Thursday, December 26, 2013

Preconceito impede debate civilizado


Pedro J. Bondaczuk


A questão árabe-israelense está cercada de tanto preconceito mútuo, de tanto ódio recíproco, de tamanha desconfiança entre as partes, que é difícil até ao crítico tocar no assunto objetivamente, para despertar um debate civilizado acerca do tema, que não provoque iras e ameaças deste ou daquele lado.

Por isso, a exortação feita pelo presidente George Bush, no discurso da vitória que proferiu no Congresso norte-americano, na quarta-feira, propondo a solução definitiva do problema, tende mais uma vez a cair no vazio. Durante algum tempo a mídia irá publicar pronunciamentos de líderes de várias tendências apoiando tais conversações.

Uma polêmica inócua vai circular pelas páginas de jornais e em outros veículos de comunicação. Depois, tudo voltará a cair no esquecimento, como sempre aconteceu desde 1948.

Há um obstáculo básico, fundamental, que impede um diálogo sério, objetivo, construtivo e sobretudo capaz de trazer resultados sobre a questão, que é o preconceito. Este, frise-se, é das duas partes. Israel, por exemplo, não quer nem ouvir falar na possibilidade de se reunir em torno de uma mesa com qualquer representante da Organização para a Libertação da Palestina, OLP.

Ora, negociações têm que ser realizadas é com os adversários. Com os amigos, isto é desnecessário, porquanto é fácil, direto, praticamente imediato o entendimento, desde que a amizade não seja falsa. Negar voz à OLP, apesar do grupo ter apoiado Saddam Hussein durante a guerra do Golfo Pérsico, equivale a querer deixar as coisas como elas estão. EE isto, parece já ser consensual, é algo que não pode acontecer.

Supondo, porém, que se consiga extrair algum tipo de solução sem a participação da organização dirigida por Arafat, o que se fará com seus membros? Será dado "sumiço" neles? Afinal, eles existem e precisarão ficar em algum lugar.

Como resolver a questão básica para dar uma pátria aos palestinos? Situá-los na Cisjordânia e Faixa de Gaza, como se propõe, seria até uma perversidade. Esses territórios não têm a mínima condição de sediar campos de refugiados, quanto mais uma nação que não disponha de recursos financeiros!

Do que o povo irá viver? De agricultura, se as terras são estéreis? Da indústria, que nem existe por ali? De petróleo, do qual não há uma única gota? De retórica, de palavras, de vento ou da caridade internacional?

(Artigo publicado na página 10, Internacional, do Correio Popular, em 9 de março de 1991).


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