Preconceito impede debate
civilizado
Pedro J. Bondaczuk
A
questão árabe-israelense está cercada de tanto preconceito mútuo, de tanto ódio
recíproco, de tamanha desconfiança entre as partes, que é difícil até ao
crítico tocar no assunto objetivamente, para despertar um debate civilizado
acerca do tema, que não provoque iras e ameaças deste ou daquele lado.
Por
isso, a exortação feita pelo presidente George Bush, no discurso da vitória que
proferiu no Congresso norte-americano, na quarta-feira, propondo a solução
definitiva do problema, tende mais uma vez a cair no vazio. Durante algum tempo
a mídia irá publicar pronunciamentos de líderes de várias tendências apoiando
tais conversações.
Uma
polêmica inócua vai circular pelas páginas de jornais e em outros veículos de
comunicação. Depois, tudo voltará a cair no esquecimento, como sempre aconteceu
desde 1948.
Há
um obstáculo básico, fundamental, que impede um diálogo sério, objetivo,
construtivo e sobretudo capaz de trazer resultados sobre a questão, que é o
preconceito. Este, frise-se, é das duas partes. Israel, por exemplo, não quer
nem ouvir falar na possibilidade de se reunir em torno de uma mesa com qualquer
representante da Organização para a Libertação da Palestina, OLP.
Ora,
negociações têm que ser realizadas é com os adversários. Com os amigos, isto é
desnecessário, porquanto é fácil, direto, praticamente imediato o entendimento,
desde que a amizade não seja falsa. Negar voz à OLP, apesar do grupo ter
apoiado Saddam Hussein durante a guerra do Golfo Pérsico, equivale a querer
deixar as coisas como elas estão. EE isto, parece já ser consensual, é algo que
não pode acontecer.
Supondo,
porém, que se consiga extrair algum tipo de solução sem a participação da
organização dirigida por Arafat, o que se fará com seus membros? Será dado
"sumiço" neles? Afinal, eles existem e precisarão ficar em algum
lugar.
Como
resolver a questão básica para dar uma pátria aos palestinos? Situá-los na
Cisjordânia e Faixa de Gaza, como se propõe, seria até uma perversidade. Esses
territórios não têm a mínima condição de sediar campos de refugiados, quanto
mais uma nação que não disponha de recursos financeiros!
Do
que o povo irá viver? De agricultura, se as terras são estéreis? Da indústria,
que nem existe por ali? De petróleo, do qual não há uma única gota? De
retórica, de palavras, de vento ou da caridade internacional?
(Artigo
publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 9 de março de
1991).
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