Pesquisas eleitorais falham
Pedro J. Bondaczuk
As
pesquisas de opinião, quando tratam de eleições presidenciais, principalmente
as muito polarizadas, com todo o rigor científico que já tenham adquirido,
costumam, periodicamente, dar enormes "furos". O caso mais citado tem
sido o das norte-americanas de 1948. Nesse ano, todas as prévias, até às
vésperas da votação, vinham sendo lideradas, amplamente, pelo republicano
Thomas E. Dewey. No entanto, o vencedor foi Harry Trumann, que desta forma
conquistou um mandato só seu, já que havia assumido o anterior na qualidade de
vice de Franklin Delano Roosevelt, falecido no exercício do poder.
E
neste fim de semana, mais uma vez, esse tipo de consulta voltou a falhar, desta
feita num pequeno e empobrecido país da América Central: a Nicarágua. Todas as
pesquisas de opinião, e feitas por institutos norte-americanos e não
nicaragüenses, apontavam o atual presidente sandinista, Daniel Ortega, como
franco favorito. Isto o leitor pôde constatar em jornais, noticiários de rádio
e de televisão.
Não
passava pela cabeça de ninguém que a opositora, Violeta de Barrios Chamorro,
pudesse ter sucesso nas referidas eleições. Alguns editorialistas, inclusive,
disseram que o ostensivo apoio dos Estados Unidos à sua candidatura era o
grande fator que lhe tirava qualquer chance. Mas "a voz das urnas"
disse algo diferente. O eleitorado da Nicarágua desmentiu todas as previsões e
consagrou a viúva do jornalista Pedro Joaquin Chamorro Cardenal, assassinado em
1978 a mando do ditador Anastasio Somoza, como a grande vencedora do pleito de
anteontem.
Sua
trajetória política apresenta algumas semelhanças e certas diferenças em
relação a uma outra mulher que governa um país também de língua espanhola,
igualmente problemático, só que situado na Ásia e com população 20 vezes maior
do que a nicaragüense. Referimo-nos a Corazón Aquino, das Filipinas. Ela também
teve o marido, Benigno Aquino, assassinado por um ditador, no caso Ferdinand
Marcos. Igualmente aceitou o desafio de colocar em prática os ideais do
cônjuge.
Mas
sua eleição, em fevereiro de 1986, foi contestada. Por causa disso, teve que
suportar seis tentativas de golpe militar em menos de quatro anos. Chamorro,
pelo contrário, foi companheira no passado do seu adversário de agora. A revolução
sandinista foi iniciada após o assassinato do seu marido, sendo uma espécie de
reação, da "derradeira gota" que deflagrou a ira popular contra a
ditadura somozista.
Mas
sua vitória eleitoral foi revestida de toda a lisura que se possa imaginar.
Tomara que o seu destino seja melhor do que ode Corazón Aquino, já que os
problemas que tem pela frente são infinitamente menores (embora também graves)
do que os de sua colega filipina.
(Artigo
publicado na página 12, Internacional, do Correio Popular, em 27 de fevereiro
de 1990)
Acompanhe-me pelo twitter: @bondaczuk
No comments:
Post a Comment