Wednesday, December 25, 2013

Pesquisas eleitorais falham

Pedro J. Bondaczuk

As pesquisas de opinião, quando tratam de eleições presidenciais, principalmente as muito polarizadas, com todo o rigor científico que já tenham adquirido, costumam, periodicamente, dar enormes "furos". O caso mais citado tem sido o das norte-americanas de 1948. Nesse ano, todas as prévias, até às vésperas da votação, vinham sendo lideradas, amplamente, pelo republicano Thomas E. Dewey. No entanto, o vencedor foi Harry Trumann, que desta forma conquistou um mandato só seu, já que havia assumido o anterior na qualidade de vice de Franklin Delano Roosevelt, falecido no exercício do poder.

E neste fim de semana, mais uma vez, esse tipo de consulta voltou a falhar, desta feita num pequeno e empobrecido país da América Central: a Nicarágua. Todas as pesquisas de opinião, e feitas por institutos norte-americanos e não nicaragüenses, apontavam o atual presidente sandinista, Daniel Ortega, como franco favorito. Isto o leitor pôde constatar em jornais, noticiários de rádio e de televisão.

Não passava pela cabeça de ninguém que a opositora, Violeta de Barrios Chamorro, pudesse ter sucesso nas referidas eleições. Alguns editorialistas, inclusive, disseram que o ostensivo apoio dos Estados Unidos à sua candidatura era o grande fator que lhe tirava qualquer chance. Mas "a voz das urnas" disse algo diferente. O eleitorado da Nicarágua desmentiu todas as previsões e consagrou a viúva do jornalista Pedro Joaquin Chamorro Cardenal, assassinado em 1978 a mando do ditador Anastasio Somoza, como a grande vencedora do pleito de anteontem.

Sua trajetória política apresenta algumas semelhanças e certas diferenças em relação a uma outra mulher que governa um país também de língua espanhola, igualmente problemático, só que situado na Ásia e com população 20 vezes maior do que a nicaragüense. Referimo-nos a Corazón Aquino, das Filipinas. Ela também teve o marido, Benigno Aquino, assassinado por um ditador, no caso Ferdinand Marcos. Igualmente aceitou o desafio de colocar em prática os ideais do cônjuge.

Mas sua eleição, em fevereiro de 1986, foi contestada. Por causa disso, teve que suportar seis tentativas de golpe militar em menos de quatro anos. Chamorro, pelo contrário, foi companheira no passado do seu adversário de agora. A revolução sandinista foi iniciada após o assassinato do seu marido, sendo uma espécie de reação, da "derradeira gota" que deflagrou a ira popular contra a ditadura somozista.

Mas sua vitória eleitoral foi revestida de toda a lisura que se possa imaginar. Tomara que o seu destino seja melhor do que ode Corazón Aquino, já que os problemas que tem pela frente são infinitamente menores (embora também graves) do que os de sua colega filipina.

(Artigo publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 27 de fevereiro de 1990)


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