Em defesa da família
Pedro J. Bondaczuk
A terceira visita do papa João Paulo II ao Brasil,
mais especificamente ao Rio de Janeiro, cidade por onde passa pela segunda vez,
é uma excelente oportunidade para os católicos renovarem a sua fé. Tem caráter
eminentemente pastoral e é provavelmente a última que o Pontífice fará ao País,
dada a sua avançada idade.
Por se tratar de uma figura polêmica, desperta
extremos de devoção e de repúdio, neste caso dos que discordam de suas posições
firmes e coerentes a respeito de contracepção, aborto, divórcio e outros
comportamentos incorporados ao convívio social e tidos como normais, embora
condenados pelos dogmas da Igreja Católica (senão pela lógica).
O assunto que traz o Papa de volta ao Brasil é a
preservação da família, dos seus valores e da sua integridade material, moral e
espiritual enquanto célula básica de qualquer sociedade organizada que se
preze. Embora instituição milenar, ela vê-se exposta a riscos e agressões de
toda a sorte nesta virada para o terceiro milênio da Era Cristã.
Polêmicos ou não, os pontos de vista de João Paulo
II devem ser respeitados pelos opositores, dada a sua projeção moral, e
acatados sem discussão pela comunidade católica, que tem nele o seu grande
líder, um dos mais destacados da sua milenar história.
Desde que assumiu o pontificado, há quase 20 anos, o
Papa tem sustentado, com extrema coerência, suas posições, que expõe com
magistral clareza nas várias homilias das missas que tem rezado para
gigantescas multidões, não raro de mais de um milhão de fiéis, nos mais
diversos e heterogêneos pontos do Planeta.
É desnecessário mencionar seu papel histórico, como
inovador em vários aspectos. Como por exemplo o fato de ser o ocupante do trono
de São Pedro que mais viajou pelo mundo (aliás, figura pública alguma, em tempo
algum, esteve em tantos lugares, levando sua mensagem de fé e de esperança).
Não raro, o Papa desafiou o perigo, não de forma
insensata e tola, mas com a coragem dos idealistas, expondo sua integridade
física, indo a lugares onde chefe de Estado algum se atreveria a ir, nas
circunstâncias que foi, notadamente Sarajevo e Beirute, entre tantos outros.
Foi vítima de um atentado em plena Praça de São Pedro, mas isso nunca o
amedrontou.
Rompeu, ainda, a hegemonia italiana no Vaticano,
mantida por quase cinco séculos. Participou diretamente de mediações políticas
bem sucedidas e sua projeção internacional foi decisiva para a democratização
de sua Polônia natal.
Mas a família e a paz foram os temas mais vezes
abordados pelo Papa, sempre com coragem, com coerência, com bom senso e
sobretudo com dignidade. Em um mundo que faz, amiúde, apologia da morte
(inclusive e principalmente nas artes), João Paulo II foi e é um lúcido, um
bravo, um incansável e entusiástico apologista da vida. Só isso já é suficiente
para justificar o título carinhoso que os brasileiros lhe dão: João de Deus.
(Texto escrito em 29 de setembro de 1997 e publicado
como editorial na Folha do Taquaral).
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