Chance
de reabilitação
Pedro J. Bondaczuk
O seqüestro do jumbo da Kuwait Airways, ocorrido
ontem, trouxe uma situação bastante embaraçosa para o Irã, que busca melhorar a
sua imagem internacional, bastante desgastada nos últimos anos por causa de seu
suposto patrocínio a grupos terroristas xiitas.
Em primeiro lugar, a República Islâmica vem mantendo
relações bastante tensas com o país proprietário do aparelho, tendo, até mesmo,
atacado uma base militar desse emirado na semana passada. Outro detalhe é que
estão a bordo do Boeing seqüestrado três pessoas da família real kuwaitiana, o
que torna a situação ainda mais delicada. Finalmente, o local onde o jato 747
pousou é muito distante do centro de decisão, pois fica a mais de 800
quilômetros de Teerã, nas proximidades das fronteiras com a União Soviética e
com o Afeganistão.
Caso não aja com a diplomacia que o caso requer, e
os terroristas vierem a cumprir a ameaça de explodir a aeronave, toda a
responsabilidade irá recair, fatalmente, sobre o Irã, mesmo que o país não
tenha culpa alguma nesse incidente (como parece não ter).
A Grã-Bretanha já mandou um aviso nesse sentido,
exigindo que a segurança dos seus 22 cidadãos que estão a bordo seja
preservada. O Kuwait, por outro lado, que foi o principal responsável pela
Marinha norte-americana ter se deslocado para o Golfo, deverá fazer um barulho
medonho, se o pior vier a acontecer. E por um motivo óbvio. Afinal, três de
seus príncipes estão entre os reféns.
Mas há, também, um aspecto positivo na questão. Se a
República Islâmica conseguir contornar com perícia essa súbita e inesperada
crise, certamente irá ganhar alguns pontos no conceito mundial. Por isso, Teerã
mandou seu próprio primeiro-ministro, Hussein Musavi, para negociar com os
seqüestradores.
Parte da desconfiança existe em relação aos persas,
de que eles seriam patrocinadores do terror, poderá se dissipar com o êxito
dessas negociações. E isto é muito importante para os iranianos, que enfrentam,
agora, um momento decisivo em sua guerra com o Iraque.
Tanto o fato tem importância que o país já teria
acertado um acordo com a França para restabelecer as relações diplomáticas com
essa potência européia, rompidas desde 17 de julho do ano passado. Os franceses
são grandes fornecedores de armas a Bagdá.
Certamente a República Islâmica acredita ser
possível convencer Paris a não continuar dando esse apoio ao regime do general
iraquiano Saddam Hussein. Ou, quem sabe, até reverter a situação e passar ele,
Irã, a adquirir tais armamentos.
Guerra também se vence com diplomacia, posto que
subterrânea, caracterizada por acordos debaixo do pano. Pode, portanto, ter
sido o destino que colocou esse Boeing no caminho iraniano. É como dizem os
árabes, em seu fanatismo: “maktub”. Ou seja, “estava escrito”.
(Artigo publicado na página 11, Internacional, do
Correio Popular, em 6 de abril de 1988)
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