Agenda carregada
Pedro J. Bondaczuk
A
agenda política do Congresso --- que reinicia as atividades após o recesso de
fim de ano e a convocação extraordinária de janeiro --- está repleta de temas
importantíssimos. Principalmente no que se refere às reformas do Estado
brasileiro.
Vencida
a primeira batalha na Câmara, a emenda da reeleição deixa de polarizar todas as
atenções. Não era sem tempo. Há questões muito mais relevantes e urgentes do
que esta no aguardo de definições. Mas a vida política nacional não gira apenas
em torno do Poder Legislativo. E nem só do Palácio do Planalto.
Alguns
assuntos estão destinados a ocupar as manchetes com grande freqüência no correr
deste ano. Um é a saúde, cujo ministro, Carlos Albuquerque, será certamente
muito cobrado, agora que conta com uma fonte de recursos (embora provisória),
que é o novo imposto do cheque, para adotar medidas que permitam um tratamento
minimamente decente à maioria da população carente.
A
educação também será tema de análises e debates, em especial por causa das
novidades que vêm por aí (o "provão" do segundo grau, por exemplo) e
em decorrência da nova Lei de Diretrizes e Bases. Quanto à segurança pública,
certamente não faltarão cobranças. Todos estão fartos da violência, venha de
onde vier.
Mas
o assunto predominante será a questão agrária. Há tempos o País requer uma
reforma nesse setor, protelada por sucessivos governos, que lançaram mão de
medidas paliativas que nada resolveram. Alguns simplesmente ignoraram os
latifúndios improdutivos e o êxodo dos homens do campo para as cidades e nada
fizeram.
Milhares
de famílias perambulam hoje por este vasto território, acampando às margens de
rodovias e eventualmente invadindo uma ou outra fazenda, para serem
invariavelmente expulsas após a justiça determinar reintegração de posse aos
proprietários. Esse clima de confronto é péssimo para todas as partes.
O
Congresso dotou, no ano passado, o governo do instrumental para uma reforma
agrária profunda, justa, racional, e rápida, ao aprovar o rito sumário nas
desapropriações e outras medidas legais. Resta que este passe a agir, com
tirocínio e imparcialidade.
O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra culpa as autoridades do Instituto
Nacional de Reforma Agrária (Incra) de lentidão no processo de assentamento e
de superestimação do número de famílias assentadas.
Em
alguns lugares do País --- como o sul do Pará, o Rio Grande do Sul e a região
do Pontal do Paranapanema, em São Paulo --- o clima entre agricultores e
fazendeiros é de guerra ostensiva.
Os
dois lados se armam e se preparam para um confronto de resultados certamente
nefastos, levando o ministro da Justiça, Nelson Jobim, a elaborar um plano de
desarmamento no campo. Mas não é de conflitos e revoluções que o Brasil
precisa. Uma reforma agrária ampla, abrangente, competente, dentro da lei e que
reintegre milhões de brasileiros à vida nacional, é a solução que se impõe. A
única.
(Texto
escrito em 17 de fevereiro de 1997 e publicado como editorial na Folha do
Taquaral)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk.
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