Desatar o nó
Pedro J. Bondaczuk
O ano começou de forma
terrível para o trabalhador brasileiro, simultaneamente consumidor e
contribuinte, embora desconsiderado como cidadão. A carga tributária, que já
não era das mais leves, se tornou quase insuportável, com a sua elevação, nas
três instâncias: a municipal, a estadual e a federal.
Para
agravar as coisas, os tributos passaram a ser reajustados diariamente, por
indexadores impostos, e nunca pactuados, cuja composição a maioria desconhece,
enquanto os salários têm reajustes plenos apenas a cada quatro meses. E os
preços? O que dizer dos preços?
As
incertezas quanto à aprovação do Fundo Social de Emergência, que ainda tem que
enfrentar um segundo turno num Congresso instável e de fidelidade duvidosa e
uma controvérsia levantada pelo Supremo Tribunal Federal acerca da sua
promulgação, levam os oportunistas a partir para uma estratégia predatória.
Sob
o pretexto da indefinição da entrada em vigor da Unidade Real de Valor, a
complicada URV, os oligopólios criam uma inflação de expectativa. Ou seja,
cobram o quanto querem dos produtos que fabricam ou comercializam. Embutem, é
claro, largas margens de lucros, no afã de drenar ainda mais a já parca renda
do brasileiro.
Não
há nova tabela de preços do atacado que não apresente reajuste mínimo de 50%.
Nem é preciso ser economista ou sociólogo para afirmar que essa atitude, somada
ao novo ciclo de dispensa de empregados, agrava a já gravíssima questão da
miséria no País.
Essa
verdadeira pilhagem ao desprotegido e atarantado cidadão como que neutraliza a
meritória campanha do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, de combate à fome,
com o acréscimo, praticamente diário, de mais um contingente de famintos aos
mais de 32 milhões que existiam no ano passado.
É
como afirmou o presidente do Grupo Cataguazes-Leopoldina, Ivan Botelho: “O País
está vivendo um clima de especulação impatriótica”. Em outras palavras, estão
encolhendo o mercado consumidor interno, quando a prudência e a lógica dizem
que ele deveria ser expandido ao máximo.
Não
contentes em recolher todos os ovos de ouro da galinha que tem o dom de os
botar tão preciosos, agora querem colocar a própria ave na panela. Esse nó
precisa ser desatado logo, pois o que está em jogo não é um mero braço-de-ferro
entre políticos, mas a sobrevivência e o futuro de milhões de brasileiros.
(Artigo
publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de fevereiro de
1994).
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