Prevenção é o caminho
Pedro
J. Bondaczuk
O clima da Terra está
mudando. Esse é um ponto pacífico. Há um quase consenso entre os especialistas
a propósito. Trata-se de conclusão tão óbvia, que chega a ser redundante.
Então, quer dizer que a questão está encerrada? Não existe mais nenhuma dúvida
sobre isso, nenhum ponto nebuloso e obscuro sobre as causas e conseqüências
dessas alterações? Bem, as coisas não são tão simples. A única conclusão pouco
contestável (mas não incontestável) é que as mudanças estão ocorrendo. Todavia,
há uma infinidade de incertezas a propósito e, em contrapartida, existem
raríssimas certezas (talvez, mesmo, nenhuma) envolvendo a delicada questão.
A primeira, e mais
importante pergunta, que nenhum especialista é capaz de responder e,
principalmente, de provar, refere-se à natureza dessa alteração no clima.
Afinal, a Terra está esfriando ou esquentando? Nem isso se sabe ao certo. Há
duas correntes de pensamento a respeito, cada qual com argumentos sólidos (ou
que, pelo menos, assim parecem), mas nenhuma com provas irrefutáveis, mas
apenas com evidências que dependem de interpretação. A maioria dos
climatologistas afirma que está em pleno andamento – e que, “talvez”, o
processo já seja irreversível – o que chamam genericamente de “Efeito Estufa”,
com o gradativo aumento da temperatura média do Planeta. Em contrapartida, um
grupo minoritário, porém com inegável credibilidade – como o dos especialistas
da Universidade de Wisconsin, que elaboraram meticuloso relatório a propósito,
em 1976, para a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) –
afirma exatamente o contrário. Assegura que a Terra está em vias de ingressar
em nova “Era Neoboreal”, o tal do “Mínimo de Maunder”, que duraria ao redor de
250 anos, caracterizada por sensível queda da sua temperatura média. Quem está
certo?
Qualquer que seja a
corrente que esteja com razão, as mudanças climáticas, certamente, trarão
conseqüências para todos nós e nenhuma delas positiva. Não se pode ignorar o
que está acontecendo. Compete ao homem, único animal inteligente da natureza,
adotar medidas preventivas para enfrentar a situação, mesmo que ela não seja
muito provável. A tecnologia atual, se tem causado danos ao meio ambiente (e
disso, não restam dúvidas), tem condições de corrigir os desequilíbrios
climáticos e de pelo menos evitar que sejam catastróficos. Meios, portanto,
existem. Resta saber se há vontade política para adotá-los.
A principal questão que
envolve o problema refere-se à produção de alimentos para suprir as atuais sete
bilhões de bocas e às tantas e tantas que ainda estão para nascer. O que não se
pode é cometer os mesmos erros cometidos no passado, quando países
desenvolvidos e previdentes não levavam em conta a existência dos mais carentes
e atrasados, permitindo que morressem à míngua. Em situações críticas, a
solidariedade é fundamental, até por questões práticas, que nada têm a ver com
virtudes, como bondade, altruísmo, piedade e vai por aí afora.
Raciocinemos. Uma
explosão social que ocorresse, por exemplo, no século XVII, ditada pelo
desespero provocado pela fome, era relativamente controlável, pois a população
do Planeta sequer chegava a um bilhão de pessoas. Os transportes eram
precários, as comunicações virtualmente inexistentes e comunidades inteiras,
até de um mesmo país ignoravam o que se passava em partes mais remotas do
próprio território, pois estavam isoladas entre si. Hoje, exatamente por causa
do progresso, problemas desse tipo seriam, no mínimo, decuplicados. O Planeta
“encolheu” em decorrência das facilidades de transporte e de comunicação,
transformando-se, literalmente, em uma aldeia global. Sabe-se de tudo e com uma
velocidade estonteante, quase que simultânea aos fatos.
Caso sobreviesse um
período de fome mundial, em decorrência de perdas expressivas de safras dos
principais produtores de alimentos, menos de um bilhão de pessoas escaparia,
num primeiro momento, dessa súbita e impensável escassez. E o leitor já
imaginou o que pode acontecer em havendo seis bilhões de famintos,
desesperados, ameaçados de morrerem de inanição, movidos pelo instinto de
sobrevivência, à procura de comida a qualquer custo, sem levar em conta coisa
nenhuma do tipo moral, leis ou outra coisa qualquer em toda e qualquer parte do
mundo? O desespero transforma o mais racional, nobre e equilibrado dos seres
humanos em fera, que na verdade é.
E se uma potência
atual, detentora de recheado arsenal nuclear, fosse afetada pela fome
generalizada? O que poderia acontecer? Levaria em conta fronteiras, soberania
ou qualquer lei ou acordo internacional? Claro que não!!! Utilizaria, não tenho
a menor dúvida, seu terrível instrumental de morte e de destruição, no mínimo,
para fazer chantagem sobre quem possuísse os recursos alimentares de que
precisasse. Tomá-los-ia à força, na marra e não haveria quem ou o que a
demovesse disso.
Cabe aos homens
públicos a adoção de medidas preventivas em épocas de abundância e
prosperidade, estocando alimentos para eventuais fases em que a natureza não
seja tão benigna com os homens, como tem sido há já bom tempo. Aliás, esta é
(ou deveria ser) a principal tarefa de um administrador competente. Ou seja,
não somente adotar medidas eficazes e justas para assegurar o presente, mas,
sobretudo, prevenir o futuro. Confúcio, do alto da sua sabedoria, já dizia: “Um
governante eficiente deve dispor de alimentos e de armas suficientes, além da
confiança de todo o povo”.
Ao mesmo tempo, é
indispensável que os países ricos e desenvolvidos prestem periódica (se não
ininterrupta) ajuda aos desfavorecidos (que aliás, salvo exceções, foram fontes
do seu enriquecimento), criando fundos apropriados para tal, assegurando-lhes
pelo menos o mínimo para a sobrevivência. Trata-se de medida preventiva, e óbvia, para evitar fortuitas, incontroláveis
(e sempre catastróficas) explosões sociais. Um problema como esse, o de uma
“epidemia” de fome mundial, ditada pela perda de produção de safras e mais
safras de alimentos, causada por caprichos do clima, afetaria, fatalmente, a
todos, posto que em proporções diversas. Ninguém escaparia totalmente incólume.
É algo para se pensar
se quisermos conservar intacta nossa fragílima e imperfeita civilização.
Porquanto as regras que bem ou mal asseguram o convívio relativamente pacífico
e ordenado entre os povos seriam, fatalmente, subvertidas, face ao fantasma da
fome. E a conseqüência mais do que certa para a humanidade seria lamentável, e
inexorável. Seria o retorno à barbárie ou, quiçá, coisa muito pior: a extinção
da espécie.
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
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