irreversíveis, pois são uma questão de sua própria sobrevivência. Restarão, na contramão deste momento histórico, Bulgária, Romênia, Checoslováquia e Alemanha Oriental que, como todos os que trafegam no lado errado de uma estrada, estão sujeitos ao que a lógica indica: a uma mortífera colisão ou ao atropelamento, se estiverem a pé. Ou promovem mudanças de “moto próprio” ou estas acabarão por se impor de uma forma certamente traumática.

(Artigo publicado na página 16, Internacional, do Correio Popular, em 12 de outubro de 1989).


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