Sunday, December 01, 2013

Desatar o nó


Pedro J. Bondaczuk


O ano começou de forma terrível para o trabalhador brasileiro, simultaneamente consumidor e contribuinte, embora desconsiderado como cidadão. A carga tributária, que já não era das mais leves, se tornou quase insuportável, com a sua elevação, nas três instâncias: a municipal, a estadual e a federal.

Para agravar as coisas, os tributos passaram a ser reajustados diariamente, por indexadores impostos, e nunca pactuados, cuja composição a maioria desconhece, enquanto os salários têm reajustes plenos apenas a cada quatro meses. E os preços? O que dizer dos preços?

As incertezas quanto à aprovação do Fundo Social de Emergência, que ainda tem que enfrentar um segundo turno num Congresso instável e de fidelidade duvidosa e uma controvérsia levantada pelo Supremo Tribunal Federal acerca da sua promulgação, levam os oportunistas a partir para uma estratégia predatória.

Sob o pretexto da indefinição da entrada em vigor da Unidade Real de Valor, a complicada URV, os oligopólios criam uma inflação de expectativa. Ou seja, cobram o quanto querem dos produtos que fabricam ou comercializam. Embutem, é claro, largas margens de lucros, no afã de drenar ainda mais a já parca renda do brasileiro.

Não há nova tabela de preços do atacado que não apresente reajuste mínimo de 50%. Nem é preciso ser economista ou sociólogo para afirmar que essa atitude, somada ao novo ciclo de dispensa de empregados, agrava a já gravíssima questão da miséria no País.

Essa verdadeira pilhagem ao desprotegido e atarantado cidadão como que neutraliza a meritória campanha do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, de combate à fome, com o acréscimo, praticamente diário, de mais um contingente de famintos aos mais de 32 milhões que existiam no ano passado.

É como afirmou o presidente do Grupo Cataguazes-Leopoldina, Ivan Botelho: “O País está vivendo um clima de especulação impatriótica”. Em outras palavras, estão encolhendo o mercado consumidor interno, quando a prudência e a lógica dizem que ele deveria ser expandido ao máximo.

Não contentes em recolher todos os ovos de ouro da galinha que tem o dom de os botar tão preciosos, agora querem colocar a própria ave na panela. Esse nó precisa ser desatado logo, pois o que está em jogo não é um mero braço-de-ferro entre políticos, mas a sobrevivência e o futuro de milhões de brasileiros.

(Artigo publicado na página 2, Opinião, do Correio Popular, em 11 de fevereiro de 1994).

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