Saturday, December 14, 2013

Ex-colônias revertem fluxo imigratório


Pedro J. Bondaczuk

O mundo presencia atualmente um fenômeno que ao longo da história caracterizou as civilizações e que após a Segunda Guerra Mundial parecia prestes a acabar: as imigrações. Três grandes ilhas de prosperidade, num imenso oceano de miséria, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, atraem deserdados de toda a sorte, perseguidos políticos, excluídos de seus respectivos sistemas econômicos, esquecidos sociais, que saem em busca de uma nova e incerta oportunidade.

O desmoronamento da ex-URSS e da ex-Iugoslávia e as dificuldades existentes no Leste europeu pós-comunista tendem a acentuar esses deslocamentos em massa, gerando conflitos, reações legais e outras medidas dos que não aceitam dividir a prosperidade que gozam com os que não tiveram competência, ou força, ou sorte ou seja lá o que for para promoverem o desenvolvimento de suas respectivas sociedades.

Migrações e imigrações na Europa nunca foram algo novo. Ocorrem desde o tempo dos homens das cavernas. Tribos inteiras deslocavam-se, então, para locais que melhor atendessem as suas necessidades. Antes de as pessoas aprenderem a erguer as próprias moradias, o "eldorado" procurado eram regiões que possuíam grutas em grande profusão que lhes servissem de abrigo.

Quando o "homo sapiens" (nem tanto) desconhecia a técnica de produzir fogo, a predileção era pela proximidade dos vulcões. Quando essas feras semibroncas obtiveram o primeiro lampejo de suas habilidades e começaram a fabricar armas e ferramentas, a opção passou a ser a vizinhança das pederneiras. E assim sucessivamente, envolvendo beiras de rios para irrigação e fertilização do solo, terras férteis para agricultura e amplas planícies para a criação de animais.

Esse conceito de pátria, de país, de nacionalidade, fruto de um determinismo biológico – ninguém escolhe onde quer nascer, evidentemente – não é tão arraigado (e nem poderia ser) o quanto se pensa. Nações nascem e morrem a todo o instante, pois são projeções, são obras de um ser efêmero que, por mais que deseje se esquecer dessa realidade, nunca escapa da morte.

As imigrações são como o fluxo e o refluxo das marés. A partir de fins do século XV, alguns milhares de europeus partiram para a conquista de novos mundos – no caso as Américas – ou para a reconquista de velhíssimos, Ásia e África, em busca não somente de aventura, mas principalmente para fugir dos cíclicos períodos de fome e de devastadoras epidemias, em especial de peste negra.

Hoje, em parte pelo menos, o processo se dá ao inverso. Africanos, asiáticos e latino-americanos formam comunidades cada vez maiores em continente europeu, especificamente em seu lado ocidental. Os Estados Unidos constituem-se num caso singular. Representam a única sociedade do eufemisticamente chamado Novo Mundo que deu certo, e muito além de qualquer expectativa, a ponto de se tornar o país mais rico, mais influente e mais poderoso do Planeta.

Por isso, é um grande pólo de atração para povos cujas instituições e senso de organização se revelaram frágeis, inadequados, até mesmo inviáveis. A terceira grande ilha de riquezas – no caso um arquipélago – é o Japão, que soube sair das ruínas de uma guerra para uma prosperidade quase ilimitada.

A potência asiática, evidentemente, atrai em especial os desvalidos, os descamisados (o termo está muito em moda), os despossuídos de toda a Ásia, com destaque para vietnamitas, cambojanos e laocianos. Ao contrário do fluxo de imigração da Europa para as colônias, todavia, o refluxo tende a não ser muito pacífico.

No caso europeu, sua cultura era, evidentemente, mais forte do que a das terras para onde seguiam. A recíproca, agora, não é em absoluto verdadeira. O destino dos que chegam à parte enriquecida do continente é o de serem discriminados, explorados, usados para tarefas há cerca de 150 anos destinadas a escravos, quando não simplesmente escorraçados para seus miseráveis lugares de origem.

(Artigo publicado na página 19, Internacional, do Correio Popular, em 12 de setembro de 1991).


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